O vírus do vandalismo e do abandono no Rio

Movimento faz triste relato durante o isolamento social

Por: Ive Ribeiro

A pandemia do novo coronavírus, que forçou medidas de isolamento social para restringir o movimento nas ruas, tem reflexos que vão além dos milhares de casos confirmados com a doença. O rico patrimônio do Rio sofre cicatrizes que serão difíceis de serem curadas.

Com as vias públicas desérticas, o número de patrimônios históricos vandalizados aumenta a cada dia. A observação foi feita pelo movimento Brigadistas do Patrimônio, que foi criado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepc), e visa fiscalizar e denunciar atos de vandalismo e furtos em praças, estátuas e prédios históricos da cidade do Rio.

Além do vandalismo, o movimento fez outro triste relato sobre a situação da cidade. Acontece que a população em situação de rua, que antes sobrevivia às custas de doações e esmolas de comerciantes e transeuntes, principalmente no Centro da Cidade, está à mercê da sorte. Ou da falta dela.

Os Brigadistas do Patrimônio revelam: “A população em situação de rua, tal como todos nós, vive os piores momentos de suas vidas. Hoje encontrei pedintes nas ruas com lagrimas nos olhos e sofrimento nas almas. Famílias inteiras com avós, filhos, netos e até cachorros estão nas praças e nos cantos da cidade. Na Glória, cheguei a ver barracas de camping ocupadas por moradores de rua. Eu vejo esse problema como da sociedade e não exclusivamente de quem está nessa situação”, relata em texto.

Isso apesar da prefeitura ter aberto o sambódromo para abrigar os moradores de rua durante a pandemia.

“O espaço adaptado no sambódromo tem dado muito certo. A maioria das pessoas em situação de rua entendeu o quanto esse vírus pode ser perigoso e que esta é melhor forma de combatê-lo. Os acolhidos têm espaço para realizar a higiene pessoal de forma adequada, além de receber toda assistência da equipe da SMASDH", explicou a secretária de Assistência Social, Tia Ju.

Em rondas feitas pelo movimento neste mês, foi observado que o Prédio do Automóvel Clube do Brasil, o antigo Cassino Fluminense, teve sua parte interna colapsada. “Telhado e pisos ruíram, como se fosse uma implosão. Estamos trabalhando na reocupação dele desde junho de 2019 e estávamos perto de conseguir uma grande entidade que pudesse adota-lo e fazer um Termo de Cessão, até que chegou o coronavírus e interrompeu essa tratativa. Agora com seu colapso interno, será mais difícil achar a solução”.

Na Praça Tiradentes, o monumento dedicado a D. Pedro I foi pichado. Já na Rua Primeiro de Março, as Igrejas de Santa Cruz dos Militares estão tendo suas portas seculares sistematicamente vandalizadas e as "saias" protetoras de metal estão sendo uma a uma arrancada, relata também o movimento.

Na Travessa do Comércio e na Rua dos Mercadores, vários imóveis estão sendo arrombados e seus materiais construtivos furtados. Inclusive a Casa de Carmem Miranda foi recente alvo de invasão. Casos registrados também nos monumentos da Praça Paris e do Marechal Deodoro.

“Será realmente necessário que todos os órgãos gestores junto à sociedade civil pensem numa equação para mitigar ou impedir que esses danos continuem na proporção que vimos”, dizem os Brigadistas, que ao final do triste passeio fizeram um registro de ocorrência em uma delegacia.

Quem tiver informações e quiser colaborar com o movimento, pode ligar ou enviar mensagens pelo número (21) 98913-1561, que funciona em regime de 24h. Na próxima semana, a vistoria dos patrimônios será feita novamente no Centro e também na Zona Sul da cidade.

A multa para quem danificar patrimônio público varia entre mil e R$1 milhão, de acordo com a lei municipal de 2019.