O centenário de C. Araujo Castro é motivo para reviver seu exemplo

Há exatamente 100 anos, nascia nas margens do Rio Corrente, na cidade baiana de Santa Maria da Vitória um jornalista que mudaria a história do turismo brasileiro. No dia 13 de março de 1921, o jornalista Clorivaldo de Araújo Castro, ou como ele gosta de assinar: C. Araújo Castro.

Araújo saiu ainda jovem da Bahia e veio para o Rio terminar os estudos no Colégio Pedro II. De uma tradicional família da região, ele poderia ter ficado na cidade, comandada pelo seu tio, o Coronel Clemente de Araújo Castro ou pelo seu pai, Major Leônidas. Todos os dois com patentes da Guarda Nacional como era praxe no interior.

Era um contador de casos e na sua coluna “Reportur” muitas vezes reproduzia esse imaginário fantástico. Sempre foi um comunicador nato e o jornalismo era seu destino. No Rio, por indicação do general Juracy Magalhães, conseguiu trabalhar na redação de grandes jornais. Descobriu o turismo e o setor, que era embrionário como atividade econômica, o fascinou. Apaixonado pela Rádio teve um programa noturno na Rádio Nacional. Depois, foi redator no “Jornal do Brasil” e, em 1960, foi contratado pelo “O Jornal”, para escrever uma coluna sobre o turismo, um tema não muito explorado pelos veículos da época. Foi o pontapé da ideia de criar um veículo voltado exclusivamente para o trade.

Em 1965, Araújo fundou o “Jornal de Turismo”, o primeiro veículo de informação – exclusivamente – para profissionais de turismo. Durante 32 anos, ele cuidou de todos os detalhes de cada edição, para que saísse com perfeição. Porém, em março de 1997, foi acometido por uma doença, fruto do seu hábito de fumar e que deixou a sua voz cada vez mais rouca. Obrigado a realizar um procedimento cirúrgico extremamente delicado, tendo que ficar hospitalizado por várias semanas, faleceu no dia 30 de abril daquele ano.

Na época, o sobrinho de Araújo, Cláudio Magnavita – hoje publisher do Correio da Manhã – escreveu na edição do Jornal de Turismo em homenagem a seu fundador, um texto em que lembrava a figura do tio: “Como pessoa iluminada, Araújo Castro cultivou a liberdade de arbitrar seu próprio destino, a fraternidade de laços de amizades sinceras e a igualdade de seres humanos, independente de títulos ou posses”.

Corroborando a afirmação de Magnavita, na edição extra de maio de 1997, dedicada a Araújo Castro, não faltaram mensagens de condolências homenageando o jornalista por autoridades, amigos e conhecidos da família. Desde vereadores ao presidente do Conselho Nacional de Turismo, passando pelo presidente da Embratur e gerentes hoteleiros, muitos mandaram sentimentos à família pela perda.

Sobre a Abrajet, escreveu Cláudio: “Araújo Castro tem um papel fundamental na revitalização da entidade, fundada em 1957, que estava adormecida, ou melhor, hibernando em um sono profundo e quase caindo no total esquecimento. Com o seu carisma nato e a vontade de valorizar a sua atividade de vida, Araújo conseguiu reunir todos em uma só sigla. Nasceu a Abrajet Nacional forte e as entidades regionais aderiram de imediato”. Araújo foi presidente da entidade em três oportunidades: no biênio 1979/ 1981, com Dayse Regina Nester de vice; no biênio 1982/1984, com José Mario Pinto da Silva de vice; e no biênio 1984/1986, com Luiz Alípio de Barros como vice”.

Contudo, como diz o dito popular, “o show tem que continuar”. E ele prosseguiu. Coube a Cláudio Magnavita seguir a trajetória do tio. “Fui preparado por ele como seu sucessor natural, pois me criei dentro do seu universo e cresci seguindo o seu exemplo. Sempre tivemos o mesmo biotipo, a mesma profissão, a mesma religião e abraçamos o turismo com igual paixão”.

Cláudio não só manteve vivo o “Jornal de Turismo”, como também ampliou o leque de informações do trade. Criou, na década de 1980, o “The Brazilian Post”, jornal diário 100% em inglês, com notícias do Brasil. Depois, adquiriu outros veículos como o “Jornal da Barra” e relançou o “Correio da Manhã” e a revista “O Cruzeiro”. A gênese dessa atividade editorial é o “Jornal de Turismo” e o espírito do seu fundador.

Irmão de Clorivaldo, Waldir de Araújo Castro, hoje aposentado, com 94 anos, e vivendo em Salvador, foi o responsável por continuar a obra de Araújo no “Jornal de Turismo”, até que foi assumida pelo seu filho Cláudio.

“Meu irmão teve enorme influência sobre os irmãos mais novos, especialmente o Miguel, que seguiu os seus passos no jornalismo e foi seu colega no “Jornal do Brasil”, a mim e a caçula Regina Lucia” relembra Waldir, que complementa: “Ele deve estar muito feliz em ver, hoje, que a semente que plantou de forma pioneira em 1965, é um núcleo que edita hoje dois grandes títulos da sua época”, concluiu, referindo-se ao Correio da Manhã e “O Cruzeiro”.

Um das marcas de Araújo foi sempre a independência jornalística e a combatividade. As manchetes do jornal sempre foram combativas e em defesa do setor de turismo. Na Embratur, teve embates memoráveis com João Doria Junior (que chegou a processá-lo) e com Paulo Protásio. Sempre teve o reconhecimento da iniciativa privada e muitas de suas lutas estão vivas até hoje, como a municipalização do turismo.

Esta independência, colocando o interesse comercial em segundo plano é até hoje a marca das publicações que trazem o seu DNA.

Em 1999, o deputado Dica fez uma proposta de aplausos e congratulações ao “Jornal de Turismo”, pelos 33 anos de inestimáveis serviços prestados ao Turismo em nosso Estado, firmando-se como um veículo confiável, graças à sua linha editorial e penetração no trade turístico: “O jornalista Araújo de Castro é um divisor de águas na história da imprensa de turismo no Brasil. Representou ele um marco, deixando-nos um patrimônio construído de integridade profissional, de um jornalismo ético e se constitui num admirável exemplo de vida. Na data em que esta Casa Legislativa homenageia instituições e profissionais da área de turismo em nosso País, é um dever de justiça incluir-se entre os merecedores de honrarias deste Poder Legislativo o “Jornal de Turismo”, seu saudoso fundador jornalista C. Araújo de Castro e os continuadores de sua obra, jornalistas Waldir de Araújo Castro e Cláudio Magnavita Castro”, escreveu o deputado na moção.

“Quero assegurar que o seu trabalho não será esquecido e que ele atingirá as metas traçadas pelo próprio Araújo, que sempre esperou o JT alçar voos maiores ainda”, escreveu Cláudio nos idos de 1997. Se alguns podem achar isso uma previsão, outros podem pensar que era uma constatação. De uma forma ou de outra, a semente plantada foi regada e está gerando muitos frutos. Tanto que, em 2019, Cláudio conseguiu os direitos da marca e colocou em circulação o centenário Correio da Manhã, que completa 120 anos em junho de 2021.