Raúl Castro anuncia aposentadoria e deixa comando do Partido Comunista de Cuba

Folhapress

Raúl Castro, 89, anunciou nesta sexta-feira (16) que está deixando o comando do Partido Comunista de Cuba (PCC). Assim, pela primeira vez desde a Revolução Cubana, em 1959, a ilha não terá um integrante da família Castro na cúpula -Raúl assumiu o cargo em 2011, substituindo seu irmão mais velho, Fidel (1926-2016).

A decisão, que já era esperada, foi anunciada logo no discurso de abertura do congresso do partido, que deve durar quatro dias em Havana. Seu sucessor será Miguel Díaz-Canel, 60, que atualmente lidera o regime no cargo de presidente. No complexo sistema político cubano, duas estruturas coexistem: a do Estado e a do partido. Em 2018, Raúl cedeu a Díaz-Canel o comando oficial do país, mas manteve a liderança da sigla em suas mãos -até esta sexta-feira.

Além da troca na cúpula, o congresso do partido também tem outros dois itens em pauta: a implementação de reformas econômicas e a criação de medidas para ampliar a base de integrantes da sigla.

Em 2020, Cuba viu o PIB encolher 11 pontos percentuais, e a escassez de comida, que já existia antes da pandemia de coronavírus, é visível nas grandes filas nos mercados. A Covid também afetou o turismo, principal fonte de renda da ilha.

Desde 2008, quando Raúl começou a substituir Fidel, algumas reformas foram realizadas, o que permitiu a abertura à iniciativa privada de um número limitado de setores, além da distribuição de subsídios para incrementar a produção para exportação. Atualmente, cerca de 600 mil cubanos trabalham no setor privado, o que corresponde a 13% da população economicamente ativa no país.

Em dezembro, o regime unificou suas duas moedas e aumentou salários, pensões e aposentadorias. Mas a medida provocou uma desvalorização de 2.000% do peso. A inflação também disparou e alcançou 160%, enquanto tarifas como a de energia aumentaram 500%.

Ao mesmo tempo, grupos de jovens que pedem mudanças no regime chamaram a atenção nos últimos meses. Não são numerosos, até para não provocar reações da ditadura, e são formados, em geral, por artistas, cantores e poetas. O mais importante deles é o movimento San Isidro, cuja bandeira é a liberdade de expressão -recentemente, alguns de seus membros foram detidos por alguns dias. Uma de suas estratégias é realizar suas reuniões cada vez em uma cidade diferente, para confundir as autoridades.

Na cidade de Santiago, um grupo fará uma greve de fome durante os quatro dias do congresso do PCC. Outro grupo, o Patria y Vida, lançou um vídeo que viralizou. No Twitter, eles narraram passo a passo as detenções de seus membros e o tratamento recebido na prisão. A ampliação do acesso à internet na ilha permitiu que essas ações fossem coordenadas e que as mensagens dos ativistas corressem o mundo.