Gilmar: Janot tem um problema psiquiátrico

Por Ricardo Balthazar, Fábio Fabrini, Ítalo Nogueira, Thais Arbex e Camila Mattoso (Folhapress)

O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse sexta-feira (27) que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot é um “potencial facínora”. Ele também atribuiu ao ex-procurador-geral um “grave problema psiquiátrico”, sustentando que isso atinge todas as medidas que apresentou e foram deferidas pela corte.

A crítica não foi gratuita. Gilmar comentava uma revelação feita por Janot à “Folha de S.Paulo”, na quinta-feira, e a outros veículos de imprensa. Na ocasião, o ex-procurador-geral afirmou que, certa vez, entrou no STF armado com uma pistola com a intenção de matar Gilmar Mendes, por causa de insinuações que este fizera sobre sua filha em 2017. Janot disse também que, depois do homicídio, iria suicidar-se.

- Os senhores sabem que eu fui, no Supremo Tribunal Federal, sempre um crítico dos métodos do procurador Janot. Divergências de caráter intelectual e institucional. Não imaginava que nós tivéssemos um potencial facínora comandando a Procuradoria-Geral da República - declarou Gilmar na saída de um evento no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Gilmar também criticou a escolha de Janot para o cargo:

- Imagino que todos aqueles que foram os responsáveis por sua indicação (ele foi duas vezes procurador-geral) devem estar hoje pensando na sua alta responsabilidade em indicar alguém tão desprovido de condições para as funções.

Janot narra o episódio no livro de memórias que está lançando este mês, sem nomear Gilmar, mas confirmou sua identidade ao ser questionado em entrevista: 

- Tenho uma dificuldade enorme de pronunciar o nome desta pessoa - disse o ex-chefe da PGR.

Em maio de 2017, como procurador-geral, Janot pediu a suspeição de Gilmar Mendes em casos do empresário Eike Batista, que se tornara alvo da Lava Jato e era defendido pelo escritório de advocacia do qual a mulher do ministro, Guiomar Mendes, é sócia.

O ministro do STF reagiu levantando suspeitas sobre a atuação da filha do procurador, Letícia Ladeira Monteiro de Barros, que representara a empreiteira OAS no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

“Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha”, diz Janot no livro. “Só não houve o gesto extremo porque, no instante decisivo, a mão invisível do bom senso tocou meu ombro e disse: não.”

Na entrevista à revista “Veja” e ao jornal “O Estado de São Paulo”, ele disse que seu plano era matar Gilmar Mendes antes do início da sessão no plenário do STF. “Na antessala, onde eu o encontraria antes da sessão”, afirmou. O ex- -procurador disse que não entrou no plenário do tribunal armado.

De acordo com o ex-procurador, que se aposentou em abril deste ano e voltou à advocacia, o episódio ocorreu perto do fim do seu segundo mandato à frente da Procuradoria-Geral da República, que ele chefiou por quatro anos.

Em seu livro de memórias, “Nada menos que tudo” (Editora Planeta), escrito com a colaboração dos jornalistas Jailton de Carvalho e Guilherme Evelin, Rodrigo Janot faz um balanço de sua atuação à frente da Operação Lava Jato e rebate as críticas que recebeu durante sua atribulada gestão.

Também na sexta-feira, e em tom bastante irônico, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse esperar que a Polícia Federal retire o porte de armas do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. A declaração foi dada durante participação de evento na FGV (Fundação Getúlio Vargas), no Rio de Janeiro, sobre parcerias públicos privadas.

- Pelo menos espero que a Polícia Federal já tenha tirado o porte de arma dele. Pelo menos isso, para a gente ficar um pouco mais tranquilo. Esse é o Brasil - disse o presidente da Câmara.

Maia disse ainda que a revelação pode afetar os investimentos privados no país por despertar o clima de insegurança jurídica entre as instituições:

- Temos que ter projeto e segurança jurídica para os investimentos. A parte do parlamento, principal, é justamente garantir a segurança jurídica, junto com o Executivo, claro. Mas o Brasil é um país estranho. Cada dia é uma novidade. Hoje descobrimos que o procurador-geral queria matar um ministro do Supremo. Quem é que vai querer investir num país desse?