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EUA apertam o cerco a ilegais

Por Ricardo Della Coletta (Folhapress)

O governo de Donald Trump quer aumentar o número de voos fretados para a deportação de brasileiros por imigração irregular. Isso porque a quantidade de pessoas detidas ao tentar atravessar de forma irregular a fronteira dos EUA bateu o recorde de 18 mil em 2019 – e os americanos buscam soluções para acelerar o processo dessas expulsões.
O uso de aviões alugados para deportar imigrantes irregulares é prática antiga – e o governo americano arca com os custos. No entanto, o esquema vinha sendo pouco aplicado a brasileiros.
Ainda havia – da parte do Brasil – resistência política de governos anteriores em autorizar esses voos. No ano passado, o governo Trump fez uma consulta às autoridades brasileiras solicitando que mais voos fretados com deportados fossem autorizados.
Em 2019, o Brasil deu luz verde ao sobrevoo de uma aeronave para devolver 70 cidadãos que foram deportados dos EUA. O avião aterrissou em outubro em Confins (MG). Segundo a chancelaria brasileira, nos últimos anos há registro de um outro voo fretado em outubro de 2017.
Do total de brasileiros detidos no ano passado ao tentar atravessar a fronteira, a expressiva maioria entrou pela cidade de El Paso, no Texas, que faz fronteira com a mexicana Ciudad Juárez.
O avião que aterrissou em outubro em Minas, por exemplo, trouxe deportados que permaneceram detidos em El Paso. Pessoas desse grupo relataram ter ficado mais de 20 dias sob custódia em acampamentos.
Interlocutores no governo brasileiro dizem acreditar que os EUA querem mais voos fretados justamente para acelerar a deportação dos estrangeiros recém-ingressados de forma irregular que ainda estão sob custódia do CBP.
As pessoas nessa situação ainda não foram encaminhadas ao serviço de imigração e, em tese, podem ser devolvidas mais facilmente aos seus países de origem. Procurada, a Embaixada dos EUA em Brasília disse que o governo americano tem uma “excelente cooperação com o Brasil” nessa área.
Segundo a embaixada, “o Departamento de Segurança Interna está comprometido em reduzir o tempo que estrangeiros permanecem sob custódia do departamento e a desencorajar indivíduos, especialmente unidades familiares, a realizar viagens frequentemente perigosas aos EUA, sob o falsa aparência de que eles poderão permanecer no país”.
O pleito do governo Trump por mais aviões fretados se insere em um contexto de forte alta no número de brasileiros detidos ao tentar atravessar a fronteira dos EUA. Os 18 mil casos de 2019 representam um aumento de 600% em relação ao pico registrado em 2016, de 3.252 barrados.
O Itamaraty já atendeu outros pleitos de Trump para facilitar a deportação de brasileiros. A administração Bolsonaro retomou, por exemplo, uma prática iniciada no governo Temer, de conceder atestados de nacionalidade a imigrantes em processo de deportação que não dispõem de um documento de viagem válido.
Como no Brasil existe uma regra que só permite a emissão de identificação de viagem com pedido expresso do interessado, muitos brasileiros nos Estados Unidos preferiam não solicitar o documento, na esperança de que isso atrasaria a sua deportação.
Os consulados passaram então a expedir os atestados de nacionalidade mesmo sem a solicitação do interessado.

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