Acusado de pagar propina por Rio-2016, empresário tem acordo nos EUA

Por Italo Nogueiro (Folhapress)

O empresário Arthur Cesar de Menezes Soares Filho tem um acordo de colaboração firmado com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos que trata da acusação de pagamento de propina a membros do COI (Comitê Olímpico Internacional).

Foi este contrato, ainda não homologado na Justiça norte-americana, que permitiu sua liberação quando detido no serviço de imigração de Miami. Ele foi renovar documentos para a permanência no país, mas esqueceu-se de apresentar o acordo que autorizava a atualização dos papéis.

Arthur foi detido quando os agentes do serviço verificaram que havia um alerta da Interpol para sua prisão. O empresário é considerado foragido da Justiça brasileira desde setembro de 2017. Após a apresentação dos documentos, foi liberado no mesmo dia.

A existência do acordo foi noticiada pelo jornal O Globo na manhã desta segunda-feira (28) e confirmada pela reportagem.

A Folha apurou que o acordo trata de lavagem de dinheiro. Esclarece as condições da transferência de US$ 2 milhões feita por Soares à empresa de Papa Masata Diack, filho de Lamine Diack, membro do COI e ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo.

O advogado Nythalmar Dias Filho, que defende o empresário, não comentou a existência do acordo. Disse que seu cliente foi detido "equivocadamente por não portar a documentação necessária para renovação do seu visto".

"Ressaltamos que as providências burocráticas já foram tomadas e que Arthur será liberado, dada a sua regular situação naquele pais", disse o advogado.

Rei Arthur, como é chamado, é réu em duas ações penais relacionadas ao esquema de Sérgio Cabral, apontado como pagador de propina para o ex-governador. Entre as acusações está o pagamento de US$ 2 milhões a membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016.

Ex-dono do grupo Facility, Soares era um dos maiores fornecedores de mão-de-obra terceirizada na gestão Cabral. Suas empresas receberam quase R$ 3 bilhões dos cofres estaduais na gestão do ex-emedebista.

Denúncia do Ministério Público Federal afirma que ele pagou ao menos R$ 27,7 milhões em propina a Cabral.
O ex-governador confessou em interrogatório ao juiz Marcelo Bretas que pediu a Rei Arthur para que depositasse US$ 2 milhões em contas da empresa do senegalês Papa Masata Diack, filho de Lamine Diack, membro do COI e ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo. 

O valor foi abatido da propina devida pelo empresário, disse Cabral. O pagamento foi feito por meio de uma empresa de Soares nas Ilhas Virgens Britânicas.

O ex-governador afirmou que foi o ex-presidente do COB (Comitê Olímpico Internacional), Carlos Arthur Nuzman, quem sugeriu o pagamento da propina a Lamine. Eles temiam não passar da primeira rodada de votação das cidades-candidatas.

"Ele chegou com o Leo Gryner [ex-diretor do COB e também acusado]. 'Olha governador, nós temos todas as chances de ganhar. Fizemos uma campanha bonita, os três níveis de governo envolvidos. O presidente da federação internacional de atletismo, Lamine Diack, se abre para vantagens indevidas. Fizemos contato com ele. E há uma garantia de cinco a seis votos. E eles querem US$ 1,5 milhão'", relatou Cabral.

O emedebista relatou que Nuzman e Gryner o procuraram depois pedindo mais US$ 500 mil a fim de garantir até nove votos. Foi neste momento que Cabral diz ter indicado Soares como o responsável por realizar os pagamentos.

Quatro cidades eram candidatas na eleição de 2009 (Rio, Madri, Tóquio e Chicago). A vitoriosa seria escolhida por eliminação. A cada rodada de votação, a cidade menos marcada é retirada da disputa, iniciando nova votação.

Na primeira, a cidade brasileira teve 26 votos, enquanto a norte-americana foi eliminada com 18. Caso a candidatura carioca tivesse perdido os até nove votos supostamente comprados para a concorrente, a cidade não teria passado.

Após a primeira rodada, o Rio manteve larga vantagem sobre as demais, tendo atraído os votos dos eleitores das cidades eliminadas. Na última votação, superou Madri com 66 votos, contra 32 da cidade espanhola.

"Era fundamental ter a garantia desses votos [na primeira rodada]. Depois foi a política. A política com 'p' minúsculo na primeira fase e a com 'p' maiúsculo na segunda e terceira fases", disse Cabral.

Nuzman e Gryner negam ter intermediado a compra de votos.