‘O Correio sempre respeitou a política’

Em entrevista ao programa “Jogo do Poder”, o publisher Cláudio Magnavita contou como relançou duas marcas de grande sucesso da mídia do século XX, que foram o jornal Correio da Manhã e a revista O Cruzeiro. Além disso, Magnavita analisou as formas de apuração da imprensa especializada em política e o futuro do jornalismo neste século XXI, em que cada vez mais o noticiário se faz on-line e em tempo real.

Ricardo Bruno: Para começar nossa conversa, gostaria de falar sobre a história do Correio da Manhã e esse desafio de relançar o jornal no Rio de Janeiro, 50 anos depois de sua extinção. O jornal completa agora 120 anos de sua criação. É um jornal que teve forte impacto na história do Brasil. No primeiro momento, em 1964, apoiou e depois se posicionou contra o golpe, de forma bastante incisiva, acabando extinto. Quais as razões que o levaram a relançar o jornal? Foi um motivo meramente comercial ou teve um simbolismo histórico e político?

Cláudio Magnavita: Minha relação com o Correio da Manhã tem uma série de coincidências. Nasci em Salvador, e coincidência, para baiano, não existe. Há uma série de coincidências permeando a minha relação com a marca Correio da Manhã. O próprio Correio da Bahia, jornal do Antônio Carlos Magalhães, em que iniciei minha carreira, foi em homenagem ao Correio da Manhã. Era uma referência no momento que o Rio era o epicentro do país, porque era a capital. Até a mudança da capital para Brasília, os jornais do Rio eram jornais nacionais e reuniam talentos do jornalismo brasileiro. Tanto que o Correio da Manhã, desde a época do império, não traz o nome do Rio de Janeiro, diferente da Folha e do Estado, que são de São Paulo.

RB: Já é uma coisa mais bairrista, até porque, o Rio de Janeiro, que foi capital desde o império, fez essa visão do carioca mais cosmopolita?

CM: Isso traduziu-se na imprensa, porque você tem O Globo, O Dia, Correio da Manhã, Jornal do Brasil... e nenhum deles reduziu a marca. A minha história com o Correio vem de uma série de coincidências e o relançamento foi muito norteado por coincidências. Eu brinco que o meu primeiro contato mais sólido foi quando eu fui gestor do grupo Visão, que era, em São Paulo, o Jornal de Comércio e Indústria, o Shopping News e a Revista Visão, e eu ajudei o Hamilton de Oliveira a contratar o Alberto Dines, o Professor Dines, como chamávamos, homem de grande memória, grande nome do jornalismo. Ele tinha uma grande paixão pelo Correio e o Hamilton era o dono da marca Correio da Manhã. Ou seja, quando o Dines fez o projeto de reformulação do grupo Visão, ele encontrou uma marca que desejou desde a na época da ditadura, em 1969, quando a Niomar Bittencourt esteve presa. Ela e foi esposa do Paulo Bittencourt, era uma jornalista extraordinária. O jornal ficou sob comando de Niomar até 1969, quando ela esteve presa. Imagina uma proprietária de veículo dois meses presa com militares na cadeia.

RB: Depois disso o jornal passa a ser administrado pelos irmãos Alencar?

CM: O jornal fica com a família Alencar até 1974.

RB: Tem um dado que nesse período o jornal perdeu suas características. Na verdade, o jornal Correio da Manhã é o que ficou até 1969. Esse outro já não guardava as características principais do Correio da Manhã?

CM: Até porque é bom relembrar o porquê da Niomar sair do comando do jornal. Ela arrenda o jornal porque o jornal foi sufocado. Ela foi presa durante dois meses na prisão militar. Há passagens fantásticas nesse período, quando ela se recusa a colocar a roupa de prisioneira e quando ela sai da cadeia, quem anunciasse no Correio da Manhã sofria perseguição total... fiscalização no dia seguinte... era uma forma de sufocar o jornal, E para o jornal não morrer, ela faz o arrendamento da marca. Bom, quando eu relanço o jornal, nós relançamos o jornal no dia 12 de setembro de 2019, porque completávamos naquele dia 50 anos que a Niomar publicou na véspera um editorial na Capa chamado “A retirada”. E nós voltamos com o jornal com “A retomada”, e colocamos o nome do fundador, resgatando o próprio nome do Paulo Bittencourt e da Niomar Bittencourt, trazendo naquela primeira edição os remanescentes ainda vivos. Então o Dines foi muito importante para me despertar para o projeto de relançar o jornal. Mas ele só teria sentido se fosse um jornal do Rio. Relançá-lo em São Paulo não teria lógica. Esse processo segue, a marca vem para as minhas mãos e a responsabilidade agora é minha.

Walter Diogo: Eu fico abismado de ver a sua ousadia. Retomar um jornal desses, com essa história. É um jornal que cobriu duas guerras. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial, um jornal que foi a favor do Getúlio. Está fazendo 120 anos agora. E é realmente uma coragem muito grande. Você não é apenas um jornalista, você é um empresário, é uma nova versão do Doutor Roberto Marinho. É uma versão bem ousada. Você teve um apoio para fazer isso? Porque atualmente tudo é on-line....

RB: Também queria falar sobre isso. Você faz o relançamento no momento em que a internet é o grande veículo de informação e interação com os leitores e as grandes empresas nacionais apresentam uma queda brutal. Eu trabalhei no O Globo e, por muito tempo a circulação era de 1 milhão de exemplares por dia e hoje circulam cerca de 70 mil. Menos de 10% do que em anos anteriores. E você lança um jornal impresso semanalmente que tem a sua versão digital diária. É viável?

CM: Eu acredito o jornal tem uma missão. Você está dono do jornal, mas ele pertence ao leitor. Mas você sofre muito no Rio e no Brasil com a falta da figura lendária de jornalistas que são donos desses veículos. A Ultima Hora de Samuel Weiner, Tribuna da Imprensa do Carlos Lacerda, o Dr. Roberto no O Globo, Nascimento Brito no Jornal do Brasil. Os veículos hoje viraram naus, porta-aviões e alguns sem comando. O dono do jornal nada mais é do que um porta-voz do leitor, e um dos cuidados que eu tive no Correio da Manhã foi estabelecer um plano que se apoia em multiprodutos que temos já consolidados, como o Jornal da Barra, Jornal de Turismo... Você tem redações que são uma plataforma única e hoje você tem a conveniência digital. E sobre ajuda de governo, eu acho que existem facilidades na questão do papel, no insumo, mas para um jornal ser independente, ele precisa ser neutro. Como eu comecei fazendo contraponto, por exemplo, hoje você tem a mídia inteira impressa como oposição contra o presidente da República. É como se o Brasil não tivesse nada de bom na gestão Bolsonaro. Nós fazemos uma cobertura isenta. Não elogiamos, apenas constatamos o que é feito de positivo. Eu tive a preocupação, Ricardo – outro dia o senador Flávio Bolsonaro até citou isso –, de não cadastrar o jornal na Secom, que é o setor de comunicação da Presidência da República, e é direito, que habilita veículo a receber publicidade oficial, para que não tivéssemos um centavo do governo federal no Correio da Manhã. Ou seja, desde que relançado, o Correio da Manhã tem uma posição isenta, inclusive também recusamos publicidade do governo do estado na gestão Witzel. Falamos sobre isso em editorial, e não aceitamos – porque foi o jornal que começou a falar sobre os problemas do Witzel – publicidade da Refit.

RB: A despeito da dificuldade que passam todos os veículos, por uma série de questões, você recusou alguns anunciantes. Entre eles, a Refit. Há muitas denúncias de corrupção e gestão marginal da empresa e no recolhimento tributário e você sempre disse que recusa anúncios dessa empresa, que por sua vez anuncia bastante nos veículos como O Globo. Por qual razão você excluiu a Refit de possíveis anunciantes?

CM: Porque muitos jornalistas, e o Walter sabe disso, a imprensa de forma geral e as agências de algumas empresas, evidenciam isso. É você dar porrada, é criar um momento para que daqui a pouco seu diretor comercial sente com o outro lado e acerte o silêncio. Não é o caso histórico do Correio da Manhã, muito pelo contrário. Ele ficou firme enfrentando a ditadura, ele apoia o governo militar no primeiro período, mas com todos os desvios que houve, volta atrás. Então para mim, seria uma incoerência. Por exemplo, começamos a colocar as mazelas do governo Witzel...

RB: Ele tentou te comprar?

CM: Houve uma proposta inserção publicitária. Eles queriam comprar a sobrecapa do jornal, colocar uma venda expressiva e nós dissemos ao subsecretário de Comunicação que não aceitaríamos por uma questão de coerência editorial. Por outro lado, no caso da Refit: a Refit é o maior devedor de tributos provados depois da Petrobrás ao estado.

RB: Patrocinou o carnaval, certo?

CM: Patrocinou o carnaval, mas foi o camarote do governador. Aquele super camarote que o Witzel teve na Avenida, com uísque 12 anos foi com dinheiro da Refit. E aí, na época, o Ruan Lira, que era secretário, no dia do aniversário do Witzel, ele dá de presente ao Witzel que o camarote ia ser patrocinado, que ia dar R$ 20,5 mi para viabilizar o carnaval, sendo o maior devedor do estado. E nós demos um editorial e para que não houvesse o mecanismo da Refit, que não vende nada para público final, vira patrocinadora de veículos para comprar silêncio. E está assim em várias emissoras e veículos, e nós dissemos, em editorial que não aceitaríamos publicidade da Refit para eles nem tentarem achar que ali seria uma casa de mãe Joana. Eles podem e patrocinaram, aliás denunciei isso na coluna, que aliás um ponto forte do jornal foi trazer de volta o colunismo. O Rio é a base do colunismo e ele estava morrendo. E a Refit patrocinou uma live do judiciário no Globo onde colocavam o Fux, o presidente do STJ, presidente do TRT, como patrocinador da Sapucaí. E nós denunciamos, porque quem estava com o processo da Refit pedindo vista era o Fux, e está lá na live, a foto do Fux com a logo da Refit em cima. Um compliance completamente errado. O jornal só vai ser independente se ele tiver a sua estrutura de custo muito reduzida, de forma eficiente. Eu brinco que sou o funcionário mais caro do jornal, porque, além de proprietário, eu sou o diretor de redação e principal colunista do jornal.

WD: Você aceitaria uma ajuda institucional do estado?

CM: Eu acho que deveria existir algum mecanismo, não para ser aplicado no Correio da Manhã, mas para fomentar a imprensa regional e municipal. Você tem, por exemplo, na Itália, o apoio às publicações que falam da Itália para fora do país. Então, apoiar os veículos do interior seria interessante. Nós temos o Jornal da Barra, que fala para o público da Barra. É necessário fomentar a mídia municipal. É necessário que cada cidade tenha o seu jornal. Mas isso tem que ser uma política de estado, que permita que esses veículos menores sobrevivam.

RB: Eu queria falar um pouco sobre esse seu lado colunista. Obviamente que o Correio da Manhã tem a sua importância, mas é inegável que o jornal tem um foco, um apelo, em razão da sua coluna. Como é a elaboração da coluna, sua rotina, para ela ser, digamos, o produto mais atraente do Correio da Manhã?

CM: Primeiro, eu tenho uma preocupação muito grande de que o Correio não dependa da minha coluna. Tanto que, se você olhar a edição, o jornal é colunado, pois você tem o Correio Econômico, o Correio Carioca, a gente tenta levar uma espécie de algoritmo de assuntos que não são muito destacados pelos concorrentes. O maior presente que eu tenho no Correio da Manhã é a miopia dos meus concorrentes. Eu não posso admitir que o presidente de um Tribunal de Justiça tome posse e nenhum jornal, a posse do Henrique Figueira foi capa do jornal, falou disso. Você tem oito novos desembargadores que tomaram posse e isso não saiu na edição impressa dos veículos, só no on-line, e foi capa do jornal. Nós colocamos as fotos dos oito, com um resumo do currículo. Então, essa cobertura da política de bastidor, não para ser destrutivo, pois o que nós temos hoje, no jornalismo político, é algo muito diferente do que tivemos no Rio nos anos 50, 60, 70 e parte dos 80. O que temos hoje é crucificação do gestor público. A pessoa é gestora pública, ela está errada. O José Luiz Zamith, que é secretário de planejamento, escreveu um artigo, publicado no jornal, dizendo que é possível fazer política com o P maiúsculo. Só quando você está do outro lado que reconhece que um gestor não é um super-homem, pois tem dependências orçamentárias, que existem complicações. Agora, o que temos hoje é uma imprensa que considera ventilador de besteiras. Então, algumas colunas que existem, são, na verdade, espalhadoras de besteiras. E o sucesso da Coluna Magnavita, ela apenas edita algo que fiz no Jornal da Bahia e no DCI de São Paulo, que é resgatar uma agenda positiva de informações, mas a gente também aponta corrupção.

RB: Tanto que aponta que queria falar sobre a delação do Lavouras, que você publicou com exclusividade. Como foi essa história? Você sofreu alguma contestação ou ameaça?

CM: Eu tive um grande professor, a quem tenho grande saudade, que foi Carlos Forbes, um grande advogado, um entusiasta, uma das mentes mais brilhantes que conheci, que foi uma espécie de tutor legal meu, e que me norteou muito como se deve dar uma informação, sem tomar parte dela, principalmente na questão jurídica. Neste caso do Lavouras, eu tive acesso ao documento, que apontava uma série de nomes na deleção, ao contrário dos outros veículos, que omitiram o conceito de valor. A imprensa perdeu o senso de que todos são inocentes até que se prove o contrário. Não existe nada pior no mundo do que a condenação midiática, que depois se resume a uma notinha de errata. O estrago que é feito na família e nas pessoas é muito grande. Eu apenas transcrevi os capítulos de um documento do MPF, da subprocuradora Lindôra Araújo.

RB: Aquela delação envolvia integrantes do Judiciário e isso causou um rebuliço no TJ, porque existiam vários desembargadores envolvidos. Isso trouxe algum desconforto para você?

CM: Não trouxe pela forma que botei, pois como dizia, eu botei uma nota dizendo que alguns daqueles nomes foram utilizados por “pseudo-amigos”. Uma sentença é sim ou não, então é um jogo de roleta de par ou ímpar.

WD: A editora Abril faliu porque não tinha jornalismo, tinha banqueiros e ninguém que trabalhava com comunicação e você está na cabeça do processo. Por isso, queria saber se o seu jornal é local ou você tem a pretensão de ter um grupo nacional?

CM: O que ocorre, e você colocou de uma forma brilhante, a questão da internet e desta penetração no on-line, é que os jornais eram presos a um processo industrial, de distribuição física, tanto que para você colocar um jornal no Rio e em Brasília era uma logística de viajar na madrugada, tanto que tinham a ideia do primeiro clichê, que era o jornal do interior, eram fechados antes, de forma mais fria. Esse processo se dilui com o mundo digital. Hoje, com o PDF, você pode ler o jornal no celular. Eu brinco, Ricardo e Walter, que você não precisa mais se levantar para pegar o jornal na porta de casa. Você lê o jornal na cama, pegando o celular. Isso quebrou os processos industriais, pois permite o Brasil ter um veículo nacional e o Globo, como tem o respaldo da Rede Globo, você consegue ter uma penetração nacional maior. Nada mais brilhante o que eles fizeram, em termo de gestão, porque consolida um jornal, que tem a visibilidade de uma Rede Globo, a nacional. O Extra, que é o segundo jornal, onde tem uma coluna política muito boa, da Berenice, que volta de férias e vai me dar trabalho, pois volta turbinada, teria esse papel regional. Mas o Extra é segmentado para uma classe mais popular. Isso cria uma brecha para que o Correio da Manhã volte a assumir o espaço de ser o jornal do Rio. A posse dos desembargadores foi capa do jornal. A posse do novo Procurador-Geral de Justiça também foi capa. A cobertura que nós damos da Alerj é prioritária. A inauguração do novo plenário da Alerj foi capa do jornal. Então esse tipo de postura, de assumir uma relação com os poderes (Executivo, Judiciário e Legislativo), é fundamental, pois o estado do Rio precisa de um veículo assim. A pauta do Rio não pode ser secundária, ela precisa ser prioritária. Nós estamos um estado que o Brasil inteiro presta atenção, seja no setor de turismo ou da política. A manchete do jornal outro dia foi destacando que, em um fim de semana, tivemos aqui o Ciro Nogueira, Valdemar da Costa Neto, Rodrigo Pacheco, o Rio volta a ser protagonista. E nós temos hoje o governador, que eu brinco que é meu duplo xará, pois sou Cláudio Magnavita Castro e ele é Cláudio Castro, aliás, eu comecei minha carreira, em função do meu tio, Araújo Castro, fundador do Jornal de Turismo, e que trabalhou no Jornal do Brasil, e infelizmente nos deixou, assinando Cláudio Castro, que está fazendo o Rio crescer. O Rio hoje é uma página em branco que está sendo escrita e, para isso, precisa de uma mídia vigilante para alertar, por exemplo, o que está acontecendo com a Investiplan, que quer voltar a ser um grande fornecedor do estado. Era uma empresa ligada ao Picciani, de prestação de serviços, que fazia a manutenção dos ares-condicionados, terceirização de computadores, que era um absurdo, pois a cada três meses de aluguel do ar-condicionado dava para comprar um aparelho. A gente tem que estar vigilante, para que o governo não se contamine. 

RB: Qual a sua avaliação sobre o governo atual, do Cláudio Castro, que construiu uma pacificação no Rio de Janeiro?

CM: Eu acredito muito que você tem que servir ao estado, à população e não se servir do estado. O que o Witzel fez foi se servir do estado em um projeto pessoal, uma ambição política sem proporção, de ser presidente da República. Eu conto uma passagem, em um evento no campo de golfe, para comemorar a eleição dele, ele vira para a esposa de um futuro secretário e pergunta: “Você sabe com quem está falando?”. E ela: “Lógico, com o futuro governador do Rio de Janeiro”. E ele: “Não, com o futuro presidente da República”. Então, uma pessoa que não tem essa relação de amor com o estado, porque o prefeito Eduardo Paes tem dado certo, porque ele tem uma relação de amor com a cidade. E o Cláudio está demonstrando uma relação de amor ao Rio de Janeiro.

RB: No caso do Witzel me parece até passível de uma tipificação psiquiátrica, porque me parece que ele não é uma pessoa normal. Nos piores momentos, ele dizia barbaridades de que iria reverter e acontecer. Parece que ele viveu em um mundo paralelo.

CM: Eu tenho evitado falar do Witzel no jornal. Coloco “um ex-governador”, até porque essas pessoas são cometas que passam pela política. Hoje ele está na bolha evangélica dele onde ele está vivendo e não me surpreende se daqui à uns cinco ou dez anos, quando acabar o impedimento político dele, ele não volte como deputado, o Brasil nessa questão eleitoral, a gente já viu de tudo. Mas o papel da mídia foi fundamental para alertar o eleitor que aquela aposta que foi feita, foi uma aposta errada. Aliás, foi uma aposta feita em cima de uma carona que ele pegou do presidente Jair Bolsonaro. Mas ele vai entrar para a história como alguém que um dia...mas logo mais ninguém vai lembrar que teve um WW no poder. O que nós temos que ter é uma visão da construção do futuro a partir dessa chance que um jovem de 42 anos que não sonhava em ser vice-governador e nem governador, foi colocado com o poder de unir, você colocou muito bem Ricardo, essa questão de criar uma massa crítica de apoios partidários e de unir o Rio, porque o Rio precisa de paz. Não é paz prefeito, a gente precisa de paz e tranquilidade. Nós precisamos ter um processo onde todos nós tenhamos o orgulho de retomar a autoestima. Agora para que isso acorra nós temos que ser apaixonados pelo nosso estado, não existe nada mais fantástico em uma distância de até duas horas do que o estado do Rio de Janeiro.

RB: Magnavita. queria falar um pouco sobre as suas outras publicações. O Cruzeiro é uma revista histórica na memória afetiva dos brasileiros, dada sua importância, e também temos o Jornal da Barra, um jornal voltado para um dos bairros mais importantes da cidade. Como você adquiriu esses títulos?

CM: O INPI é um ativo patrimonial que a gente tem que trabalhar, e essa marca, o Cruzeiro, eu persegui porque nesse trabalho de retrofit das marcas, o segredo é simples: é ser respeitoso com a história do veículo. Ou seja, você venerar a história daquele veículo. O Cruzeiro é uma revista nacional nesse período que o Rio era capital do país com uma circulação extraordinária no Brasil inteiro. Era o Rio falando para o mundo.

RB: Você lançou a revista quando?

CM: Ela foi lançada antes da pandemia, tivemos a primeira capa sobre os “90 Anos da Fernanda Montenegro”, a segunda com o Ronnie Von, voltando agora às bancas, porque ela é uma revista de banca. A distribuição dela é da Dinap, a mesma da editora Abril para todo o país. Essa revista ela é mais analítica e feita de forma que ela não tenha data de validade. O factual fica com o jornal, a revista são as grandes reportagens prazerosas para se ler.

RB: Voltando, você também tem o Jornal da Barra...

CM: Sim, o título antigamente pertencia ao Cloris, é um jornal que tem 35 anos, comprei há cinco anos e esse jornal foi a plataforma que viabilizou os demais, sempre de maneira impressa, são mais de 30 mil exemplares, temos os displays colocados em diversos supermercados e pontos da Barra.

RB: Uma dúvida: duas publicações suas são impressas, O Cruzeiro e o Jornal da Barra. Como é que você esse conflito de impresso e internet?

CM: É uma equação. Por exemplo, eu falo que o Jornal da Barra tem 30 mil exemplares. Se eu rodar 50 mil, eu tenho prejuízo. Então é necessário fazer um trabalho equação de distribuição, pois o custo do papel é em dólar.

RB: A Veja teve um período que tinha mais de 1 milhão de exemplares e hoje roda com 50 mil, para você ver a diferença.

CM: Você precisa se contentar com essa realidade. O Correio é um fenômeno porque foi distribuído e impresso pelo Globo e, em determinado período, nós já não pagávamos mais a gráfica porque a venda avulsa do jornal já cobria o custo de distribuição do jornal. Acho que sobretudo, na questão política, Ricardo, você tem o jornalismo político, feito por você que é a nossa locomotiva maior na questão da mídia. Não só no on-line como na televisão, mas há grandes nomes como Paulo Capelli, que está em Brasília e ainda vai trabalhar com a gente algum dia (riso), o Pedro Figueiredo na Globo, com um trabalho excelente.

WD: Magnavita, eu tenho um livro para lhe dar que eu lancei que é a “História dos Presidentes”, até o Bolsonaro.

CM: O Ricardo Cravo Albin acaba de lançar um livro que são as crônicas dele no Correio da Manhã, são 52 crônicas. Em todas elas ele “mete o pau” no Bolsonaro (risos). Então é o que eu estou dizendo, o jornal tem um selo na capa.

RB: Um não, ele tem dois selos um é “1302 dias Marielle de impunidade” e quem “Mandou matar o Bolsonaro 1025 dias?”. Explica eles para a gente.

CM: O selo da Marielle está na esquerda e do Bolsonaro à direita da capa (risos). O que não temos mais é a imprensa independente e imparcial. O jornalismo hoje quer ser agente político, quem assiste à TV Globo tem a impressão de estar vendo um canal de oposição.

WD: Mas ela é de oposição....

CM: Mas então assuma isso. Faça um editorial dizendo: “Nós não queremos o Bolsonaro no poder”. Não pode enganar o leitor. O Jornal da Barra, na campanha de 2018, fez um editorial na capa falando que iria apoiar o Eduardo Paes. Você tem que assumir o que vai fazer. É como se não tivesse nada de bom, o Brasil hoje está dividido e a Globo faz com o Bolsonaro o que ela fazia com o Lula, é impressionante. A crucificação do Lula. o “Lavajatismo”, a questão da mídia ir de cúmplice com o Sérgio Moro.

WD: Eu recebo de vez em quando, grupos de chineses, que eu dou a carta que else precisam para visitar o país. É um grupo e eu vejo que lá eles vendem o jornal, que dão 4 milhões à revista vende 12 milhões de cópias. Eu o questionei e ele disse que o Ocidente não entendeu ainda essa evolução. Ele ainda me disse a seguinte frase: “Os jornais não morrem porque eles estão sempre vivos na memória dos leitores”. Hoje, você não sai pra comprar pão e nem leite, muito menos o jornal, se não for entregue na sua mão. Como você vê isso?

CM: Eu brincava que ao sair para fotografar um evento, o dilema era se comprava um filme de 12, 24 ou 36 fotos. A Kodak acabou sumindo hoje em dia. Hoje, eu vou com um celular e faço fotos incríveis. A questão é força do conteúdo, nós temos que estabelecer em algo baseado em verdade e soberania dos fatos. Essa é fórmula, pode mudar a forma de distribuir isso, mas se você não trabalhar com a verdade e a soberania dos fatos, você vai estar fadado ao esquecimento.

RB: Magnavita, para finalizar, de tudo que você já noticiou, qual foi a mais impactante e que te deu mais prazer de noticiar?

CM: Foi uma manchete que eu dei dizendo que o falastrão foi para casa e que no mesmo dia que ele foi para casa, o Rio bateu recorde do Leilão da Cedae com R$ 22 bi. No mesmo dia havia duas boas notícias que foram tratadas juntas. Naquele dia, eu acompanhava a questão do leilão e do impeachment ao mesmo tempo, o que me deu a sensação naquele momento de que Deus é fluminense (risos).

RB: Muito obrigado Claudio Magnavita pela sua presença, foi um prazer enorme ter você aqui no Jogo do Poder.

CM: Obrigado Ricardo, aqui é minha casa. Não quero deixar de registrar que foi importantíssimo na minha vida minha passagem aqui. Tenho um carinho enorme pela família Martinez. Aqui, em São Cristóvão, vivi uma parte importante da minha vida. Então é um orgulho estar aqui. Uma entrevista boa é aquela que a gente olha e fala “nossa, já acabou” (risos).