Coluna Magnavita: O presente de aniversário do governador

 O patrocínio de R$ 20.500.000,00 da Refit, maior devedor do estado, garantiu a mordomia do super camarote da Sapucai

Por Claudio Magnavita*

O Ministério Público Federal está de olho também na atuação do Governo Witzel, na fase um pouco anterior a pandemia.

Lá, o senso de impunidade corria solto no estado e algumas linhas do bom senso foram ultrapassadas, como o mega camarote do governo no Sambódromo, coordenado pessoalmente pela advogada Helena Witzel, que visitou a obra várias vezes, cuidou dos detalhes, inclusive da lista de convidados.

O espaço foi o triplo dos anos anteriores, incorporando o espaço do prefeito e todas as frisas daquela ala. Foi servido um catering top, inclusive uísque 12 anos, coquetel e jantar. Helena e o governador tiveram a disposição duas áreas vips privadas, uma para convidados renomados, e uma outra só para familiares.

O que seria uma ação de relações públicas ganha contornos nebulosos, que precisam ser apurados, principalmente sob a luz das investigações que estão em andamento.

O Governo do Estado procurou arranjar patrocínios para a Liesa (Liga das Escolas de Samba) com a iniciativa privada, para aliviar os aportes públicos. A missão foi delegada a Ruan Lira, subsecretário de Eventos, ligado à Casa Civil, utilizando as leis de incentivo do ICMS.

Vários patrocinadores recusaram, com receio das duras regras de compliance, pelos problemas que afetam alguns dirigentes de escolas de samba.

No dia do aniversário do governador, 19 de fevereiro, em uma reunião no Palácio da Guanabara, reunia festivamente secretários, assessores e amigos, chegou o grande presente para o aniversariante: o patrocínio de R$ 20.500.000,00, isso, R$ 20 milhões e 500 mil reais, para o Carnaval do Rio, havia sido confirmado sem precisar do uso da lei de incentivo. Todos brindaram e governador agradeceu aos patrocinadores.

O que desperta atenção dos investigadores é o fato do patrocinador ser a Refit, nome fantasia da Refinaria Manguinhos, que está em recuperação judicial e é o maior devedor de impostos do próprio Governo do Estado. O valor da dívida supera R$ 5 bilhões, seis vezes o que o Governo esta pagando pelos hospitais de campanha do Iabas.

Além do fato do governo inverter o papel e ficar devedor de um favor do seu maior devedor, existe um agravante. Sabe quem pagou toda a mordomia do camarote do Governador, inclusive as caixas de uísque 12 anos? A Liesa, e o próprio Palácio confirmou que todo o serviço havia sido pago pela Liga das Escolas de Samba. Como as escolas estavam na penúria, com orçamento deficitário para pagar o próprio Carnaval, foi exatamente o patrocínio da Refit que irrigou a mordomia estadual, que teve a primeira-dama Helena e o governador Witzel como anfitriões de pelo menos 500 convidados por dia.

Presente no desfile das escolas do Rio, o governador de São Paulo, João Dória, que briga na justiça para receber R$ 2,5 bilhões da Refit, ao saber que o Estado do Rio havia pedido ao seu devedor os R$ 20.500.000,00 para o Carnaval, ele foi curto e grosso: “Dá Refit, o Estado de São Paulo cobra e não pede nada”.

Representando a Refit nos dias de desfile estava o advogado brasilense, Marcos Joaquim Gonçalves, que foi alvo, no ano passado, da operação Grand Bazar da Polícia Federal, e teve valores bloqueados na sua conta. Ex-advogado do ex-deputado Eduardo Cunha, Marcos Joaquim foi visto no sábado de Carnaval almoçando no restaurante Rubaiyat, com o então chefe da Casa Civil do governo do Rio, André Moura.

Quando o depósito dos 20 milhões caiu na conta da Liesa, Ruan Lira comemorou nas redes sociais: promessa feita, promessa cumprida!

Com um exemplo deste e boa parte do primeiro escalão do estado achando normal brincar em um super camarote, digno de uma cervejaria, com tudo pago indiretamente pelo maior devedor do próprio governo, como se poderia esperar uma atitude diferente de um subsecretario de Saúde diante de verdadeiro tesouro das arábias?

Esta relação da Refit com o Governo do Estado precisa ser investigada e, nesta equação, além de ter o casal Witzel, deve se incluir o subsecretário Ruan Lira e o secretário Lucas Tristão, que intermediou o patrocínio.


*Claudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã