A importância do Terceiro Setor em uma sociedade pós pandemia

 

Historicamente, o Terceiro Setor surgiu no âmago da sociedade civil, através da criação de diversos agentes privados, que entenderam a importância em desenvolver projetos e/ou atividades sociais com fins públicos, visando o combate à exclusão social, melhoria de condições de vida e saúde, assistência social, fomento à educação e cultura, conscientização ambiental, entre outros. Infelizmente, o que vem sedimentando essas iniciativas ao longo do tempo está alicerçado na necessidade de preenchimento de uma enorme lacuna social deixada pelos outros setores (mercado e Estado).

Em função de termos uma série de organizações diferentes que fazem parte do setor, ainda existe uma relativa miopia e pré-julgamento em relação à efetividade e transparência nas atividades dessas organizações. Dentro do Terceiro Setor podemos encontrar ONGs , entidades filantrópicas, associações civis sem fins lucrativos, Organizações de Sociedade Civil de Interesse Público e outras iniciativas associativas. Apesar de certas desconfianças históricas e parcerias mal sucedidas com alguns governos, não podemos generalizar o segmento, pois o seu protagonismo tem sido fundamental em beneficiar um grande volume de pessoas de diversas classes sociais. Essas instituições, além de todos os itens descritos inicialmente, desempenham também um importante papel como agentes transformadores ao oferecerem ferramentas que contribuem na ampliação do nível de conscientização da população em relação aos seus direitos.

Um grande exemplo do papel fundamental neste segmento, podemos perceber (e constatar) ao longo deste período de pandemia global, provocado pelo Coronavírus. Um período que nos colocou face a face com uma tragédia econômica e sanitária, onde empresas têm passado por grandes dificuldades, o desemprego aumentou exponencialmente e, consequentemente, gerou uma situação alarmante de vulnerabilidade e fome. Em função de toda esta situação adversa, as instituições do segmento tiveram que se adaptar, pois também passaram por enormes dificuldades de operação e sobrevivência. Uma pesquisa recente do Datafolha junto com a Ambev constatou que mais da metade das instituições sem fins lucrativos brasileiras ainda passa por grandes dificuldades e o cenário que se desenha não é muito promissor, já que necessitam de doações e diversas fontes de financiamento, públicas e/ou privadas, para sobreviverem. Porém, esse não foi um impedimento para que o Terceiro Setor assumisse o seu protagonismo na mobilização da sociedade e propagação de um enorme movimento solidário. A pesquisa mostrou também um crescimento significativo no interesse dos brasileiros pelo segmento. Apesar de todas as dificuldades, o Terceiro Setor foi imprescindível para um grande contingente de famílias ao redor do país, ao conseguir alavancar a doação e distribuição de cestas básicas, de kits de higiene e limpeza, campanhas de prevenção da doença, além de criar projetos emergenciais de geração de trabalho e renda, entre outros tantos.

Indiscutivelmente, o momento precisa da união entre Estado, iniciativa privada e a sociedade civil. A atuação conjunta desses três agentes permitirá uma recuperação socioeconômica do país de forma mais rápida e eficiente. Além disso, não podemos deixar que essa “onda do bem” de doações esmoreça. Uma onda de solidariedade que tem mudado a percepção das pessoas em relação às questões básicas de sobrevivência das populações menos favorecidas. Uma onda que gerou mais empatia e doações, seja em dinheiro, voluntariado ou recursos materiais. De acordo com o Monitor de Doações COVID-19, desenvolvido pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos, mais de R$ 6,3 bilhões foram doados por mais de 500 mil pessoas e/ou empresas que se sensibilizaram com a situação vigente.

O Terceiro Setor é quem mais mobiliza para atenuar o sofrimento das pessoas e funciona como um catalisador nesse processo de redução das lacunas deixadas pelos Primeiro e Segundo Setor ao longo de décadas. Precisamos continuar engajados e com um novo olhar sobre o segmento. Ele possui um papel fundamental na reorganização da sociedade e na conscientização cidadã em prol do interesse coletivo. Sua atuação incentiva uma participação mais ativa da sociedade nos temas que impactam diretamente em nossas vidas. Nessa “nova onda”, em um espaço menor de tempo, o Terceiro Setor pode gerar maior equidade social, ampliar a conscientização ambiental, oferecer acessos mais democráticos à educação e cultura, além de proporcionar mais oportunidades de trabalho e renda a todos. E o melhor de tudo isso é que não precisamos ser experts no surfe para entrarmos nessa onda.

*Consultor e Executivo de Marketing e Gestão