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Polícia indicia Dr. Jairinho por tortura contra filha de ex-namorada

Waleska Borges (Folhapress)

O médico e vereador do Rio de Janeiro Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), foi indiciado pelo crime de tortura contra a filha de uma ex-namorada. Ele está preso suspeito de envolvimento com a morte do menino Henry Borel Medeiros, 4 –a mãe da criança, Monique Medeiros, também está detida. O caso ocorreu em março na Barra da Tijuca, na zona oeste carioca. O indiciamento ocorreu por meio da DCAV (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima). Se condenado, a pena de Jairinho pode chegar a oito anos.

De acordo com a Polícia Civil, os crimes ocorreram entre os anos de 2010 e 2013, quando a vítima tinha de 3 a 5 anos. A menina, hoje com 13 anos, que foi ouvida na DCAV, é filha de uma cabeleireira que conheceu Jairinho em 2010. Ela chegou a ficar noiva do vereador, com quem manteve um relacionamento até 2014. Segundo a polícia, a adolescente contou que teve a cabeça batida pelo então padrasto contra a parede do box de um banheiro. Disse ainda ter sido pisada pelo vereador nos fundos de uma piscina.

Em outra situação, ainda conforme o relato policial, a avó relatou que a criança chegou com o braço imobilizado. Jairinho teria afirmado que a enteada havia se lesionado durante as aulas de judô. Em depoimento, o professor da academia negou se recordar do episódio.

A avó da menina também foi ouvida pelos investigadores. Ela contou ainda que, ao questionar o vereador sobre um machucado na testa da neta, ele respondeu que o ferimento foi provocado por uma batida no console do carro após uma freada brusca durante a ida a um shopping.

"Esse caso serve para ratificar o perfil violento do Dr, Jairinho contra crianças e filhas de pessoas com as quais ele tem relacionamento amoroso", disse o delegado Felipe Curi, diretor da Polícia Especializada do Rio de Janeiro.

Ao ser preso pela Polícia Civil, no dia 8 de abril, Jairinho prestou depoimento ao delegado Adriano Marcelo Firmo França, titular da DCAV, e negou as acusações feitas pela ex-namorada. Ele chegou a dizer que mantinha uma relação amistosa com a filha da cabeleireira.

Ainda segundo Curi, o inquérito que apurou às agressões contra a criança não tem relação com o caso de Henry Borel. "Essa investigação surgiu no bojo do caso Henry [Borel Medeiros, enteado de Jairinho]", disse o delegado.

De acordo com os delegados, a cabeleireira, mãe da menina, não foi indiciada na investigação. Ela e é tratada como vítima de violência doméstica praticada pelo vereador. Jairinho teve pedida a sua prisão preventiva.

"O perfil violento dele era feito de forma clandestina, na clandestinidade. Era torção no braço, chutes, pisões, tudo que já foi narrado", disse o delegado Adriano França.

A Polícia Civil ainda investiga a agressão por parte de Jairinho a um menino filho de outra ex-namorada. A mulher começou a se relacionar com Jairinho em 2014. Ela relata ter ficado com ele durante seis anos, inclusive na época que o parlamentar era casado. O menino, hoje com 8 anos, contou que o vereador colocou um papel e um pano em sua boca, avisando que ele não poderia engoli-los. Jairinho teria colocado o menino deitado em um sofá na sala de sua casa, em Mangaratiba, subido no móvel e pisado sobre ele.

Procurado pela Folha, o advogado Braz Sant'Anna, que representa Jairinho, disse o indiciamento pela polícia "está sujeito a alteração pelo Ministério Público". "Por isso, é melhor aguardar o entendimento do promotor".

O vereador e a professora Monique Medeiros da Costa e Silva foram presos após serem apontados como os principais suspeitos da morte do menino. Henry, que estava no apartamento da mãe e do padrasto, foi levado por eles ao hospital, onde chegou já sem vida na madrugada de 8 de março.

Em seu depoimento, ao ser questionada sobre o que teria acontecido com o menino, Monique afirmou acreditar que Henry teria caído da cama. Depois de presa, a professora escreveu uma carta em que relatou ter vivido um relacionamento abusivo com o vereador. Em um dos trechos, a mãe de Henry chega a dizer que foi manipulada. Segundo a polícia, Jairinho e Monique atrapalhavam as investigações e ameaçavam testemunhas para combinar versões. O parlamentar foi afastado pelo seu partido e pode perder cargo.

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