Novos sons da diáspora africana

Nova Malandragem, banda instrumental oriunda das periferias da região metropolitana de São Paulo, uniu a escola percussiva brasileira com o brilho da orquestra de metais em seu homônimo EP de estreia. O trabalho revela muita negritude e uma inevitável conexão com ancestralidades, abrindo novos caminhos e possibilidades na cena instrumental contemporânea. E assim o samba rock se une ao jazz em um caldeirão explosivo de referências. O trabalho está sendo lançado selo Mundaréu Paulista com produção musical de Marco Mattoli e Maurício Tagliari, e pode ser ouvido nas plataformas digitais.

A banda surgiu em setembro de 2017 numa ideia de desenvolver um trabalho de educação musical nas escolas públicas da Grande São Paulo e desde então, a Nova Malandragem seguiu modelando seu repertório dentro da dinâmica dançante dos bailes de samba-rock.

Atualmente, o grupo é formado por 13 integrantes: Luan Charles e Atila Silva (trompetes), Everton Martins e Ian de Souza Arruda (trombones), Danilo Rocha (sax alto), Léo Brandão (sax tenor), Wellington Souza (sax barítono), Mateus José (baixo elétrico), Gabriel Cartocci (guitarra), Matheus Marinho (bateria), Lucas Souza, Danilo Rodrigues e Clency Santana (percussões), vindos na sua maioria das periferias de São Paulo, e estudantes da Escola do Auditório Ibirapuera. Lá estudaram com grandes nomes da música instrumental brasileira, como Nailor Proveta e Walmir Gil, Edson Alves (Banda Mantiqueira), Maestro José Roberto Branco (Banda Savana).

“A Escola do Auditório Ibirapuera foi, para a maioria de nós, um espaço de (re)conhecimento e descoberta dessa plêiade de gêneros musicais que compõem aquilo que hoje chamamos de Música Popular Brasileira. Foi lá, ao lado de renomados maestros, músicos e professores, que pudemos desenvolver uma formação voltada à produção artístico-musical de uma afro diáspora brasileira ainda muito pouco estudada em conservatórios e universidades do Brasil”, conta Luan Charles., um dos fundadores do grupo.

Além de faixas autorais, se destacam no repertório uma versão instrumental surpreendente de “Moanin”, clássico de Art Blakey que também ficou conhecido nas versões de Charles Mingus e Ray Charles; e o samba “Gravidade”, com os vocais da cantora e compositora Roberta Gomes.

“O desejo latente em nosso trabalho é de que a música esteja intrincada a todo e qualquer espaço possível de aquilombamento negro, tendo em vista a promoção de um espaço similar ao que Abdias Nascimento um dia chamou de Quilombo: um espaço de ‘reunião fraterna e livre’”, comenta Luan.