Coluna Ricardo Cravo Albin: ecos das ruas e dos bailes

A volta do carnaval de rua é um fenômeno que se esboçou na década de 90. Ou melhor: sua primeira manifestação veio com a Banda de Ipanema, sob a batuta do bamba Albino Pinheiro. Mas o miolo do Centro do Rio sempre foi o berço de origem do carnaval de rua desde o século XIX.

São precisamente elas, as ruas, que voltaram a comandar a sedução sem paralelos da alma carioca. Tantos são os blocos que a municipalidade ameaça a cada ano intervir para que a cidade não pare e para que o cheiro de urina dos foliões não infecte a cidade. Devo confessar que algum controle a Prefeitura deve prover para que os cidadãos não sofram incômodos de trânsito, de sujeiras insuportáveis, de odor de urina em cada poste ou árvore. Mas, atenção, eu disse algum controle, a que devo agregar imediatas considerações fundamentais, tais como: não interferência truculenta, não mandonice unilateral. Não há por que existir imposição monocrática do dizer o que é certo ou errado em relação à alma do povo, às fantasias, às músicas ou mesmo ao número de adesões aos blocos dos corações de cada folião.

A cronista, escritora, jornalista e minha doce amiga Eneida de Moraes (doce sim, mas enérgica quando lhe pisavam nos calos, sobretudo os ideológicos...), sempre dizia que em festa espontânea do povo nenhuma autoridade deveria meter a colher, o espontâneo é o espontâneo, e a mandonice policialesca é a mandonice policialesca, pregava ela em seu livro clássico (e pioneiro) “História do carnaval carioca”.

E com razão. Até porque historiadores, sociólogos e mesmo políticos mais sensatos sempre repetiram o velho pregão “eneidiano”. Portanto, há que facilitar a vida de uma cidade pulsante e festeira como o Rio. Mas nunca lhe subtrair aquilo que é o mais importante, a alma, o comportamento espontâneo. Em uma palavra – aquilo que todos procuramos e não possuímos – a essência da alegria: a felicidade.

Outro provocador da revitalização do carnaval carioca é a volta dos bailes carnavalescos, tradição dos primórdios do carnaval no século XIX. Eles se inauguraram em pleno reinado de Pedro II para a elite e a aristocracia se divertirem. Esses bailes – tradição nos clubes e nos hotéis (até no Teatro Municipal do Rio dos anos 40 aos 60) - têm hoje seu foco de esplendor no baile do Hotel Copacabana Palace.

Costumo dizer que o Baile do Copa pode ser considerado o baile mais sedutor, único e original do mundo. O que, acreditem, não é exagero. Tal como as escolas de samba são hoje o mais radioso espetáculo de arte popular e de espontaneidade que qualquer povo pode produzir.

O Baile do Copa exibe a cada ano uma decoração variada que encanta e seduz suas centenas de frequentadores. Ele se dá o privilégio de não apenas servir as mais refinadas iguarias em seus bufês, mas também de contratar dezenas de figurantes – devidamente fantasiados – para sustentar a animação nos seus salões. Ou seja: luxo, beleza, qualidade e glamour. Em resumo, o carnaval do Rio esbanja diversidade embriagadora.

E também possibilidades concretas de que volte a alegria nestes tempos sombrios.