Sem ano de ressaca, esporte olímpico terá vários Mundiais em 2022

Por: Daniel E. de Castro

O ano seguinte à realização de Jogos Olímpicos costuma permitir certo relaxamento a atletas que optam por recuperar as energias rumo ao próximo ciclo. Esse, porém, não será o caso de 2022.

Com o adiamento de Tóquio-2020 para 2021, ocasionado pela pandemia da Covid-19, o calendário que antecede as Olimpíadas de Paris-2024 ficou mais curto. Desta vez, o ano da "ressaca" pós-Jogos será substituído por um ano repleto de Campeonatos Mundiais e já com o início de processos de classificação para a edição francesa.

"Estou curioso para ver como a gente vai lidar com esse período mais curto para os Jogos", disse o diretor de esportes do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Jorge Bichara.

Além do atípico ciclo de três anos de preparação, ele manifesta preocupação com o impacto que a pandemia continua a exercer no cenário esportivo internacional, agora sob a ameaça da variante ômicron.

"Mas seguimos com os mesmos objetivos: trabalhar bem próximo das confederações, dos clubes, acompanhar nossos principais atletas, manter o desempenho das modalidades em que conquistamos medalhas e ampliar o número de modalidades medalhistas", completa o dirigente.

Os esportes aquáticos, que deram três medalhas ao Brasil em Tóquio, voltarão ao Japão para o Mundial de Fukuoka, a partir de 13 de maio.

O evento terá início apenas cinco meses após o Mundial de piscina curta (25 metros), realizado neste mês de dezembro, em Abu Dhabi. Nele, o país conquistou uma medalha de ouro com Nicholas Santos nos 50 m borboleta –distância não olímpica– e duas de bronze, no revezamento 4 x 200 m livre e nos 50 m peito –também fora do programa olímpico–, com João Gomes Júnior.

Bruno Fratus, medalhista de bronze em Tóquio nos 50 m livre, terá seu próximo grande teste em Fukuoka. Ana Marcela Cunha, ouro na maratona aquática e que ainda faturou o pentacampeonato do circuito mundial no fim deste ano, buscará na competição a única grande conquista que ainda lhe falta, na prova de 10 km (a mesma disputada nos Jogos).

A partir de 15 de julho será a vez do Mundial de atletismo, em Eugene, nos Estados Unidos. Alison dos Santos e Thiago Braz, medalhistas de bronze em Tóquio, respectivamente nos 400 m com barreiras e no salto com vara, novamente brigarão para se manter entre os melhores do mundo.

O Mundial de judô, em Tashkent (Uzbequistão), será realizado a partir de 7 de agosto, com o peso de primeiro grande teste da nova comissão técnica da seleção nacional. A equipe feminina passou a ter como treinadora principal Sarah Menezes, primeira brasileira campeã olímpica do judô, em 2012. Os homens agora são comandados por Kiko Pereira, formador de Mayra Aguiar e Daniel Cargnin, ambos medalhistas nas últimas Olimpíadas.

O vôlei também terá seus Mundiais no próximo ano. O masculino, na Rússia, com início em 26 de agosto, e o feminino, na Holanda e na Polônia, a partir de 23 de setembro. No basquete, só o torneio feminino acontecerá em 2022, na Austrália, a partir de 22 de setembro –a seleção brasileira ainda disputará um torneio qualificatório em fevereiro.

O Mundial de ginástica artística ocorrerá em Liverpool, em outubro, ainda sem data confirmada. Rebeca Andrade, que depois de um ouro e uma prata nos Jogos repetiu a dobradinha de medalhas no Mundial de Kitakyushu, tentará brilhar novamente.

Depois de um 2022 repleto de grandes eventos, 2023 já será ano pré-olímpico e de Jogos Pan-Americanos, em Santiago. Por isso, para o COB, apesar de a temporada 2021 mal ter acabado, o pensamento já é de quem está no meio do ciclo de Paris.

O segundo semestre teve resultados animadores, principalmente de atletas jovens, em Mundiais de várias modalidades. Entre os destaques estão o ouro no salto e a prata nas barras assimétricas de Rebeca; a dobradinha de Pâmela Rosa e Rayssa Leal na Street League Skateboarding; o pódio triplo de Gabriel Medina, Filipe Toledo e Italo Ferreira na World Surf League; e as pratas de Marcus D'Almeida, no Mundial de tiro com arco, e de Keno Marley Machado, no Mundial de boxe.

As velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, bicampeãs olímpicas, levaram o bronze no Mundial da classe 49er FX. No Mundial de levantamento de peso, o país conquistou duas medalhas inéditas com mulheres: Laura Amaro, prata no arranco na categoria até 76 kg, e Amanda Schott, bronze no arranco na categoria até 87 kg.

Diferentemente da competição das Olimpíadas, que só considera a soma final dos pesos, o Mundial dá medalhas separadas para os resultados obtidos nos movimentos de arranco e de arremesso.

Outros resultados positivos em diferentes Mundiais, ainda que sem medalhas, foram a presença do mesatenista Hugo Calderano nas quartas de final, quando levou a virada do chinês Liang Jingkun e parou a um jogo do pódio, e a campanha da seleção feminina de handebol até a mesma fase.

Após a aposentadoria de sua jogadora mais consagrada, Duda Amorim, a equipe comandada pelo técnico Cristiano Rocha fez uma boa participação e obteve o melhor resultado desde o título de 2013.

Nos Jogos Pan-Americanos Júnior de Cáli, evento sub-23 realizado pela primeira vez em novembro, o Brasil terminou na primeira posição do quadro de medalhas.

O segundo semestre também teve movimentação do COB para preparar a operação de Paris-2024. Em outubro, o comitê fez a sua terceira visita ao país-sede. Além de ir a Paris, visitou Marselha, que receberá a competição de vela, para escolher o local que abrigará uma base da delegação.

Como os custos na capital francesa e seus arredores são altos, segundo Bichara a ideia do COB é ter o mínimo necessário de bases na França e manter as equipes em outros países europeus, nos quais já estão acostumados a trabalhar, até pouco tempo antes das competições.

O centro de treinamento de Rio Maior, em Portugal, que abrigou treinamentos brasileiros desde 2020, deve ser um ponto importante de preparação.

Todo esse planejamento, é claro, depende de a pandemia não ser mais um obstáculo daqui a dois anos e meio, fator que o esporte e o mundo ainda não podem se dar ao luxo de desconsiderar.