Gabriell Neves rompe o silêncio

Exonerado sob a suspeita de comandar um esquema milionário de contratação de produtos e serviços sem licitação durante a pandemia do coronavírus no Estado do Rio de Janeiro, o ex-subsecretário estadual de Saúde Gabriell Neves rompeu o silêncio e atribuiu ao secretário Edmar Santos a responsabilidade pelos acordos que já passam da casa de R$ 2 bilhões e vêm sendo colocados sob suspeição pela Assembleia Legislativa, Ministério Público Estadual e Tribunal de Contas do Estado (TCE). “As compras eram determinadas pelo secretário Edmar ou com anuência dele. Outras pessoas também poderiam, eventualmente, demandar uma necessidade. Mas tudo era feito em consonância com o secretário. Ele avalizava o que era solicitado pelos quadros técnicos”, disse o advogado em entrevista concedida ao repórter Cássio Bruno, da revista Veja.

Os esclarecimentos de Neves vão de encontro aos questionamentos que vinham sendo feitos, inclusive pelo CORREIO DA MANHÃ, de que um nome do segundo escalão da administração não teria autonomia para validar negócios dessa natureza. No entanto, ele foi o único gestor a atrair para si as suspeitas de corrupção no episódio. O governador Wilson Witzel (PSC) afastou o advogado do cargo e determinou à Polícia Civil que investigasse o caso.

Neves centralizava todas as compras realizadas pela Secretaria de Saúde, outra pasta sob a influência do Pastor Everaldo Pereira, cacique maior do PSC – o partido do governador. Os contratos fechados por Neves na pasta da Saúde estavam relacionados, principalmente, à compra de respiradores, máscaras e testes rápidos para detectar o Covid-19. As primeiras denúncias contra o subsecretário partiram do jornalista Ruben Berta em seu blog.

Em sua entrevista à Veja, Neves insiste que se amparou na lei federal 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, que permite compras emergenciais sem concorrência pública em função do coronavírus. “Há uma diferença de preços estratosférica. Teve um momento que a proposta era oferecida de manhã e, à tarde, não valia mais. Equipamentos que, antes da pandemia custavam 50 mil reais, hoje custam 220 mil reais no preço médio de mercado. Talvez isso dê a impressão de sobrepreço, o que não é verdade. Nunca houve tentativa de corrupção da parte de ninguém”, alegou Neves à revista.

A maior parte dos recursos – 836 milhões de reais – está destinada à Organização Social (OS) Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) para a implementação de 1.400 leitos em hospitais de campanha. Mesmo proibido pela Prefeitura do Rio de participar das licitações no âmbito do município por suspeita de irregularidades, o Iabas teve o aval de Neves para prestar o serviço ao governo Witzel.

Na semana que antecedeu a exoneração de Neves, Witzel demitiu a subsecretária estadual de Gestão da Atenção Integral à Saúde, a médica Mariana Tomasi Scarduva. Mariana é conhecida nos bastidores por seu perfil técnico e que teria sérias discordâncias com os métodos de Neves. “Ele (Witzel) precisava apurar (as suspeitas de irregularidades). E nada mais justo que sem a minha presença. Talvez tenha faltado clareza ao secretário de Saúde na medida em que essas ações (relacionadas aos contratos emergenciais) eram questionadas”, afirmou Neves.