Prisão de Witzel não surpreende
Por que a prisão de Witzel não surpreende
 
Por Cláudio Magnavita *
 
Ao comprar a briga com a PGR e, em uma live, atacar pessoalmente o procurador-geral Augusto Aras e a subprocuradora Lindora Araujo, Wilson Witzel desobedeceu totalmente a orientação de silêncio da sua defesa. As feridas abertas pela sua intempestividade verbal agravaram sua situação perante o STJ.
O governador sofreu duas buscas e apreensões, faltando pouco para ser preso. Naquele momento não havia nem a confissão de Édson Torres, nem explodido as delações de Edmar Santos. Não se tinha também a dimensão dos ilícitos cometidos no Rio.
Hoje, sua situação está muito mais fragilizada,e, ao ameaçar prender uma das testemunhas na mesma live, passou a dimensão do que poderia fazer se tiver tinta na sua caneta ao regressar ao governo.
A defesa de Witzel tem sido brilhante nos con- frontos com o Tribunal Misto. Congelaram o pro- cesso sem desligar o relógio. Porém, não se sente a mesma eficácia no processo do STJ.
Neste caso, o embate de WW não é com depu- tados estaduais transvestidos de magistrados ou com experientes desembargadores constrangidos pelo primarismo dos seus neocolegas.
No STJ, ele enfrenta experientes ministros e uma PGR acirrada pelos arroubos verbais de um réu mantido em liberdade por obra do acaso.
Quem deverá decidir este cenário confuso no qual o Governo do Rio mergulhou serão as cortes superiores. Witzel, ao voltar com as lives esta semana, ao falar em golpe de estado, ao intimidar testemunhas e agir como fosse reassumir o governo (possibilidade tornada real pelos erros cometidos no processo do im- peachment), só ajuda a escrever uma solução, a única capaz de silenciar suas bravatas e o colocar no mesmo patamar de outros réus.
Na formação de quadrilha, todos os níveis intermediáreis  já sofreram restrição de liberdade, menos o chefe da quadrilha apontado pela PGR, o que é um paradoxo. A informação de que ele recebeu R$ 980 mil cash, ainda togado, derruba qualquer sentimento de respeito que o manteve livre até agora. 
 
*Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã