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Polícia apura se houve crime de funcionários na crise da água do Rio

Por Júlia Barbon/ FolhaPress

A Polícia Civil informou que está apurando se houve crime por parte de funcionários da Cedae (Companhia de Águas e Esgotos do Estado) ou de terceiros que resultaram nas mudanças nas características da água em diversos bairros da região metropolitana do Rio de Janeiro.

De acordo com o órgão, agentes da Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados realizaram diligências nesta quinta (16) na estação de tratamento de água do Guandu, em Nova Iguaçu, onde foi detectada na semana passada a presença de geosmina.

É essa substância orgânica, segundo a companhia, que está provocando o gosto e cheiro de terra na água distribuída pela estação, que abastece mais de 9 milhões dos 13 milhões de moradores da Grande Rio. Ela é produzida quando há uma multiplicação acentuada de bactérias em ambientes aquáticos com muitos nutrientes, como mananciais que recebem esgotos não tratados.

A polícia afirmou que "a ação faz parte de uma investigação para apurar eventual responsabilidade penal de funcionários da Cedae ou de terceiros que possam ter contribuído, por ação ou omissão, nas alterações das condições de consumo da água verificada nos últimos dias".

A operação acontece dois dias após o governador Wilson Witzel (PSC) publicar nas redes sociais que "são inadmissíveis os transtornos que a população vem sofrendo" e que determinou apuração da qualidade da água e dos processos de gestão da companhia.

Naquele mesmo dia, em meio à crise, a Cedae decidiu retirar Júlio César Antunes do cargo de chefe da estação de Guandu, dizendo que ele não foi exonerado e continua fazendo parte da equipe do novo gerente da unidade.

A Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados foi criada em 2002 no estado e é responsável por investigar furtos de energia, água e gás, crimes de dano ou relacionados à produção de combustível e outras fontes de energia, assim como estelionato e outras fraudes que atinjam a atividade dos serviços concedidos ou realizados pelo poder público.

Questionada, a polícia não respondeu em qual dessas infrações penais o caso da Cedae poderia ser enquadrado. Também não informou se está colhendo depoimentos de funcionários.

Nesta quarta (15), o presidente da companhia fez seu primeiro pronunciamento após a crise. Em entrevista coletiva à imprensa, Hélio Cabral se desculpou e afirmou que a situação vai voltar ao normal em breve, depois que for instalado na estação de Guandu um equipamento que usa carvão ativado para reter a geosmina no início do tratamento.

Ele ponderou, porém, que não é possível dizer quando a água voltará a sair das torneiras sem alterações porque, dependendo do tamanho dos reservatórios residenciais, eles podem continuar contendo a água com geosmina por bastante tempo, mesmo depois da solução do problema no reservatório de origem.

O gerente de controle de qualidade da água da empresa, Sérgio Marques, voltou a afirmar que a geosmina não altera a potabilidade e negou que a água distribuída pela Cedae tenha a turbidez e a cor escura relatada em alguns bairros (que não são causadas por essa substância).

Especialistas, porém, criticam a Cedae por falta de transparência e dizem que ainda restam muitas dúvidas.

A UFRJ (Universidade Federal do RJ) publicou uma nota técnica afirmando que os laudos divulgados pela companhia até agora não fazem referência à geosmina, "corroborando assim para a permanência da incerteza relacionada à qualidade da água distribuída para a população".

O grupo de professores da instituição que assina o comunicado sustenta que existe uma ameaça real à segurança hídrica da região metropolitana do Rio e que a atual crise e decorrente da insuficiência do sistema de esgotamento sanitário das áreas urbanas.

"Esgotos sanitários em estado bruto, ou seja, desprovidos de qualquer tratamento, são drenados pelos rios dos Pocos, Queimados e Ipiranga, todos afluentes do rio Guandu, a menos de 50 metros da barragem principal e da estrutura de captação de água do sistema produtor", escrevem.

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