Por:

Brasília 60 anos: a história da atual capital federal

Criação da cidade fez nascer o estado da Guanabara, desmembrando, por 15 anos, a capital fluminense do Rio

Por: Marcelo Perillier

Desejo previsto desde a constituição de 1891, muitos políticos tentaram. Vargas, por duas vezes (1940 e 1953), foi quem chegou mais próximo de concretizá-lo. Contudo, cube ao corajoso Juscelino Kubitschek realizá-lo. Em 21 de abril de 1960, o então presidente do Brasil fez esse pedido: transferiu a capital federal do Rio de Janeiro para o interior do país. Brasília era inaugurada. E com ela, o novo centro político do país. Sua conseqüência foi a fundação do Estado da Guanabara, separando, durante 15 anos, a capital fluminense de seu estado.

JK, como era conhecido, foi eleito com um audacioso projeto socioeconômico. Chamado de “Plano de Metas”, ele pretendia tirar o país da sina agroexportadora e incluí-lo no setor industrial, além de transformar a nação em moderna e altiva.

Brasília se tornou o símbolo máximo desse plano, pois reuniu muita coisa dele. Interiorizou o país, trazendo pessoas para morar no “deserto”. Aumentou a indústria de base, para ter material próprio para a construção da capital federal. Fundou a indústria automobilística, para servir de locomoção entre as estradas do Distrito Federal e o litoral. E outras melhorias mais.

Em abril de 1956, JK protocola um projeto de lei que cria estabelecia a transferência da capital federal do Rio para o interior. Em setembro do mesmo ano, criou-se a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), responsável pelas obras de Brasília. O engenheiro Israel Pinheiro foi indicado como presidente da autarquia e o arquiteto Oscar Niemeyer, o mesmo que construiu o Complexo da Pampulha quando o próprio Juscelino era prefeito de Belo Horizonte, era o diretor técnico.

Ainda em 1956, JK visitou a região onde iria construir Brasília, nome dado para a cidade, e fez sua famosa proclamação: “Deste planalto central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino” No local, foi inaugurado, de forma improvisada, um palacete, chamado de “Catetinho” – uma referência ao Palácio do Catete, então sede oficial do Governo Federal – que existe até hoje, como museu.

Em março de 1957, o plano-piloto de Lucio Costa, inspirado no modernismo do francês Le Corbusier, um grande arquiteto da época, foi vencedor de um concurso público, feito pelo Ministério da Educação, para elaborar o projeto de urbanização de Brasília.

O projeto foi estruturado em torno de dois eixos monumentais dispostos em cruz com áreas utilizadas para fins comercial, industrial, residencial, administrativo, recreativo, cultural, etc. Com o objetivo de diminuir o problema de circulação de carros e pessoas, os cruzamentos foram eliminados, por meio de intersecção de avenidas em passagens de nível.

Entretanto, a topografia do local e o alto grau de necessidade de circulação fizeram com que o projeto, de cruz, virasse um avião. E prazo para tirar do papel e o por em realidade era curto: três anos e cinco meses. A data de inauguração da nova capital federal já estava marcada: 21 de abril de 1960, feriado de Tiradentes, considerado o “herói” independência do Brasil. Um mineiro que lutou pela liberdade da província de Minas Gerais perante o governo de Portugal.

Coube a Oscar Niemeyer, com toda a sua criatividade, criar formas simples, livres, nobres, claras, leves e belas para a cidade, além de considerar, também, seu aspecto funcional. Ou seja, as principais obras da nova capital federal, como o Congresso Nacional, a Catedral e as residências oficiais.

O Brasil não tinha tanto dinheiro para fazer as audaciosas metas de Juscelino, que fez empréstimos a bancos internacionais, já que rompera com o Fundo Monetário Internacional (FMI), para ter caixa. O CORREIO DA MANHÃ publicou várias notas e reportagens sobre o fato. Com títulos dizendo os bilhões de dólares pegos dessas instituições, foi além ao revelar dinheiro sendo retirado de autarquias nacionais, para o “investimento particular”. Em uma delas, manchete do jornal em 1959, revelou que o Palácio custou 300 milhões de cruzeiros, um valor relativamente alto para o período.

Faltando meses para a inauguração e ainda com obras a fazer, JK emitiu títulos da dívida pública e aumentou a saída de moedas no país. O resultado nos anos seguintes foi uma inflação desgovernada e uma astronômica dívida pública.

A oposição, liderada por Carlos Lacerda, queria a todo custo investigar a obra ou postergá-la para JK não inaugurá-la. Não conseguiu nem uma coisa nem outra, pois Juscelino tinha uma base sólida no Congresso. Estima-se que Brasília teria custado, para os padrões atuais, algo entre US$ 45 bilhões e US$ 83 bilhões, mas nunca foi descoberto, de fato, a quantia total para fazer o atual Distrito Federal.


ESTADO DA GUANABARA

Por conseguinte, no mesmo ano em que Brasília vira a nova capital do país, o Rio de Janeiro se transforma em estado autônomo. Durante 15 anos, a cidade funcionou como um estado próprio, chamado de Guanabara. A fusão entre o estado do Rio e a Guanabara, recriando o Estado do Rio de Janeiro, aconteceu em 1975, com uma Lei Complementar criada por Ernesto Geisel, então presidente da época.
Temendo perder o prestígio político, econômico e social conquistado desde 1808, quando a família real se instala na cidade, o Rio de Janeiro se baseia na constituição de 1946 e da lei San Tiago Dantas, de 14 de abril de 1960, para romper-se com o resto do estado e se autoproclamar uma cidade-estado, com o nome de Guanabara.

José Sette Câmara Filho assume interinamente o comando da Guanabara, até que em dezembro a população elege o primeiro governador oficial do estado: Carlos Lacerda (1960-1965). Depois dele vieram Negrão de Lima (1965-1970) e Chagas Freitas (1970-1975).

Durante esses 15 anos, a Guanabara se fortaleceu economicamente, já que tinha uma grande arrecadação (municipal e estadual), enquanto o Rio de Janeiro se empobrecia. No entanto, os militares criaram um projeto para reintroduzir a cidade do Rio ao Estado. No governo de Chagas Freitas foi inaugurada a Ponte Rio - Niterói, um símbolo que unia os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro. A obra foi o primeiro passo dado para outras medidas de reunificação, até que em 15 de março de 1975 a cidade do Rio se reincorporaria ao Estado do Rio de Janeiro, extinguindo o Estado da Guanabara e transformando-se novamente na capital fluminense, retirando o título de Niterói.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.