Racha em Honduras elege dois chefes do Congresso às vésperas de posse presidencial

Por: Sylvia Colombo

Uma crise dividiu o Congresso de Honduras a dois dias da posse da nova presidente, a esquerdista Xiomara Castro. Em cerimônias separadas nesta terça-feira (25), dois líderes foram eleitos para chefiar a Casa, como se houvesse a instalação de duas legislaturas.

A confusão se deu devido a um racha no Libre (Libertad y Refundación), partido da mandatária eleita. Um grupo de 18 deputados dissidentes, com apoio de legendas de direita, escolheu Jorge Cálix como presidente, em uma reunião realizada num clube social em Zambrano, localidade turística próxima à capital Tegucicalpa.

Paralelamente, no edifício do Congresso, 65 parlamentares fiéis ao Libre –o Congresso hondurenho tem 128 deputados– ajudaram a eleger Luis Redondo, do Partido Salvador de Honduras, que apoia Xiomara.

A presidente eleita acusa de traição os dissidentes de sua sigla. Ela capitaneou um movimento para expulsá-los da legenda e afirma que eles se aliaram ao conservador Partido Nacional –de Juan Orlando Hernández, que se prepara para deixar a chefia do Executivo– em troca de favores políticos.

JOH, como ele é chamado, é acusado nos Estados Unidos de ligação com o narcotráfico e vem buscando acordos que possam lhe conferir imunidade e evitar uma possível extradição a Washington.

Na última sexta-feira (21), os enfrentamentos entre as duas correntes do Libre resultaram em trocas de socos e pontapés no plenário do Congresso. Xiomara afirmou que considera Redondo o legítimo líder do Legislativo. "É necessário que parem de violentar nossa democracia. As decisões do povo têm de ser cumpridas de modo pacífico."

Enquanto isso, em Zambrano, Cálix, o escolhido entre os dissidentes, disse que "este Congresso falará por meio de atos e resultados". E completou: "Vamos fazer deste poder do Estado o mais transparente e a serviço dos hondurenhos".

Xiomara deve tomar posse na Presidência nesta quinta (27). Para a cerimônia estão previstas as presenças da vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, do rei da Espanha, Felipe 6º, dos presidentes de El Salvador, Nayib Bukele, e do Panamá, Laurentino Cortizo, do Panamá, além da vice argentina, Cristina Kirchner. O México enviará o chanceler Marcelo Ebrard.

O governo Jair Bolsonaro (PL) não terá enviados, sendo representado pelo embaixador Breno da Costa. Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, houve certo mal-estar diplomático com o fato de a hondurenha ter despachado convites para sua posse aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT –o marido de Xiomara, Manuel Zelaya, governou o país e ficou refugiado na embaixada do Brasil após sofrer um golpe de Estado na época em que Lula estava no poder. Os petistas, porém, tampouco devem estar presentes em Tegucigalpa.

A crise no partido e a existência de dois Congressos são fatores que por óbvio dificultam a agenda de reformas que a esquerdista vinha prometendo colocar em marcha desde a campanha.

Entre os principais desafios de Honduras estão a situação econômica –agravada ainda pela pandemia e por catástrofes climáticas–, que teve uma contração do PIB de 9% em 2020. Segundo dados do Banco Mundial, mais de 55,4% da população vive abaixo da linha da pobreza.

Associadas à violência da disputa entre as "maras" (facções criminosas), essas cifras levam milhares de hondurenhos a tentarem emigrar para os EUA.

Uma das reformas prometidas por Xiomara e que o Partido Nacional deseja interromper no nascedouro é a que cria um órgão anticorrupção apoiado pelas Nações Unidas. O projeto é baseado em uma experiência que foi bem-sucedida na Guatemala e causou o impeachment do então presidente Otto Pérez Molina e a prisão dele e de outros funcionários corruptos da administração.