"Filhos são fonte de autoconhecimento"

Por Marcelo Perillier

Catarinense, mas carioca de criação, o cantor e compositor  Madu (Madureira) entrou no mundo da música aos cinco anos, na Escola de Música de Blumenau, com aulas de violino e violão. Deu canjas no Baixo Gávea e no Posto 9 até abraçar a carreira de forma profissional.

O artista, que acaba de lançar o EP “Estudando Tom Zé”, com releituras de cinco canções do tropicalista, fala neste fim de semana do Dia dos Pais sobre a relação com os filhos que cria sozinho.

Qual a maior dificuldade em ser pai e  mãe ao mesmo tempo?

Madu – Minha maior dificuldade é me fazer entender pelo diálogo. Crianças e adolescentes não tem a personalidade madura o suficiente para essa compreensão e pedem inconscientemente o limite. Quando é dado, nos confrontam, mas me parece que se sentem mais protegidos e preparados. A mãe se faz presente como pode, mas moram tempo integral comigo mesmo, pois posso dar a eles uma melhor condição de vida. Conciliar minha arte e o meu trabalho com a intensidade dessa relação e a rotina da casa tem sido um desafio diário há muitos anos. Mas o amor e a escuta só melhoram essa construção de afeto.


Você acha que crianças sentem falta de uma figura materna em casa? Por quê?

Madu - Acredito que a relação de um filho com a mãe é única. É claro que cada família tem o seu desenho. Na sua maioria o protagonismo doméstico é da figura materna, mas muitas mulheres não se fazem tão presentes, mas podem desempenhar a maternidade através do exemplo e da força que, felizmente, hoje a mulher tem nas relações sociais e de trabalho. A presença da mãe na rotina da criança é fundamental e necessária, mas a autonomia da mulher contemporânea é justa e necessária e pode ser fundamental na formação do caráter dos filhos.

Foi difícil aprender a fazer alguns afazeres domésticos, como cozinhar e limpar, já que eles, ainda no século XXI, estão mais ligados à figura feminina?

Madu - Fui bem treinado nessa lida com os afazeres domésticos. Gosto de tornar meu espaço limpo e aconchegante. Na infância já entendia que cuidar da própria louça, roupas e ter um ambiente limpo e organizado nos potencializa e nos capacita para o melhor desenvolvimento pessoal e profissional. Difícil é passar essa mensagem para as crianças, que muitas vezes não acreditam que essa determinação se faz necessária.

Como está sendo conciliar a casa, a carreira e a educação dos filhos nesta pandemia?

Madu - Pude ser ainda mais presente durante esse tempo pandêmico. Meu canto ficou em casa e ficamos mais introspectivos. Ficou evidente pra mim a importância do ensino presencial para as crianças e adolescentes. O brilho dos relacionamentos e do conhecimento que se dá na escola é fundamental para a rotina em casa. Aos poucos tenho as manhãs de novo pra mim, e assim sigo trabalhando e estudando em parte do dia sem que a palavra “pai” passeie pela casa em tempo integral.

Você se sente um herói para seus filhos?

Madu - Sinto-me forte e importante, mas acreditar em heroísmo é um equívoco. Somos humanos, com erros e acertos. Filhos são fonte de autoconhecimento. Me transformo por eles e com eles. Não perder o visgo pela paternidade é o que desejo para mim e para todos os pais.