Após dispersão da cracolândia, usuários de droga ocupam 16 pontos no centro de SP

Por: Mariana Zylberkan 

Ao menos 16 pontos do centro de São Paulo foram ocupados por usuários de drogas ao longo dos dois últimos meses, após a ação policial que esvaziou a praça Princesa Isabel, onde funcionava a cracolândia.

Integrantes do LabCidade (Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade) têm percorrido a região e mapearam os pontos de concentração de dependentes químicos, e a quantidade de pessoas vista em cada local.

"Identificamos os lugares onde o fluxo tentou se fixar em alguns momentos, mas foi impedido pela polícia", diz o pesquisador Giordano Magri. "Antes, o impacto social da cracolândia atingia quatro quarteirões no entorno da praça Júlio Prestes, agora afeta um perímetro quase oito vezes maior", continua.

A dispersão de usuários passou a ocorrer de forma mais frequente no início de 2020, quando a prefeitura fechou os centros de acolhida e outros equipamentos voltados ao atendimento dos usuários de drogas perto do fluxo - como é chamada a aglomeração de frequentadores e traficantes, e se acentuou após a ação policial.

O mapeamento identificou a rua dos Gusmões na esquina com a avenida Rio Branco, na Santa Ifigênia, como o ponto de maior aglomeração, onde foram contabilizadas mais de 400 pessoas nos últimos 15 dias.

A maior parte dos pontos concentra grupos menores de usuários, o que reforça a tese de espalhamento da cracolândia. Dos 16 lugares mapeados, 6 tinham entre 20 a 40 pessoas e outros 4, de 100 a 120 indivíduos.

"O mapa desmonta a falácia da prefeitura que diz ter diminuído a frequência de usuários de drogas no centro da cidade após a ação policial. Não ter mais um ponto único que os reúne não quer dizer que a cracolândia diminuiu, apenas que está espalhada", diz Magri.

As gestões do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Rodrigo Garcia (PSDB) defendem a dispersão como uma estratégia eficiente de enfraquecer a relação entre dependentes químicos e traficantes e, assim, convencer mais pessoas a buscar tratamento.

"Nós temos muito menos dependentes químicos [na região] hoje do que tínhamos no começo do ano. É uma luta permanente", disse o governador na última quinta-feira (7).

O pesquisador do LabCidade critica a falta de métricas por parte da prefeitura que estabeleça a efetividade das ações praticadas nos últimos dois meses. "Não tem como analisar o acompanhamento dessas pessoas. Sem isso, não existe atendimento efetivo", diz Magri.

O prefeito anunciou para as próximas semanas a inauguração de mais dois Caps (Centro de Assistência Psicossocial) na região central. As unidades são voltadas ao tratamento de pacientes psiquiátricos.

CONFLITOS NO CENTRO

O deslocamento constante de usuários de drogas pelo centro tem provocado atritos com moradores e trabalhadores.

Na última quarta-feira (6), houve confronto entre comerciantes da região da Santa Ifigênia e usuários que estavam no fluxo da rua dos Gusmões.

Vídeos gravados com câmeras de celular mostraram funcionários dos estabelecimentos comemorando a dispersão após alguns dependentes terem sido atingidos por paus e pedras. No dia seguinte, lojistas organizaram um protesto pedindo mais segurança.

Atos semelhantes, porém sem violência, foram articulados por moradores do bairro Campos Elíseos.