‘Minha afinidade com o PSC é por ser um partido cristão, que prega o amor ao próximo’

Por Claudio Magnavita

CM: Gostaria de falar sobre o lado feminino da campanha. Nesta série para o Correio da Manhã começamos por entrevistar as mulheres candidatas. Temos quatro candidatas à Prefeitura do Rio. Está na hora do Rio ter uma prefeita?

A mulher já tem capacidade de administrar desde a casa. O Rio de Janeiro só tem a ganhar com uma mulher à frente. Nós temos olhares diferentes para determinados temas, uma sensibilidade maior.

CM: Você tem uma carreira como juíza e resolveu ir para a política. Como fica essa vocação? Qual o motivo de você ingressar na política e se desligar de uma carreira que é almejada por muitos, pois poucas pessoas conseguem passar no concurso e a magistratura forma uma elite dentro do sistema judicial brasileiro?

Bom, eu sempre entendi e noticiei que a vida é cíclica. Cada um de nós passa por diversos ciclos na vida e eu entendi que meu ciclo na magistratura se encerrou a partir do momento em que comecei diariamente a perceber as fragilidades das pessoas.
Durante 23 anos de carreira, as pessoas batiam à minha porta através desse grande fenômeno da judicialização das causas mais básicas, para pedir a garantia e efetividade dos seus direitos.
Nós falamos sobre saúde, sobre educação, a gente fala sobre primeiro emprego do jovem aprendiz. Então comecei a perceber que essas fragilidades começaram a me incomodar. A partir disso eu percebi que o meu espaço na justiça era um espaço limitado, porque eu conseguia transformar a realidade apenas das pessoas que tinham acesso à justiça através da defensoria pública ou de um advogado. Comecei a pensar nas pessoas que sequer tinham esse acesso, apesar de entender que nossa sociedade é uma sociedade inclusiva. A verdade é que existe uma quantidade de pessoas que não conseguem seus direitos mais básicos.
Então foi justamente por amor a essas pessoas, pela vontade de continuar transformando cada vez mais a realidade não só de 1200 pessoas, porque eram mais ou menos aquelas pessoas que batiam a minha porta, mas objetivando transformar a vida de 6 milhões e 700 mil cariocas que eu decidi encerrar esse ciclo na magistratura, do qual eu tenho muito orgulho, e vir para o espaço da política fazer aquilo que eu sempre fiz, me relacionar, construir pontes de diálogo , impactar a vida das pessoas.
Eu sou bastante feliz porque agora, no espaço da política, pela experiência profissional que já tenho, porque administrei a miséria alheia e as demandas mais básicas das pessoas, tenho muito a contribuir com a cidade do Rio de Janeiro e com a vida desses cariocas que nunca foram ouvidos, que nunca foram enxergados.
Eu sempre disse que nós vivíamos um momento das síndromes dos olhos secos, nós não chorávamos mais com as mazelas das pessoas, e somente uma pequena parcela conseguia ter os seus direitos mais básicos.
Então me compadeci com toda essa dificuldade e entendi que a politica é o melhor espaço para que eu possa realizar isso.

CM: Sendo eleita prefeita, você vai ter o comando da área da saúde do Município, que é a assistência básica. Como você vê o descumprimento por parte das autoridades de saúde das ordens judiciais? Ou seja, existem centenas de ordens de internação, de atendimento, inclusão e UTI.

Hoje, recorrer a justiça virou quase um desdobramento natural para ter um atendimento básico.

CM: Qual parte dessas ordens não são cumpridas? Como você vê esse descumprimento pelas autoridades?

Eu vejo como um total desrespeito, não só com o judiciário, mas acima de tudo um total desrespeito com o cidadão.
Na verdade, as pessoas não deviam ter que ir ao judiciário para demandar essas questões que são tão básicas. São direitos fundamentais, a saúde é um direito fundamental, essencial e precisa ser exercido imediatamente.
O descumprimento das autoridades municipais e das estaduais também é lamentável.
Eu venho para política, para o espaço da administração pública, para o espaço da realização da política pública justamente para evitar não só o descumprimento das ordens judiciais.
Principalmente porque eu trabalhei no plantão noturno durante alguns meses e vi situações absurdas.

CM: Você sentiu na pele o desespero das pessoas né?

Sim, é uma falta de respeito com o cidadão. Então a gente verifica na realidade um estado, o ‘’Estado’’, no sentido de organismo, que violenta o cidadão duas vezes. Violenta a primeira vez porque as pessoas precisam ir para o plantão noturno, e violentam a segunda vez porque não cumprem a ordem judicial.
Então o que nós precisamos, não só na área da saúde, mas em todas as áreas, é de uma gestão! Uma gestão qualificada, uma gestão técnica e humanizada, que faça o acolhimento do cidadão que tem direito a essa atenção básica e também todas as atenções, ou seja, que tem direito a saúde.
Eu entendo que independentemente de uma gestão através da Rio saúde ou organização social, nós precisamos estabelecer um compromisso de transparência, de uma saúde humanizada para que a sociedade possa ter esse direito básico próximo de si.
A gestão é o caminho para que todas essas mazelas sejam extirpadas da nossa sociedade nesse momento.

CM: Eu gostaria de entrar no aspecto político. Por que a escolha do PSC como legenda? Há uma identidade programática? Por que o PSC?

Olha, durante 23 anos de carreira na justiça, e a gente pode falar de 30 anos de serviço, porque eu era advogada antes de ser juíza e hoje continuo na advocacia, a gente percebe que eu lutei para que as crianças, digamos assim... pelo que o ser humano tem de melhor que é o amor.
Entendo as premissas básicas do partido, que são a favor da vida, da dignidade, da inclusão social, o respeito à família que são fundamentais dentro desse universo e desenvolvimento humano.
Por isso a minha afinidade com o PSC, que é um partido cristão que prega a criminalização do aborto, a solidariedade e os princípios básicos de cidade, sociedade harmônica e feliz e que, sobretudo, deve amar o próximo.

CM: Nós temos hoje como governador em exercício o filiado ao PSC, Cláudio Castro. Você espera o apoio do governador na sua campanha?

Eu espero, em primeiro lugar ,que o governador em exercício, o tenha condições de exercer o seu papel de gestor público. E precisa ser um papel que venha a resgatar a dignidade das pessoas,. Então eu espero muito que ele consiga desenvolver o seu papel o mais rápido possível e virar essa pagina triste da cidade do Rio de Janeiro e dos municípios de um modo geral.
O apoio que eu espero é de toda a população. Eu acho que o candidato não escolhe apoiador, ele necessita do apoio do governador, do presidente.

CM: Mas ter o apoio do governador é natural né?

Apoio tem que vir de todos os lados, todas as pessoas que queiram apoiar o projeto da Glória Heloiza enquanto candidata a prefeita da cidade do Rio de Janeiro serão muito bem-vindas. Nós não escolhemos apoiadores, eles é que nos escolhem.

CM: Você vai ter uma reunião de trabalho com ele para apresentar suas propostas ao governador?

Acho que as propostas de governo são apresentadas a todos , não só dentro do nosso partido, mas elas estão a disposição de todos e isso é natural, conversa partidária a respeito do nosso plano de governo é natural. Mas eu quero deixar claro que todas essas conversas são internas e externas, que a população inclusive tem acesso a todo o nosso plano de governo e as conversas e os diálogos sempre serão bem-vindos, independentemente da posição que estamos ocupando.

CM: Uma vez, conversando com o governador Wilson Witzel, ele me disse que Glória Heloiza iria ser eleita no primeiro turno e que confiava muito na sua candidatura, como você vê esse engajamento de Witzel? E principalmente, como você vê esse modelo que foi o modelo dele? O juiz que deixa a magistratura e se elege governador sendo reeditada agora com a juíza que deixa a magistratura e se candidata à Prefeitura pelo mesmo partido?

Primeiro eu quero deixar claro que não é a mesma coisa, não é a mesma situação, não é o mesmo projeto, porque não é a mesma pessoa.
Meu nome é Glória Heloiza e eu tenho um modo de trabalho diferenciado. Eu vim da parte mais social da justiça como lhe falei. Durante muito tempo, procurei dar dignidade à população, construindo e garantindo os seus direitos mais básicos.
Então o processo não é o mesmo. É muito diferente. A diferença começa por eu ser uma mulher e ter uma visão muito diferente da dele em relação a política e aos objetivos que vão construindo a nossa plataforma de governo.
O que eu percebo é que neste momento muitas pessoas, não só o governador, me deram apoio, independentemente inclusive das suas filiações partidárias.
Apoio e entusiasmo ocorreram independentemente da minha filiação partidária ao PSC, esse apoio veio de diversas pessoas que acreditam na missão da Glória Helozia que é sempre essa missão de transformar pessoas.

CM: Eu não gostaria de encerrar essa parte mais política sem uma pergunta que é natural você estar preparada para responder, que é o fato de o presidente do seu partido, através da denúncia do Edson Torres, estar em meio a um turbilhão. Inclusive ele está hoje preso pela Justiça. Como você, que vem do judiciário e que vem de uma carreira como juíza, vê essa situação? Lhe causa algum constrangimento você ter o presidente do seu partido hoje na cadeia?

Eu não tenho nenhum tipo de constrangimento, até porque entendo que o partido é feito por diversas pessoas que na verdade tem as suas responsabilidades próprias.
Lamento a situação que efetivamente o presidente do partido vem enfrentando, mas pelo Rio de Janeiro eu entendo que todas essas questões têm que ser muito bem esclarecidas e a justiça fará o seu papel.
Portanto, do meu ponto de vista, cada um vai ser responsabilizado pelos seus atos. É assim na família. Eu tenho três irmãos, nós tivemos a mesma criação, o mesmo pai e a mesma mãe, mas cada um de nós tem a sua responsabilidade.

CM: Mas não tem nenhum preso, não é?

De jeito nenhum! É bom deixar claro que eu não tenho nenhum tipo de problemas. Como você mesmo disse, eu tenho legado sólido. O meu legado de vida é solido e é isso que eu venho compartilhar com a população.
Eu tenho uma família muito bem estruturada, e tudo aquilo que eu penso e sou, eu só penso e só sou porque tive uma base familiar muito sólida. Minha mãe e meu pai me ensinaram a trilhar o meu caminho e ser protagonista da minha vida.
Eu lamento não só que o presidente do partido, mas todos os outros autores, inclusive os de outros espaços da política, estejam nessa situação. Eu confio muito na justiça e no papel dela que vai saber dar a resposta que a população espera.

CM: E preservando o direto de defesa dele certo?

Sim

CM: Caso seja eleita na cidade, como você vai assumir em meio a uma pandemia do coronavírus que já matou tanta gente?

Assumir com muita vontade, muita garra e muita determinação. Eu entendo que a única vacina que já existe, e é possível para resolver a questão da pandemia, é o amor. Com os cariocas juntos, nós vamos conseguir melhorar a cidade do Rio de Janeir, enfrentando os seus problemas como têm que ser enfrentados: com determinação e vontade. A maior vacina que vai, efetivamente, ser a base do meu governo, vai ser a vacina do amor e da solidariedade, através do diálogo. Esse é o sentimento capaz de acabar com as mazelas e construir uma cidade melhor.

CM: Ainda falando sobre pandemia, como conciliar, na sua opinião, a retomada econômica com as medidas restritivas contra aglomeração que vem dos órgãos de saúde?

Eu acho que essas medidas, aliás todas as medidas de barreira sanitária, precisam ser realizadas nas duas pontas. A sociedade precisa assumir o seu papel de corresponsável e aderir essas medidas sanitárias e administração.
E o governo municipal precisa tomar todas essas precauções e estabelecer protocolos, mas exequíveis, para que possamos retomar nossa economia, e, por exemplo, estabelecer a valorização da força criativa. E quando nós falamos de força criativa, temos que abrir espaço para economia criativa através da indústria da cultura, do turismo.
Para que tudo dê certo e para que as pessoas tenham saúde, efetivamente todos os empresários, todas as pessoas que nós precisamos na realidade trazer para o nosso espaço, venham a ter certeza de que nós teremos a capacidade de gerar emprego e renda, nós precisamos dessa conscientização da população.
O que precisamos neste momento é tirar as incertezas que circulam nossa vida, a incerteza social, a incerteza econômica, a incerteza jurídica e trazer para o nosso espaço todos aqueles que vão, com amor, construir uma nova cidade virando essa página de desigualdade e dificuldade.

CM: Falando de segurança, como acha que o Município pode ajudar o Estado nessa missão duríssima que é cuidar da segurança do Rio de Janeiro?

Bom, eu sempre disse que o Município pode ser protagonista dentro da política pública de segurança. O Rio de Janeiro é uma cidade vocacionada para encontros. Nós temos espaços e precisamos fazer com que a cidade se torne o quintal da nossa casa se a segurança se tornar no ponto de vista... Visível! Se o sentimento de segurança for capaz de atrair pessoas para esse espaço de encontros, nós vamos conseguir viabilizar esse sentimento que todos nós queremos.
Eu acho que a Guarda Municipal é a grande ferramenta junto com a Segurança Presente, que pode, nessa atuação primária promover esse sentimento.
Então o conceito, inclusive pelo Pnud, é um conceito de segurança cidadã, não é só uma questão do estado, é uma questão que precisa ser resolvida com um diálogo entre Município, o Estado, o Governo Federal, Ministério Público e cidadão.
O que nós precisamos é justamente fortalecer a Guarda Municipal, equipá-la melhor, fazermos plano de carreira. A questão do armamento ou não é precisa ser resolvida com a sociedade de uma vez por todas. Esse eco de se tornar armado ou não, mas muito mais do que se tornar armado, para emitir esse sentimento de segurança o que nós precisamos fazer é tornar a guarda municipal mais independente e fazer com que ela possa atuar nos espaços onde essas industrias , do turismo e da cultura possam gerar mais empregos.
Então, nós vamos pegar a Guarda Municipal e vamos fazer com que ela atue nesse segmento primário de prevenção, e vamos deixar para as polícias o segmento da repressão dos delitos e da criminalidade.
Portanto, fortalecendo a Guarda Municipal nós vamos conseguir passar esse sentimento de segurança, fazendo com que a Guarda Municipal deixe somente de fiscalizar posturas municipais. Ela precisa ser valorizada e empoderada e eu tenho certeza que, dessa forma, vamos conseguir promover a segurança que todos nós queremos.
As pessoas precisam deixar de ter medo de ir para as ruas. Não é só podar as árvores, não é só iluminar as praças e as ruas. É fazer com que cada cidadão tenha próximo de si um agente de segurança, e, nesse caso, um Guarda Municipal à nossa disposição, à disposição de todos os cariocas.
Dentro desse segmento de prevenção, ao lado do Segurança Presente, que é da Polícia Militar e é um segmento do governo estadual, essas duas frentes trabalhando na prevenção vão certamente contribuir para essa sensação de segurança que todos nós queremos.

CM: Candidata, quais são os seus planos para as pessoas mais pobres da cidade? Como o município pode se aproximar das camadas mais humildes do Rio de Janeiro?

Bom, eu sempre me aproximei das camadas mais humildes da cidade do Rio de Janeiro e a gente sabe que, por exemplo, dentro desses 6 milhões e 700 mil habitantes, mais de 2 milhões de cariocas estão à margem de todo o tipo de serviço público.
Precisamos resgatar essas pessoas. De que forma? Gerando autonomia e independência para elas, através de trabalho e renda, e quando nós falamos da possibilidade de fomentar a dignidade e o trabalho dessas pessoas de uma forma mais rápida.
Porque a minha preocupação é que essa pandemia da saúde venha a conduzir uma nova pandemia que é a do desemprego, pois o auxílio emergencial já está por finalizar. E como é que nós vamos fazer com toda essa população humilde e vulnerável, que inclusive está nas ruas? Como fazer com que ela possa se tornar independente, gerando emprego e renda, através de que segmentos? Segmentos criativos, fortalecendo as pequenas profissões pelos bairros.
Portanto, essa aproximação é muito importante, e é a maior aproximação que a gente pode estabelecer. Essa comunicação diária com a Prefeitura, com o gabinete do prefeito. E se o prefeito tiver que sair da sua cadeira e ir ao encontro de cada um deles, que assim se faça.
Inclusive já estabeleci dentro da minha plataforma de governo uma espécie de gabinete itinerante do prefeito pelos bairros.
É importante que o prefeito circule e conheça essas realidades pelos bairros, porque eu entendo que as maiores dificuldades são mais facilmente conhecidas por quem sofre na pele.
Então o prefeito precisa estar nas ruas, não só na época da campanha, mas durante toda a sua administração, para entender essas realidades, essas dificuldades e, sobretudo, para ter o resultado final da sua gestão, para entender onde errou e onde acertou . Para aprimorar.
Esse diálogo e essa aproximação vão ser contínuos.

CM: Uma mensagem sua para o próximo dia 15 de novembro

Bom, o meu nome é Glória Heloiza, venho de uma família muito simples. Meu pai é pedreiro, minha mãe é costureira, e durante toda a minha vida eu fui filha da administração pública. Eu me utilizei de serviços públicos e conheço cada dificuldade deles.
O que eu espero é que no dia 15 de novembro a população não tenha medo de ir às urnas, porque existe a opção de fazer seu voto consciente e com responsabilidade.
O que tenho de melhor, eu estou compartilhando com a população, que é o meu caráter, a minha dignidade, a minha força de trabalho e, sobretudo, o meu amor pela cidade e pelas pessoas.
Porque o amor constrói, dignifica e faz com que todas as barreiras e todas as dificuldade caiam por terra.