A cirurgia robótica em prol da medicina

A cirurgia robótica na urologia é, hoje, uma técnica importante por reduzir o tempo de permanência do paciente em um centro cirúrgico, ser menos invasiva e garantir uma recuperação mais rápida. No Brasil, em 2018, foram realizados mais de 8 mil procedimentos em todo o território nacional, ante 450 cirurgias realizadas em 2011, aponta o estudo da Intuitive Surgical. Em tempos de pandemia, esse procedimento oferece uma segurança adicional ao paciente, que não precisa ficar muito tempo em um hospital.


Especialista no assunto, o urologista Raphael Rocha é um dos pioneiros da técnica no país. Rocha participou da implementação da cirurgia robótica no Hospital Samaritano, estabelecendo o pioneirismo dela no Rio de Janeiro. Hoje, acumula experiência de mais de 1.000 procedimentos robóticos realizados, com total segurança para os pacientes.

Nesta entrevista ao Correio da Manhã, ele explica detalhes desse procedimento, os avanços tecnológicos na medicina e o futuro da cirurgia robótica no país.


Quais são as principais aplicações da cirurgia robótica?

A cirurgia robótica hoje é utilizada para fazer as principais cirurgias das diversas especialidades médicas, entre elas ginecologia, cirurgia geral, coloproctologia, cirurgia torácica e na minha especialidade, a urologia. Essas cirurgias, as principais feitas por robô, são as cirurgias oncológicas e, na urologia, a principal de tratamento do câncer de próstata, que é a remoção da próstata feita com robô. Mas é uma tecnologia usada para remoção de outros tipos de câncer, como intestino ou útero e cirurgias reconstrutivas dentro da cavidade abdominal e dentro da cavidade toráxica.


O procedimento é feito de forma autônoma? O médico interfere de que forma?

O robô não opera sozinho. Na verdade, ele é um instrumento tecnológico que reproduz com precisão todos os movimentos da mão do cirurgião na ponta de pinças bastante delicadas, além de prover uma visão tridimensional do campo cirúrgico, permiutindo ao cirurgião enxergar a cavidade abdominal ou torácica. O cirurgião opera de um console cirúrgico com um binóculo e tudo que ele faz com a mão é reproduzido com total precisão e com definição de imagem privilegiada.


Para quais tipos de câncer a robótica é indicada?

A cirurgia robótica pode ser usada em câncer de rins, próstata, bexiga, na cirurgia reconstrutora. Hoje se consegue por meio da cirurgia robótica quase todas as cirurgias da urologia. Entre as que não são feitas por robô estão as cirurgias de cálculo renal, que são feitas por via endoscópica.


Quais são os benefícios para os pacientes que se submetem à cirurgia robótica?

Os principais benefícios da cirurgia robótica são, por exemplo, o de promover melhor efeito cosmético se comparado a uma cirurgia convencional, já que são feitos “furos” de oito milímetros no abdômen para o procedimento. Há, claro, o benefício médico, com menor sangramento e menor tempo de hospitalização, além de uma recuperação mais precoce e um retorno mais rápido às atividades laborais. Outro ponto positivo está no fato de haver menos dor, menos chances de hérnia. Nas cirurgias de retirada de próstata temos também trabalhos demonstrando melhor benefício em relação ao retorno precoce dos resultados funcionais, ou seja, recuperação mais rápida da ereção e do controle urinário.


Quais profissionais estão habilitados para realizar cirurgias com o uso da robótica?

Os médicos que passam pelo treinamento e recebem a certificação da empresa que faz a manufatura do robô. A sociedade médica tem se organizado para cuidar dessa certificação. Depois que os médicos fazem o treinamento, existe um cirurgião mais experiente que acompanha os profissionais, supervisionando as cirurgias até que se tornem aptos a fazer sozinhos. Eu sou responsável por grande parte dos treinamentos de cirurgiões no Rio e por todo o Brasil e fazemos uma série de cirurgias supervisionadas.


Qual o futuro da cirurgia robótica?

Em relação a tecnologias que estão vindo, vale dizer que o robô é uma plataforma integrativa e não só uma ferramenta cirúrgica. Há uma grande inteligência artificial vindo, plataformas de realidade aumentada, softwares programados para que o exame do paciente seja integrado dentro do robô, de forma que, durante a cirurgia, você consiga ver em tempo real e em sobreposição de imagens, por exemplo, o tumor do paciente, diminuindo a chance de complicações. A realidade aumentada está começando a ser usada de forma clínica. Hoje já há a possibilidade com o robô de Integração com exames como um ultrassom transoperatório, que vem para a tela do cirurgião. O que está vindo é a inteligência artificial, integrada a uma plataforma Robótica, o que é um conceito muito bom porque o robô não é só uma ferramenta de operar e, sim, o concentrador de outras tecnologias integrativas.


A cirurgia robótica é bastante difundida em outros países. O que falta para que esse tipo de procedimento seja mais acessível no Brasil?

Nos EUA, mais de 80% das cirurgias de tratamento do câncer de próstata já são feitas por cirurgia robótica, assim como na Europa. No Brasil, ainda há uma limitação de acesso por conta do número de plataformas robóticas disponíveis. Lógico que o Brasil é um país bastante grande e não há robôs suficientes para operar a maioria das cirurgias. Mas em clínica privada provavelmente, hoje, a maioria das cirurgias de prostatectomia são feitas por robôs, principalmente nos grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo. É algo que está crescendo muito. Na minha clínica, por exemplo, já há mais de oito anos eu faço as cirurgias por robótica. São cerca de 30 por mês.