Cinema | O que esperar de Cannes?

Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã

Com a grife de Spike Lee à frente de seu júri, renovando com o diretor de “Faça a Coisa Certa” (1989) laços que não puderam ser estendidos em 2020, devido à pandemia, o Festival de Cannes confirmou a execução de sua competição deste ano para a data de 6 a 17 de julho, in loco, numa aposta de “ou é presencial ou não é”, embora já estude a necessidade de executar parte de suas ações on-line, caso a covid-19 siga forçando a barra.
O exemplo da Berlinale, que correu às mil maravilhas de 1º a 5 de março, com a vitória da comédia “Bad Luck Banging or Loony Porn”, do romeno Radu Jude, provou que a web pode ser uma boa saída para o grande circuito europeu de mostras competitivas.

Mas o diretor artístico cannoise, Thierry Frémaux, não arreda o pé do desejo de realizar a briga pela Palma de Ouro lá na Croisette, com tapete vermelho e tudo. Fala-se muito na escalação de uma produção da própria França –“Feu”, de Claire Denis, com uma conturbada relação amorosa envolvendo personagens vividos por Juliette Binoche e Vincent Lindon – para abrir a programação.

Diante do boom das narrativas de não ficção, fomentado pelas quarentenas e lockdowns, há quem aposte na escolha de um documentário para abrir Cannes: “The Occupied City”, dirigido pelo inglês Steve McQueen (de “12 Anos de Escravidão”). Realizado em paralelo à sua aclamada série “Small Axe”, hoje em cartaz na Globoplay, o longa-metragem parte de uma pesquisa da mulher de McQueen, a escritora Bianca Stigter, sobre a ocupação dos nazistas na Holanda. Mas há quem aposte pesado na escolha de um drama para abrir Cannes.

Durante o Festival de Berlim, o nome mais citado como atração de abre-alas da maratona francesa foi “King Richard”, de Reinaldo Marcus Green, por trazer Will Smith no que, segundo apostam, é “a” atuação de sua carreira, no papel do instrutor de tênis Richard Williams, pai das atletas Venus e Serena. Palpites não faltam. Eis aqui os do Correio da Manhã, acerca do que possa concorrer:

“LINGUI”, DE MAHAMAT-SALEH HAROUN: O aclamado realizador chadiano volta às talas para narrar as angústias de uma mãe muçulmana às voltas com o desejo de sua filha adolescente, grávida, de fazer um aborto. Haroun ganhou fama mundial há dez anos, ao conquistar o Prêmio do Júri de Cannes com “O Homem Que Grita”. À época, 2010, ele era o único diretor de longas de ficção em atividade no Chade. Hoje, é um dos nomes mais aclamados do continente africano.

“COW”, DE ANDREA ARNOLD: Laureada três vezes com o Prêmio do Júri de Cannes, por “Red Road” (2006), “Fish Tank” (2009) e “American Honey” (2016), a diretora inglesa volta com um documentário baseado na rotina de duas vacas, partindo delas pra abrir uma discussão moral.

“ANNETTE”, DE LEOS CARAX: Nove anos depois de “Holy Motors”, o inquieto diretor regressa com um drama musical sobre uma menina com de estranhos poderes, filha de um comediante (Adam Driver) e de uma cantora de ópera (Marion Cotillard).

“CHOCOBAR”, DE LUCRECIA MARTEL: Quatro ano depois do aclamado “Zama”, a diretora argentina aposta nas narrativas documentais, explorando os bastidores políticos da morte do militante indígena Javier Chocobar por latifundiários.

“BENEDETTA”, DE PAUL VERHOEVEN: Esperado desde 2019, o novo longa-metragem do gênio por trás de “Elle” (2016) promete polêmica ao explorar (e devassar) as mitologias católicas a partir da saga de uma freira do século XVII, dotada de poderes especiais, que entra em ascese ao viver uma paixão lésbica. Virginie Efira assume o papel principal.

“THE CARD COUNTER”, DE PAUL SCHRADER: Finalizado durante a pandemia, o esperadíssimo novo filme do realizador de “First Reformed – Fé Corrompida” (2017) traz Oscar Isaac como um jogador de cartas profissional que tenta controlar um novato (Ty Sheridan) às voltas com uma cruzada de vingança.