Inclusão social no mundo mágico da Turma da Mônica

Por Pedro Sobreiro

Muito antes da pauta inclusão ser assunto de debate na realidade Brasileira, Mauricio de Sousa já promovia a diversidade em suas histórias. E como as obras da MSP estão presentes no cotidiano de milhões de crianças ao redor do mundo, os gibis têm um papel fundamental na luta pela inclusão dos diversos segmentos sociais.

O primeiro personagem negro da Turma da Mônica foi Jeremias, em 1960. Desde então, ele foi evoluindo e ganhando uma maior valorização de suas raízes negras. Também veio o Pelezinho, um sucesso monstruoso de vendas e um dos favoritos da criançada nos anos 70. Em 2017, a MSP trouxe a menina Milena, e sua família composta exlcusivamente por pessoas negras debutou nos quadrinhos em janeiro de 2019. A partir dos anos 80, personagens portadores de necessidades especiais, como o Lucca, que é cadeirante, e a Dorinha – deficiente visual - passaram a fazer parte das historinhas da Turma da Mônica.

Em entrevista exclusiva ao “Correio da Manhã”, Mauricio contou de onde veio a ideia de criar personagens inclusivos:

- Eu geralmente fazia história em quadrinho baseado no que eu vivia. E eu achava que estava fazendo tudo certinho, baseado na minha infância, e de repente percebi que passaram-se alguns anos e eu não tinha criado nenhum personagem inclusivo. Portanto, eu estava errado. Porque, quando eu era criança, eu tinha amigos assim, com problemas de locomoção, de visão e tudo mais, e eu tinha me esquecido deles. Então, estudei bem cada caso, cada tipo de dificuldade e problema que a criançada tinha e, com esses estudos, fui criando os personagens”.

O menino Edu

O mais novo personagem a ser criado por Mauricio de Sousa é o menino Edu. Ele é portador da Distrofia Muscular de Duchenne. A ideia do projeto veio de Fábio Ivankovich, diretor-geral da multinacional farmacêutica Sarepta. A Distrofia do tipo Duchenne é caracterizada pela degeneração progressiva dos músculos. É uma doença ligada ao cromossomo X e costuma ser diagnosticada de forma tardia no Brasil. Quanto mais tarde ela for diagnosticada, menores as chances de sobrevivência da criança. Além de falar sobre a doença e da importância do diagnóstico precoce, Fábio comentou outro grande benefício que as três edições do projeto Edu causou na vida dos portadores de Duchenne:

Edu surgiu da iniciativa privada e ajudou crianças a se sentirem incluídas entre os amiguinhos.

- O Edu virou um instrumento de inclusão dessas crianças. Porque sejam elas cadeirantes ou não, acabam sofrendo bullying. Então, elas estão levando as revistinhas na mala pra contar a historinha do Edu pros colegas e, sem precisar falar, os colegas entendem: ‘Hm, o Edu é o igual a esse que esse amigo’. Então, essas crianças acabam acolhendo os meninos graças a isso. O que eu posso te dizer é: ‘Esse é o meu projeto de vida!’. Pra mim, a coisa mais fantástica que aconteceu na minha vida até hoje”.

Homenageado

Em setembro, Mauricio de Sousa foi homenageado no Senado por sua contribuição a favor da inclusão de pessoas portadoras de necessidades especiais. Enquanto isso, a Milena está sendo usada como ícone de perfil do Twitter oficial da Turma da Mônica e as histórias do Edu foram muito bem sucedidas. 

Esses são pequenos passos de um trabalho importantíssimo feito por um visionário das histórias em quadrinhos nacionais. Ele entendeu que o mundo é diverso e abriu o Bairro do Limoeiro para todos e todas. (