Estudo da Fiocruz recomenda vacinação infantil criticada por Bolsonaro

Por: Catia Seabra

A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) divulgou nesta terça-feira (21) uma pesquisa em que recomenda a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos. O anúncio ocorre cinco dias depois de o presidente Jair Bolsonaro (PL) criticar a imunização nessa faixa de idade, ameaçando expor o nome dos técnicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que autorizaram o uso do produto da Pfizer.

Segundo o estudo, com 74,95% da população imunizada com a primeira dose, o ritmo de vacinação cai a cada semana, chegando perto do zero –0,08%– por dia. Ainda segundo a pesquisa, há uma tendência próxima de estagnação, sincronizada "com o início do debate sobre efetividade da vacina e proximidade do limite de população elegível à vacinação".

Para os pesquisadores, "é essencial obter celeridade no processo de aquisição das vacinas com comprovada segurança entre crianças de 5 a 11 anos, aprovadas pela Anvisa em dezembro de 2021, para que este grupo fique protegido e, ao mesmo tempo, permita uma maior cobertura vacinal total".

Atualmente, 84,86% da população é elegível para vacinação, considerando-se os maiores de 11 anos. A análise teve como base a cobertura vacinal por estados, tendo como data de referência o último dia de cada semana epidemiológica. O período de referência corresponde à última semana de novembro.

O artigo está em preprint, quando é submetido à apreciação de outros cientistas antes de sua publicação integral, e traz o título "Como superar a estagnação da curva de cobertura vacinal de primeira dose contra Covid-19 no Brasil?".

Postado na segunda (20), o estudo recomenda "urgência" na aprovação da vacinação em crianças, aumentando a população elegível.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse nesta segunda (20) que o prazo de 5 janeiro para decidir sobre vacinação em crianças de 5 a 11 anos está mantido e que "a pressa é inimiga da perfeição".

A Anvisa concedeu autorização para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos com Pfizer na última quinta (16). No sábado (18), o ministério disse que adotaria procedimento mais longo para autorizar a imunização dessa faixa.

Já na quinta-feira Bolsonaro criticou a aprovação.

Segundo o estudo, o Brasil tem quatro fases bem marcadas na evolução temporal da cobertura vacinal de primeira dose. A primeira apresenta lenta progressão como resultado "da acomodação do início da vacinação e falta de imunizantes no período".

A segunda começa após aproximadamente dez semanas, quando atinge a população idosa abaixo de 70 anos. É seguida pelo aumento da velocidade da cobertura, iniciada com a vacinação de adultos abaixo de 60 anos. A desaceleração, marca da quarta etapa, é iniciada em setembro.

Ainda segundo o estudo, a velocidade de vacinação foi "sistematicamente" maior no Sul e Sudeste. O Norte tem população mais jovem, o que, segundo o estudo, pode parcialmente explicar a cobertura mais baixa nestes estados. "Observamos a persistência da grande desigualdade regional", acrescenta.