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Um vice leal: sob artilharia, Nilton Caldeira defende Paes

O vice-prefeito do Rio, Nilton Caldeira (PL) foi o entrevistado desta semana do programa “Jogo de Poder”, do jornalista Ricardo Bruno, que passa aos domingos na CNT, e que contou com a participação especial do publisher Cláudio Magnavita, diretor de redação do CORREIO DA MANHÃ. Na entrevista, Caldeira comentou sua relação com Eduardo Paes, os planos políticos do PL para a sucessão estadual em 2022, além de outros casos do mundo político.  

Ricardo Bruno: O que você leva de legado daquela convivência tão estreita com o ex-deputado Álvaro Valle?

Nilton Caldeira: Na época, com aquele momento de abertura, a dissidência do PDS criou o PFL, que foi fundado pelo Álvaro, no Teatro Princesa Isabel, no Rio de Janeiro. Um mês após a criação do PFL, o Álvaro já não estava se sentindo mais confortável e decidiu criar um novo partido, com as ideias liberais que ele tinha e, naquele mesmo apartamento, naquela mesma mesa de jantar, eu, Álvaro e mais quatro amigos fundamos o Partido Liberal. O nome do partido foi sugerido pelo Álvaro, tirando o ‘’F’’ de fisiologismo, que ele achava do PFL, e, com essa mudança, ficou apenas Partido Liberal.

RB: Foi só suprimir o fisiologismo que virou Partido Liberal?

NC: Exatamente! O Álvaro foi o meu grande mestre. Com os meus 20 e poucos anos, tudo o que eu aprendi na política foi com ele.

RB: Eu acompanhei vocês em viagens pelo Nordeste, inclusive naquele avião do Fabio Rocha que o cedeu para o Álvaro Valle. E eu, como repórter do jornal, fui fazer uma cobertura para uma matéria dominical daqueles cursos de formação política que vocês faziam. Era a primeira vez que tínhamos no Brasil a preocupação de se formar quadros políticos de maneira orgânica. O Álvaro Valle tem todos os méritos pela iniciativa que, naquele momento, foi muito revolucionária, Nilton?

NC: Nós vínhamos em uma estrutura política fechada no período da ditadura e o Álvaro, quando criou o curso, acreditava que ele tinha que informar. Na verdade, o curso tinha o nome de formação política, mas era um curso de informação política, para o qual Álvaro chamava palestrantes de partidos comunistas e socialistas. A grande preocupação do Álvaro era a informação política, que foi uma grande bandeira do partido. Chegou ao ponto em que não tínhamos mais condições de fazer os cursos presenciais. Então, na época, começamos com cursos gravados em fitas de videocassete. Hoje, nós vemos faculdades com cursos on-line.

Cláudio Magnavita: Você restaurou esses vídeocassetes para o projeto de comemoração dos 20 anos da morte do Álvaro. Mas, como foi no ano passado, devido à pandemia, não se pode comemorar. Você descobriu que esses cassetes estão muito atualizados e que esse conteúdo vale a pena ser compartilhado novamente?

NC: Hoje, se você entrar no site do Partido Liberal, os cursos estão lá. É engraçado porque o Álvaro falava isso há 20 ou 25 anos, mas parece que ele estava falando de hoje. Os problemas que ele levantava são os mesmos problemas que estamos vivendo hoje.

CM: O PL de hoje é o mesmo PL do Álvaro Valle? Ele conseguiu manter a essência do partido?

NC: Conseguiu! O nosso presidente nacional, Valdemar Costa Neto, tem mantido todos os ideais do partido. O Álvaro o preparou para assumir a presidência do partido e hoje ele está bem, graças ao Valdemar. No Rio de Janeiro, nós, do partido, estamos desempenhando um papel muito bom tanto a nível municipal quanto estadual. O nosso presidente, o deputado federal  Altineu Cortes, tem feito um trabalho sensacional. Parece até que o Álvaro está monitorando tudo que acontece até hoje.

CM: Eles estão com 19 prefeituras já?

NC: São 22 prefeituras.

RB: E dois senadores, são do PL?

NL: O Coutinho e o Romário.



RB: Tenho que falar com você uma coisa que me intriga muito. Em dado momento, numa revisitação histórica de tudo que aconteceu com você e o Álvaro Valle, fui chamado pelo Richardson Valle, que era o coordenador da campanha da rede Itaipava de postos de gasolina, e também operava a campanha do Álvaro Valle. Ele me chamou, dando uma exclusiva. O Álvaro Valle despontava em todas as pesquisas como o provável prefeito do Rio de Janeiro, na campanha de 1988. No entanto, na reta final, o Richardson Valle me chamou e disse que tinha uma matéria bombástica sobre o casamento do Álvaro Valle. Aí, o Álvaro despencou nas pesquisas. Foi muito criticado por ter feito um casamento às vésperas da eleição. Parece que aquilo selou o destino da campanha dele, o levando à derrota. Eu queria saber qual a sua análise daquele momento, se aquele foi um erro fatal para o Álvaro Valle ou não. Como é que você vê, com o distanciamento histórico, aquele fato?

NC: Olha, eu, na época, quando soube do casamento – fui até padrinho de casamento dele –, falei para ele que não havia necessidade naquele momento. Mas ele pensou que podia fazer um casamento sem muita repercussão. Acontece que, no dia do casamento, a coisa vazou.

RB: E vazou propositalmente, porque fomos chamados para fazer a matéria.

NC: Ele não sabia. Na verdade, ele não queria. Ele queria que fosse uma coisa discreta. Aí, vazou, e acabou dando em tudo isso que você falou. Acho que foi um erro. Quando retornou de Paris, onde foi a lua de mel, ele falou pra mim: “Nilton, grandes homens, grandes acertos e grandes erros. Eu errei”. Ele percebeu que aquilo foi um erro, mas a política mostra que foi uma coisa cruel. O Álvaro era uma pessoa que faria muito bem para a cidade do Rio. Ele estava anos luz à frente e era uma pessoa que, quando ocupava a tribuna em Brasília, o Congresso o ouvia. De repente, uma coisa pessoal dele, que não tinha nada a ver com a política, acabou destruindo a campanha.

CM: Mas tem um contexto moral e histórico na linha do tempo, que, naquela época, era um fantasma. Hoje, faz parte do dia a dia. Mas com essa foi diferente, né? Com essa, ele casou e...

NC: O Montenegro, naquela eleição, conversou com ele: “Álvaro, se você pegar um avião hoje e for pra Paris, isso seis meses antes das eleições, você é o prefeito do Rio”.

RB: Nilton, voltando ao tema da entrevista, o partido está bem estruturado?

NC: Está bem estruturado. O que a gente preserva aqui são os compromissos do partido. Hoje, tenho maior prazer de ter o Ronald ao meu lado.

RB: Queria saber como você está se sentindo nessa experiência de vice-prefeito. Que tipo de avaliação você faz da prefeitura hoje, em comparação com o governo Crivella? Você e o Eduardo Paes conseguiram conduzir mudanças significativas na rotina, na administração da cidade?

NC: Olha, acho que esse impacto na cidade deu para perceber desde 1º de janeiro. Eu conheço o Eduardo [Paes] desde 1992. Tenho um carinho por ele, um excelente relacionamento. Acho que a cidade do Rio de Janeiro não poderia ter escolhido um nome melhor. Apesar dos 50 anos de idade do Eduardo, ele é um jovem carioca. Ele ama esta cidade.

CM: Gosta de ser prefeito?

NC: Gosta de ser prefeito. Tem uma coisa ou outra que, às vezes, você pode divergir do Eduardo, mas jamais pode duvidar da capacidade de gestão, do amor que ele tem pela cidade. É uma honra ser vice-prefeito de um prefeito do quilate do Eduardo Paes.

RB: Você enxerga algum tipo de posição política, do plano das relações políticas e partidárias, em que possa haver algum tipo de divergência, ou vocês comungam das posições no dia a dia?

NC: Olha eu sou vice-prefeito. Fui escolhido pelo partido. Fui escolhido por ele e me coloco nessa posição. Ele é o prefeito. Nós temos divergência zero. Minha relação com o Eduardo é excelente, e acredito que o relacionamento dele comigo seja excelente também. Eu estou na vice-prefeitura para colaborar com ele.

CM: Agora, tem sido um relacionamento complementar. Enquanto a gente sabe que o Eduardo é mais nervoso, você é mais tranquilo, conciliador. Você acabou de ser recebido pelo ministro-chefe da Casa Civil, general Ramos, durante um bom período. A Flávia Arruda, que é ministra da articulação, é do PL. Aliás, todas as suas agendas em Brasília serão marcadas pelo gabinete da Flavia Arruda. Essa visibilidade em Brasília não está dando ciúme? Ele entende isso como uma complementação ou como um ofuscamento das deficiências dele?

NC: Não acho que haja ofuscação alguma, até porque, minha ida a Brasília foi uma sugestão dele para conversar com o secretário nacional, para criar uma interlocução. E eu tive nessa oportunidade com o presidente Bolsonaro, que também mostrou muito apreço pelo Eduardo. O próprio general Ramos gosta muito do Eduardo, até mandou felicitações para ele.

RB: Nilton, que tipo de resultado prático dessa roda de conversas e negociações em Brasília você trouxe? Você foi tratar de alguma coisa objetiva, levou algum projeto objetivo, ou foi só uma conversa política para aproximação?

NC: Eu acho que engloba tudo. A aproximação do governo federal é importante para a cidade do Rio de Janeiro, assim como também é importante o relacionamento com o governo estadual. Acho que a gente tem que buscar sempre o melhor para a cidade, mas a ida em si foi direcionada para uma conversa com o secretário nacional de Habitação, o Alfredo Eduardo, por conta de ações que tivemos no governo passado, como a demolição do prédio do IBGE, a demolição do Jambalaia, na Avenida Brasil. Essas famílias, hoje, recebem o auxílio habitacional da Prefeitura, mas a gente não está encontrando uma solução.

RB: O projeto Minha Casa, Minha Vida, na faixa um, me parece ser a faixa de entrada. Você está me dizendo que não tem como levar à frente empreendimentos para pessoas de baixa renda que se enquadram na primeira faixa. É isso?

NC: É isso. Fui recebido pelo secretário e houve um bom entendimento ali. Acho que deu para sensibilizá-lo. Mas ele reclamou muito das obras que não foram construídas, que deram um déficit muito grande para o governo federal. Mas isso aconteceu também em outros estados. Eu chamei a atenção dele para isso porque o governo do Eduardo Paes entregou mais de 100 mil unidades. Acho que foi a prefeitura no Brasil que mais unidades entregou. E nós não tivemos nenhuma obra interrompida. Não criamos nenhum déficit.

RB: E qual é o projeto objetivo? É construir essas unidades? Quantas unidades seriam?

NC: Nós precisaríamos de cerca de 1500 unidades de imediato para cumprir o déficit tanto do Jambalaia quanto do IBGE, para poder atender essas famílias.

RB: E qual foi a resposta para esse pleito do governo federal?

NC: Estamos avançando. Nós vamos entrar com os terrenos. O secretário nacional está vindo aqui até o fim do mês para ter uma conversa, certamente com o prefeito também, para a gente encontrar um caminho e ter uma solução para isso. O que a gente não pode ficar é sem um destino para eles.

RB: Desde que foi extinto o BNH, o Brasil carece de políticas habitacionais perenes. Eventualmente tem uma política, mas depois suspendem. Muda o governo e mudam as ideias também. Quando a gente tinha o BNH, havia mais continuidade.

CM: E políticas que foram desenvolvidas agora no final do governo PT, muitas estavam atreladas a uma visão comercial, que é o Minha Casa, Minha Vida, que envolviam parceiros, enquanto no BNH tinha um viés mais social mesmo. Criavam e solucionavam um problema muito grande.

NC: Estamos tentando procurar um caminho. Nós temos que ter uma solução. O que não podemos é ficar pagando eternamente um auxílio habitacional, sem ter uma luz no fim do túnel.

RB: Qual é o déficit habitacional da cidade do Rio de Janeiro?

NC: Eu acredito que seja em torno de 140 mil unidades.

RB: Você acha que o seu projeto como secretário de Habitação nesses quatro anos vai chegar a qual ponto? Vai chegar a que número, em termos de unidade? O que é factível?

NC: Ainda é muito prematuro para estipularmos um prazo, mas já estamos procurando várias soluções, inclusive na Casa Verde e Amarela. A vinda dele ao Rio será para discutirmos a oportunidade de novos lançamentos de moradias. Vamos tentar o máximo possível, mas não dá para estabelecer um número hoje com quatro meses de governo.

CM: O vice faz parte de uma chapa e, tanto em uma eventualidade ou no caso de uma tragédia, o vice tem que estar habilitado para substituir o prefeito. Você já pensou nisso? Você está pronto para assumir em uma situação de emergência? A gente não deseja isso, a gente quer o bem do Eduardo, mas se houver a necessidade de assumir a Prefeitura, você está pronto para ser o prefeito do Rio de Janeiro?

NC: Eu fui eleito pra ser vice. Tenho conversado muito com o Eduardo, que se comprometeu a cumprir o mandato dele. Eu estou preparado para ser vice. O que eu penso é chegar ao fim do governo do Eduardo, e ele agradecer o apoio, a participação e o auxílio à cidade.

RB: Você disse que o Eduardo se comprometeu a cumprir o mandato até o fim.

CM: Não há hipótese de ele sair candidato ao governo do estado?

NC: Não vejo essa hipótese de ele sair candidato.



CM: E os problemas legais? Porque a sociedade sabe que há a questão do acordo de leniência da OAS, em que são robustas as acusações contra o Eduardo. E tem a questão da delação do Lelis [Teixeira], que foi amenizada agora pela Justiça Eleitoral, envolvendo o Eduardo e o Pedro Paulo. Ou seja, existe aí um terreno pantanoso que pode gerar até um afastamento no futuro. Você pensou nesse passivo pré-existente?

NC: Não. Quando a gente decidiu apoiar o Eduardo, a gente estava pensando em ajudar o Rio de Janeiro. Problema jurídico, a gente resolve na justiça. Não imagino e não vejo essa hipótese. O Eduardo foi eleito e é o melhor para cidade do Rio de Janeiro. Eu não vejo nenhuma hipótese negativa.

RB: Nilton, o prefeito Eduardo Paes já manifestou a sua preferência pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, como candidato à presidência da República. Essa é uma posição que ele tomou publicamente. Ele tem conversado também com o Freixo sobre uma possibilidade de aproximação em candidatura de centro-esquerda. Essas posições político-eleitorais que o Eduardo Paes tem tomado são compartilhadas com você?

NC: Não, é uma posição pessoal dele. Ele tem o direito de ter o posicionamento que ele quiser. Mas acho que isso também não interfere no relacionamento que ele tem hoje com o governo federal. Acho que não muda em nada. Agora, ele tem o direito de pensar em qual candidato ele imagina para as próximas eleições.

RB: Como é que vocês do PL estão vendo a sucessão estadual em 2022? A ideia é apoiar o governador Cláudio Castro ou lançar uma candidatura própria?

CM: Porque o Eduardo lançou o Santa Cruz

NC: Olha, a posição que hoje o deputado Altineu, presidente do PL, está tomando em relação ao governo do estado é o Partido Liberal apoiar tudo aquilo que é bom para o nosso estado. Se tiver que fazer parte do governo do estado, nós vamos fazer parte, se for voltado para o bem do nosso estado. Assim como pensamos no bem da cidade do Rio de Janeiro. A eleição é ano que vem e vamos pensar no que é melhor, se é apoiar o governador ou lançar candidato próprio. Isso é uma decisão que vem mais para a frente. No momento, agora, temos que focar em deixar essa crise.

CM: Mas há um namoro que, como o alvo, tem a bandeira da educação. Está na mesa, inclusive, a possibilidade do partido indicar um secretário da educação. Já se sabe até que existe uma secretária da educação escolhida pelo deputado Altineu. Seria uma boa o PL assumir a educação do estado?

NC: Magnavita, como eu te disse, o partido tem quadros pra isso. Se a gente assumir a secretaria de Educação, vamos tentar dar o nosso melhor, até pelo DNA do fundador. Mas volto a dizer que a decisão a nível de governo, se o partido vai apoiá-lo nas próximas eleições ou não, é uma decisão que será tomada mais para a frente.

CM: Mas essa postura que está fazendo agora, muito em função do pós-impeachment, é nomear os partidos que vão seguir com ele em 2022. Ele está antecipando uma amarração político-eleitoral.

RB: Ele quer formar uma base.

NC: Mas como foi dito, é um namoro. Esse namoro pode chegar à véspera do casamento e acabar. Se a gente perceber que é o melhor para o nosso estado, nós vamos com tudo.

RB: Voltando à questão administrativa, o Eduardo Paes fez duas gestões anteriores com muita fartura, com muito recursos, daí o sucesso enorme que ele teve na gestão do Rio de Janeiro. Agora, está tendo uma experiência diferente, com poucos recursos, com escassez. Ou seja, nesse quadro de limitação aguda por conta da crise, da pandemia, das mudanças efetuadas nesse espaço de tempo, sem também os grandes eventos que ocorreram na outra gestão, como Olimpíada e Copa do Mundo, você acha que há condições de fazer uma administração exitosa?

NC: Não tenho a menor dúvida. Nós vínhamos na cidade do Rio de Janeiro de uma gestão de César Maia e depois Eduardo. César assumiu o Pan-Americano praticamente sozinho. Uma gestão brilhante do nosso, hoje, vereador. E o Eduardo, quando a gente diz que foi uma gestão que teve muitos recursos, teve muita gestão, muito trabalho, muita dedicação. Às vezes, não basta dinheiro. Tem cidades em que recursos não faltam, mas não existe uma boa gestão. E o Eduardo soube trabalhar os recursos que tinha, ou obteve na época.

CM: Você tem razão porque sempre olhamos o lado vazio do copo e esquecemos do lado cheio. O pós-olímpico, o pós-copa foram muito importantes. Agora, uma das coisas que me preocupa é o legado, porque o Eduardo está pegando um passivo que ele mesmo gerou, como a questão do BRT, que tem erros de origem tentando ser corrigidos agora, e a Transbrasil inacabada. É como se fosse um tsunami externando o passado. Como é que você vê?

NC: Ele começou a Transbrasil, o governo anterior ficou quatro anos para terminar e não fez nada. Quer dizer, tudo que ele está pegando é obra que ele deu continuidade. O BRT que nós temos hoje, uma via que não está em condições legais, é porque também não houve manutenção para aquilo.

CM: A questão do modelo, que podia ser transporte rápido sobre trilhos ou outros modais. A opção doentia pelo ônibus é um câncer, e agora a Prefeitura vai pagar R$ 200 bilhões...

NC: Foi uma opção que, naquele momento, seria mais rápida para a entrega, até em função das Olimpíadas também. E entregou. O problema negado é que tivemos quatro anos de uma gestão passada em que a cidade do Rio parou. As coisas não aconteceram na cidade do Rio de Janeiro.

CM: E a questão das OS? Está havendo o esvaziamento da Rio Saúde e uma migração para àquelas OS, como a Viva Rio. Isso é uma coisa que preocupa, o Ministério Público está de olho nisso.

NC: Está preocupando, mas o Eduardo está procurando saber aquilo que é melhor para a cidade. A gente esquece também que aqueles hospitais da campanha não funcionaram. Quando fomos vistoriar os do Município, na região da Barra da Tijuca, no Riocentro, não tinha nada ali dentro. O que tinha era a cobertura.

RB: Voltando à questão do BRT, a situação precária em que foi encontrada. Mas ali também os empresários não foram negligentes? Porque caberia aos empresários a gestão e a preservação daquele modal, não é isso?

NC: As empresas deveriam tocar, mas o governo deveria ter cobrado das empresas e não poderia deixar chegar neste ponto a que chegou. Nós chegamos ao caos. Então, hoje, estamos tentando recuperar.

RB: A Prefeitura reassumiu a gestão...

NC: A Prefeitura está reassumindo aquilo para tentar arranjar uma solução para o que já foi criado.

CM: Completando seu raciocínio, tem o problema de base, em que a conta não fecha. Com a pandemia, caiu muito o número de passageiros. A tarifa está sem reajuste há muito tempo. Não existe o transporte de uma megalópole, como o Rio de Janeiro, como é o exemplo de São Paulo, sem subsídios. Você é favorável ao subsídio?NC: Sou favorável.

CM: Sobre os vereadores, como é que está sua relação com o Legislativo?

NC: Tenho bom relacionamento com os vereadores, é tranquilo e a gente não vê dificuldade nenhuma.

CM: A bancada do PL, como está?

NC: Está bem

CM: São quantos vereadores?

NC: Temos dois vereadores hoje

RB: Mas a Câmara, de modo geral, tem tido um comportamento solidário?

NC: Comigo, não tenho o que reclamar dentro da Câmara.

CM: E com o Carlo Caiado?

NC: O Carlo Caiado é um amigo. Além de ser o presidente da Câmara, eu o considero um amigo. É um valor, pessoa importantíssima para a cidade do Rio de Janeiro. Uma pessoa do bem.

RB: E o Thiago K., indicado para o Tribunal de Contas do Município?

NC: É bom. O Thiago é também uma pessoa deque eu gosto muito. Tenho um apreço pelo Thiago e o seu irmão é amicíssimo da minha filha. Eu vejo, se a indicação cabe ao Prefeito, não foi o Prefeito que criou essa Legislação. Se a indicação é dele, ele tem o direito de indicar quem ele quiser.

CM: É verdade que você quase foi para o Tribunal de Contas ou foi boato?

NC: Não, nunca surgiu isso e não passava pela nossa cabeça. Fui eleito para ser vice-prefeito e colaborar com o Prefeito até o fim da gestão dele.

CM: Mas você não queria ser secretário então? Queria ser só vice-prefeito e isso ai foi o destino?

NC: Isso foi o destino que acabou pregando essa peça.

RB: Você não queria assumir a secretaria?

NC: Não, eu pensava de uma forma diferente. Eu pensava em poder ser um aliado do Eduardo, de estar ao lado dele ali, mas acabou que surgiu.

RB: Existe uma tradição, uma mística, de que o vice tem que estar ocupado. Porque se o vice não estiver ocupado, vai conspirar.

NC: Essa mística eu queria quebrar, foi até isso que usei com o Eduardo. Mas acho que ele tem toda a confiança, ele sabe o meu comportamento. Uma pessoa depois dos 30 anos não muda mais, e eu já estou com 60, então...

CM: Já se vacinou?

NC: Já me vacinei, tive até o carinho dele que me acompanhou na vacina também.

RB: Nilton, apesar da sua longa experiência no trato político, é a primeira vez que você exerce um cargo executivo.

NC: É verdade!

RB: Quer dizer, eu o conheço há tempo militando na política e pela primeira vez estou vendo você à frente de uma posição. Muda alguma coisa? Na verdade, porque uma coisa é um trabalho de aliança, de negociação política, enfim, de gestão da política partidária. E a outra é do Executivo que tem que ter entrega, é muito mais cobrado, é muito mais objetivo, muito mais pragmático. Você está sentindo a mudança?

NC: Olha, não! Muita gente até me pergunta isso, eu já passei por diversas secretarias no governo de César, passei pelo desenvolvimento social, econômico. Até em cargo federal na Superintendência do BMDN, fui secretário do Meio Ambiente também em Nilópolis, onde nós implantamos o Parque Natural de Gericinó, que hoje recebe mais de 5 mil pessoas.  Foi um desafio na época. Por onde passei, sempre as coisas aconteceram. O que a gente procura fazer é o melhor para a cidade do Rio de Janeiro. A gente procura voltar com o sorriso do carioca, voltar com a alegria de ser carioca, que isso perdemos um pouco.

RB: Como você vê essa decisão da juíza que tornou sem efeito todas as restrições e medidas impostas pela Prefeitura em relação à Covid?

NC: Olha, uma coisa é a ciência, outra coisa é o posicionamento da juíza. Eu a respeito como juíza, na decisão dela. Ninguém pode negar que o Eduardo Paes está contrariado em ver a praia sem movimento, de ver os bares fechados. Ninguém pode dizer que Eduardo é contra isso, não existe isso. O Eduardo é uma pessoa alegre, ele é um carioca com o sorriso nos olhos, ele está tomando estas medidas porque recebeu orientação da saúde, de quem é responsável por isso. Quando a gente precisa de alguma coisa de saúde, a gente procura um médico. No mundo inteiro está acontecendo isso, então ele está tomando as decisões de uma forma ainda que branda em relação ao que às vezes é exigido.

CM: É só comparar com São Paulo! O Eduardo tem sido muito mais compreensivo do que São Paulo.

NC: Ele reconhece as dificuldades, hoje está horrível. Estamos passando por lugares e vendo placas de “fechado”, isso está incomodando a gente. Não queremos isso para a cidade do Rio de Janeiro, mas não podemos esquecer de que temos uma pandemia que está criando problema no mundo inteiro.

RB: Outra coisa que me parece grave, atualmente, é a situação do Centro do Rio de Janeiro, hoje, uma área deserta, abandonada. Anos atrás, quando fechava o sinal da Rio Branco, esquina com Sete de Setembro, havia uma massa humana passando. Hoje, parece que passam, no máximo, até três pessoas. Numa demonstração que aquilo é quase uma cidade deserta. E no projeto do Porto Maravilha, um dos erros, me parece, naquele primeiro momento, foi não ter conseguido levar habitações ou residências para aquela área. Diferentemente de Puerto Madero, na Argentina, onde há grandes grupos residenciais em meio à atividade comercial, a Prefeitura não conseguiu levar à frente propostas de empreendimentos residenciais naquela região. E agora, me parece, que está centrada a ideia de que o Rio só sairá daquela situação de falência do Centro a partir de projetos residenciais também. Você, respondendo pela pasta de Habitação, o que pode me dizer sobre isso?

NC: Olha, a pasta de Urbanismo está sendo tocada pelo Fajardo, pessoa de altíssimo gabarito, também amante da cidade do Rio de Janeiro.

CM: Ele fez até uma imersão, ficou uns dias morando no Centro

NC: Agora nós vamos ter problema, você está falando sobre esse deserto da cidade Rio de Janeiro. A pandemia está deixando muitos escritórios hoje também fechados.

RB: Inclusive a Petrobras. O presidente atual disse que vai acabar com o home-office por isso, porque a Petrobrás, com home-office, tira do Centro do Rio de 15 a 20 mil pessoas, e abandona e agrava aquela situação.

NC: Se o Centro da cidade tinha problemas antes da pandemia, depois dela vai ter muito mais. Estamos trabalhando diuturnamente em função de procurar uma solução. Estão sendo encaminhados já para a Câmara Municipal projetos para trazer residências para o Centro. O Porto Maravilha também, que você tocou no assunto, realmente a coisa não andou muito ali.



RB: Voltando para a política, você que tem uma convivência próxima ao Eduardo Paes e ele está muito atrelado também ao deputado Rodrigo Maia. Você acredita que o prefeito vai apoiar o Rodrigo Maia saindo do DEM neste momento. Ou seja, há uma expectativa de que o prefeito possa deixar o DEM e ingressar em outro partido, fala-se no PSDB. Primeiramente, foi falada a possibilidade de o Rodrigo Maia ir para o MDB, agora se fala na hipótese do PSDB, até porque Eduardo Paes não voltaria para o MDB, onde ele ficou muito esquematizado pela relação de proximidade com o ex-governador Cabral, e a hipótese do PSDB seria mais aceitável. Como é que você enxerga tudo isso, que tipo de informação você tem sobre essa provável mudança partidária do Eduardo e que tipo de consequência política ela pode ocasionar, por exemplo, se ele entra no PSDB ele se aproxima de Doria, do governador de São Paulo que é inimigo do Presidente. A mudança partidária do Eduardo, caso ocorra, e as consequências políticas que poderão advir?

NC: Olha, se você me perguntar qual é o posicionamento do PL, vou dizer o que a gente pensa e aonde queremos chegar. O que está se passando na cabeça do Eduardo, se vai continuar no DEM ou vai para outro partido, eu não sei. O que o Rodrigo Maia está pensando, a gente acompanha o que vê na mídia. Dentro da Prefeitura, procuro dar o meu melhor, sempre pensando no melhor para a cidade do Rio de Janeiro. Agora, ele pertence a um partido e eu pertenço a outro. Eu quero crescimento do meu partido e ele deve estar vislumbrando um crescimento político também, com o destino que ele queria tomar, que seja o melhor para ele.

CM: E a biografia do Álvaro Valle que você está escrevendo? Quando é que sai?

NC: Estou conversando com o Altineu Cortes em Brasília e estamos começando a juntar matérias do que a gente tem da vida do Álvaro para colocar na biografia. Realmente é um nome que nos faz muita falta na política. O Ricardo me perguntou no inicio do programa “Qual foi o legado que o Álvaro deixou pra mim?’’. Ele deixou tudo. Ele era um homem de uma capacidade incrível, na frente de muitos políticos. Hoje, para mim, na época em que estava vivo, era o maior político, com seriedade, competência...

CM: Qual seria a opinião do Álvaro Valle sobre o Eduardo Paes? Qual seria a leitura do Álvaro hoje com o Eduardo?

NC: Apesar de toda aquela seriedade dele, ele também era carioca e também era brincalhão.

CM: Seriam praticamente amigos de infância.


NC: O Álvaro gostava do Eduardo. Teve uma cena do Eduardo na Barra da Tijuca que se ele não tivesse tomado uma atitude ali, a Barra, hoje, seria diferente. Ele até chegou a ser agredido no meio de uma entrevista. Quando essa matéria passou no jornal, o Álvaro disse para mim “Esse cara vai longe, esse cara é bom’’. O Álvaro adoraria o Eduardo, o jeito brincalhão dele, apesar do Álvaro passar aquela seriedade, também era desse jeito.

CM: Ele tinha um humor extremamente afiado, só quem o conhecia entendia as piadas.
NC: Ele até escreveu aquele livro “À noite todos os gatos são pardos”, no qual fala de alguns ditos populares.

RB: Qual é o seu próximo projeto político? Você pretende se candidatar a alguma coisa? Imagina alguma coisa daqui pra frente?

NC: Eu penso em terminar essa gestão do Eduardo Paes com o compromisso de fazer o melhor para a nossa cidade, para chegarmos ao fim desse mandato sabendo que fizemos o nosso melhor, sabendo que fiz minha parte pela cidade do Rio de Janeiro.

CM: Eu gostaria de dar a minha solidariedade ao Caldeira, porque ele pegou não só a covid pela frente. Aliás, eu me recuperei agora da covid, estou em alta e zerado. Só toquei nesse assunto porque é impressionante que a gente só fala em quem morre. Não mostramos os 13 milhões de recuperados que nós temos. O Caldeira se recuperou, mas, infelizmente, perdeu seu pai por covid, e perdeu logo no inicio de um momento muito importante da sua vida.Você segurou a barra em um momento pessoal muito pesado e continuou com suas funções públicas. Foi dolorido passar por essa experiência?

NC: Só quem perde é que sabe o que a gente sente perdendo um amigo.

RB: Também quero me juntar a essa solidariedade, porque estamos passando por um momento tão difícil que é essa pandemia, que é difícil para todos. Mas para você foi ainda mais grave.

CM: E manteve a seriedade da missão pela qual foi eleito.   

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