Água suja da Cedae pode acabar em CPI

Mesmo que a qualidade da água distribuída pela Cedae volte ao normal, a crise política provocada pela gestão equivocada do governador Wilson Witzel está longe de terminar. Mesmo durante o recesso parlamentar, deputados estaduais iniciaram as articulações visando a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar uma série de irregularidades na companhia. Desta forma, a volta dos parlamentares à Assembleia Legislativa terça-feira (4) promete fortes emoções.

A iniciativa partiu de dois integrantes da bancada do PSL, Anderson Moraes e Alana Passos. A dupla começou a procurar os colegas para coletar as 24 assinaturas necessárias para que se comece a apurar a responsabilidade da direção da Cedae no caso da água fornecida com cheiro, sabor e odor alterados.

– Não queremos protagonismo e estamos buscando os outros deputados para que, juntos, possamos ter mais força para investigar esse absurdo que fizeram com a água que chega na casa dos cidadãos. Uma CPI pode atuar de forma mais incisiva – argumenta Moraes.

O texto do requerimento já está pronto e será encaminhado à Mesa Diretora logo na reabertura dos trabalhos legislativos. De acordo com o documento, a CPI vai cobrar da Cedae mecanismos de ressarcimento para os consumidores que foram obrigados a comprar água mineral durante os mais de 20 dias em que geosmina – composto orgânico produzido por algas – afetou a qualidade da água que chega nas torneiras.

O desmanche da companhia, anunciado com exclusividade pelo CORREIO DA MANHÃ em sua edição de 10 a 16 de janeiro, também será objeto das investigações dos deputados caso a CPI seja realmente criada. Desde que Hélio Cabral assumiu a presidência da companhia, a Cedae demitiu 54 engenheiros de carreira que trabalhavam diretamente no setor de controle de qualidade da água. Os deputados defendem o retorno dos técnicos à estatal.

Além disso, a comissão vai se debruçar sobre os danos à imagem da companhia, que faz parte de programa de privatizações do governo estadual. Avaliada em cerca de R$ 14 bilhões, o preço pode despencar em função da crise desencadeada por Cabral, um ex-diretor da Samarco e que responde na Justiça por participação no crime ambiental do desabamento da barragem da Vale em Brumadinho (MG). O executivo foi nomeado graças à cota política do Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC e guru do governador Witzel.

– É nítida necessidade de mais investimentos no sistema de tratamento de água. Toda essa crise pode pesar na definição do preço de mercado da Cedae – preocupa-se Alana Passos.