O coronavírus está entre nós

Por Ana Estela de Sousa Pinto, Bruna Narcizo, Paulo Saldaña (Folhapress) e Aécio Amado (Agência Brasil)

O Brasil registrou quarta-feira (26) o primeiro caso comprovado de paciente com coronavírus. Trata-se de um homem de 61 anos, morador da cidade de São Paulo, que esteve na região da Lombardia, no norte da Itália, entre os dias 9 e 21 de fevereiro. Ao retornar da viagem, na última sexta-feira (21), o paciente apresentou os sinais e sintomas compatíveis com a doença (febre, tosse seca, dor de garganta e coriza).

Atendido no Hospital Israelita Albert Einstein, o homem foi submetido a exames clínicos que apontaram a suspeita de infecção pelo vírus. Com resultados preliminares realizados pela unidade de saúde e de acordo com o Plano de Contingência Nacional, o hospital enviou a amostra para o laboratório de referência nacional, Instituto Adolfo Lutz, para contraprova, confirmando a infecção.

A indicação do Ministério da Saúde é manter prevenções básicas de higiene (como lavar as mãos com frequência) e, em caso de sintomas de gripe após viagem, procurar uma unidade de saúde. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que as pessoas devem ter bom senso na hora de avaliar a necessidade de viajar para países com muitos casos do coronavírus.

Não detectados

O Ministério da Saúde trabalha agora na fase chamada de contenção, com a identificação de casos. Dos 20 casos suspeitos, 11 são em São Paulo. O diagnóstico demora em média dois dias. O país já descartou 59 casos suspeitos. Mas o surto está apenas no início.

Até dois terços dos casos de coronavírus Sars-CoV-2 fora da China ainda não foram detectados, aponta um estudo coordenado pela epidemiologista Sangeeta Bhatia, uma das principais especialistas da equipe de combate à epidemia no Reino Unido.

A partir de dados do tráfego de pessoas entre o epicentro da epidemia chinesa (a cidade de Wuhan) e os principais destinos internacionais, Bhatia e colegas usaram métodos estatísticos para calcular a probabilidade de transmissão da doença.

Ela é pesquisadora do Centro de Doenças Infecciosas do Imperial College de Londres, um dos três mais respeitados programas de epidemiologia da Europa.

Bathia disse ao jornal que a ciência não sabe como as estações afetam o coronavírus e que lavar as mãos com água e sabão ainda é a melhor forma de evitar a propagação do vírus.

- É muito pouco o que sabemos sobre o contágio em crianças, mas, com base nos dados de adultos, se a dinâmica de infecção continuar constante, estamos detectando apenas 1 em cada 3 possíveis casos de portadores do vírus no mundo - diz a pesquisadora.

A prioridade dos cientistas agora é mapear como o vírus é transmitido por pacientes que não apresentam sintomas. Para entender a doença e determinar corretamente seus riscos, porém, é preciso preencher várias lacunas: a origem do vírus, o mecanismo exato de transmissão e o escopo de sintomas dos infectados.

Também não há ainda informação suficiente sobre como o clima afeta o coronavírus, o que torna “impossível dar qualquer resposta segura sobre se o verão reduziria os riscos de uma epidemia no Brasil”.

Enquanto se aguardam respostas da ciência, os brasileiros devem adotar os mesmos cuidados prescritos no hemisfério Norte, diz Bhatia.

Oportunidade

A Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) arma que o surto de coronavírus, que paralisou a produção na China, pode ser uma oportunidade para as fábricas brasileiras.

Segundo Synesio Batista, presidente da entidade, as fábricas da China precisam estar plenamente recuperadas até abril para atenderam aos pedidos relativos ao Dia das Crianças no Brasil, caso contrário, não conseguirão nem produzir e muito menos enviar os produtos até a data comemorativa em outubro. Pelo cenário atual, é pouco provável que a produção chinesa retome plenamente nos próximos dois meses.

- O que está se descortinando é a tempestade perfeita e, se eles não derem conta, nós estamos aqui preparados, com capacidade instalada e vontade de fazer - afirma Batista.

Atualmente, segundo a associação, os brinquedos chineses correspondem a 48% do que é vendido no mercado nacional. A indústria brasileira fica com os outros 52%.

Caso se concretize, a momentânea retomada em 2020 pode ser considerada histórica, na avaliação da entidade. Batista diz que as fábricas brasileiras operam com 40% da capacidade instalada.

- Não vejo impacto para o consumidor. Os brinquedos importados da China são de valor unitário pequeno. Esse tema não nos preocupa. O consumidor não pagará pelo coronavírus afirma Batista.