Bolsonaro adapta discurso sobre corrupção e agora diz que não há denúncias consistentes

Por: José Matheus Santos

Diante de uma série de suspeitas de corrupção em seu governo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu adaptar seu discurso sobre o tema. Bolsonaro fala agora em nenhuma "denúncia consistente" de casos em corrupção -antes ele afirmava que não havia nenhum caso desde que tomou posse.

"Nosso governo até o momento não tem apresentado desvios de recursos, não tem denúncias consistentes sobre corrupção. Digo mais, se aparecer [denúncia], nós ajudaremos a identificar os possíveis culpados e
Diante de uma série de suspeitas de corrupção em seu governo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu adaptar seu discurso sobre o tema.

Bolsonaro fala agora em nenhuma "denúncia consistente" de casos em corrupção -antes ele afirmava que não havia nenhum caso desde que tomou posse.

"Nosso governo até o momento não tem apresentado desvios de recursos, não tem denúncias consistentes sobre corrupção. Digo mais, se aparecer [denúncia], nós ajudaremos a identificar os possíveis culpados e ajudar para que a justiça decida o seu destino", disse o presidente.

A fala foi proferida nesta quinta-feira (5) durante discurso em solenidade de entrega da obra Vertente Litorânea, em Itatuba, na Paraíba.

"Pegamos em 2019 um Brasil com problemas éticos e morais. Um país saqueado por governos anteriores", disse o presidente, citando o escândalo de corrupção na Petrobras.

Durante a fala, a plateia de apoiadores de Bolsonaro aproveitou para proferir xingamentos sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário do presidente na disputa eleitoral de 2022.

A revelação de um balcão de negócios no Ministério da Educação e de suspeitas em contratos e na distribuição das bilionárias verbas das emendas parlamentares enfraquecem cada vez mais o discurso eleitoral repetido por Bolsonaro e aliados de que o governo federal está há três anos sem registrar casos de corrupção.

Os recentes escândalos que derrubaram Milton Ribeiro da Educação se somam a suspeitas antigas, à aliança com o outrora execrado centrão e à metódica ação nesses três anos para barrar investigações e esvaziar órgãos de fiscalização e controle.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo desta quarta-feira revelou, por exemplo, que a vice-líder em licitações da estatal federal Codevasf tem utilizado laranjas para participar de concorrências públicas na gestão Bolsonaro, candidato à reeleição.

Trata-se da construtora maranhense Construservice, com sede em Codó (a 300 km de São Luís). Desde 2019, o governo já reservou a ela R$ 140 milhões, tendo desembolsado R$ 10 milhões disso até agora.

Todos os contratos da empreiteira com a administração federal foram firmados após 2019, ou seja, no governo Bolsonaro. A empresa também só recebeu recursos federais na atual gestão, segundo dados do Portal da Transparência.

As duas pessoas registradas oficialmente como donas da empresa são as mesmas que, em 2015, foram ouvidas em uma investigação policial e admitiram que foram chamadas para constar formalmente como sócias na construtora, embora não mantivessem nenhuma ligação pessoal ou empresarial entre elas.

O combate à corrupção foi usado por Bolsonaro como plataforma política na campanha presidencial. Em novembro de 2018, após eleito, Bolsonaro afirmou que ministros alvo de acusações contundentes deveriam deixar o governo, o que não se concretizou na prática.

O ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), por exemplo, seguiu no governo após ter sido indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas sob acusação de envolvimento no caso das candidaturas laranjas do PSL.

Desde que assumiu a Presidência, Bolsonaro contesta ações de órgãos de controle para investigar seu núcleo familiar, por exemplo.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é investigado em um esquema de "rachadinhas" na Assembleia do Rio. E o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é suspeito de abrigar funcionários fantasmas na Câmara Municipal do Rio.

Ainda no primeiro ano de mandato, o presidente indicou Augusto Aras para o comando da Procuradoria-Geral da República, ignorando a lista tríplice dos procuradores.

Na avaliação da maioria dos especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, a nomeação fora da lista tríplice pode ter ferido a independência que o cargo demanda para, entre outras ações, o combate à corrupção.

Crítico à atuação da Lava Jato, Aras travou diversas quedas de braço com os procuradores de Curitiba, até que, após um ciclo de desgaste perante à opinião pública e os indícios de parcialidade, a força-tarefa da capital paranaense foi dissolvida sem gerar comoção.

No campo político, para evitar a abertura de um processo de impeachment, Bolsonaro intensificou a ampliação de sua base aliada por meio da antes contestada política do tomá-lá-dá-cá, com a entrega de cargos e recursos para parlamentares aliados do governo, em especial do chamado bloco do centrão.