‘O meu maior foco no Rio de Janeiro será melhorar a segurança pública’

O Correio da Manhã conversou com exclusividade com o candidato a vereador do Rio de Janeiro Roberto Motta (PSC), que falou sobre a experiência adquirida nos Estados Unidos, das diferenças entre a política de lá e do Brasil, sobre sua carreira de empresário e também fez revelações relacionadas à sua saída do Partido Novo após desentendimento com João Amoedo. Roberto também reforçou sua ideologia conservadora e voltada para a segurança pública.

Roberto, como foi sua trajetória antes da política?

Eu sou engenheiro civil, tenho mestrado em gestão pela fundação Getúlio Vargas e trabalhei a minha vida inteira na iniciativa privada. Meu primeiro emprego foi em uma empresa de consultoria conhecida como Marketing Century. Depois eu passei em um concurso para Petrobras e lá trabalhei cinco anos. Em 1989, decidi sair do Brasil porque estava desestimulado com o país. Foi o ano que o Lula disputou com o Collor a eleição, eu achei que o Brasil não tinha futuro, e aí passei em um processo seletivo para trabalhar no Banco Mundial, em Washington, onde fiquei durante cinco anos. Retornei ao Brasil em 1994. Quando voltei, levei um choque com o país. Eu tinha esquecido como era a realidade aqui no Brasil. A partir disso, comecei a comparar a vida que eu levava no Brasil com a vida que levava nos Estados Unidos. E isso me encheu de motivação para melhorar as coisas no Brasil. E essa motivação foi crescendo.

E a política?

Eu sempre trabalhei na iniciativa privada, trabalhei em várias empresas, e por volta de 2007 ou 2008, essa minha indignação, essa minha vontade de fazer alguma coisa, me levou a conversar com um amigo e a gente teve a ideia de criar um partido político diferente. A minha ideia, com a de um amigo meu, que era o João Amoedo, acabou virando o Partido Novo que foi fundado oficialmente em 2011. Ao mesmo tempo eu continuava com a minha carreira na iniciativa privada. Trabalhei em várias empresas, tive a minha própria empresa na área de tecnologia de segurança, o que me fez ter o primeiro contato com o assunto ‘’segurança pública’’.

Qual a diferença do modelo de segurança pública dos Estados Unidos para o do Brasil?

Era impressionante o contraste com a vida que eu levava nos Estados Unidos. Nunca tive problemas com segurança nos Estados Unidos, e também nunca conheci ninguém que teve problema com segurança durante esses cinco anos em que eu morei lá. Quando criamos o Partido Novo, comecei a viajar pelo Brasil todo fazendo palestras, explicando essa minha nova visão da política, e uma parte central do que eu falo sobre política está relacionado à segurança pública. Todo mundo vive o tempo todo com medo, você sai de casa com medo, está no carro e sobe os vidros, quando para no sinal, fica apreensivo. Portanto, para mim, enquanto nós vivermos com medo, enquanto a gente não conseguir resolver isso, todo o resto vai ficar em segundo plano. Comecei a minha atividade política no Partido Novo falando bastante sobre segurança e sobre as outras coisas que precisam mudar no Brasil.

Por que você resolveu sair do Partido Novo?

Em 2016, saí do Partido Novo. Discordei da forma pela qual o partido estava sendo conduzido. Nesse ano, os filiados do Partido Novo aqui do Rio de Janeiro, que era na época o maior diretório, presidido por mim, queriam que eu fosse candidato a prefeito, mas o João sabotou a minha candidatura. Não tem outra forma de colocar isso... De uma forma muito ruim, de uma forma que contrariava todos os princípios nos quais a gente acreditava quando criamos o partido. Depois de sair do Partido Novo fiquei um tempo sem partido, até que, em 2017, me filiei ao PSL, porque estava participando de um movimento com algumas pessoas que estavam no PSL. Em 2018, fui para o PSC. Foi o primeiro ano que eu resolvi me candidatar. Fui candidato a deputado federal e tive uma votação muito boa, sempre com uma mensagem com o foco em segurança pública. É nisso que eu acredito, essa é a prioridade.

O que um vereador pode fazer efetivamente pela segurança pública do Rio de Janeiro?

O município tem um papel muito importante na segurança. No Rio de Janeiro, contamos com a Guarda Municipal, que tem 7 mil agentes. A Guarda poderia desempenhar um papel muito importante na segurança pública, se fosse transformada em uma polícia municipal, trabalhando em conjunto e ajudando a Polícia Militar. Isso não é nenhum sonho, já está autorizado pela lei federal 13022/2014. A Guarda Municipal treinada, capacitada, armada terá mais 7 mil homens na rua combatendo o crime. Para você ter uma ideia, 7 mil homens equivalem a 10 batalhões da Polícia Militar, só do município do Rio de janeiro. Portanto, seria uma ajuda imensa.

Além da Guarda Municipal, qual outro fator pode colaborar com a segurança pública de uma cidade?

Para ajudar na segurança pública, a Prefeitura pode combater a desordem urbana, causada pela população de rua, os comércios ilegais, a ocupação indevida de espaços públicos. Tem alguns casos no Rio de Janeiro em que a pessoa constrói casa no meio da rua e fica por isso mesmo. Há dois aspectos muito importantes nessa desordem urbana e comércio clandestino, que é nesses canais que se desovam as coisas roubadas. O Brasil teve um problema gravíssimo de roubo de carga, hoje está muito menor, mas ainda é um problema grave. A pessoa rouba uma carga, rouba um caminhão, tira tudo de lá, e isso acaba em um camelô ou numa loja que vende produto clandestino. A Prefeitura também deve combater a receptação de roubo, porque o cara que assalta você e rouba seu celular, ele leva o aparelho para uma loja qualquer, que paga 200 ou 300 reais no celular, e compra. Portanto é muito importante a repressão da Prefeitura a esse comércio clandestino. A Prefeitura do Rio de Janeiro não só não combate a desordem urbana, como, de uns tempos pra cá, ela até se submeteu, quase que oficialmente, a isso.

Por que a Prefeitura reduziu o combate à desordem urbana?

A Prefeitura do Rio de Janeiro tem um termo de ajuste de conduta que foi assinado com promotores do Ministério Público. O termo é de 2012, proíbe os funcionários da Prefeitura de retirarem as pessoas que estão morando nas calçadas, nas ruas. Se uma pessoa decidir acampar na porta da sua casa, só sai de lá se ela quiser. Isso está escrito no termo de ajuste de conduta. A Câmara Municipal aprovou, acho que em 2016, por unanimidade, uma lei do vereador Reimont, que criou a política municipal para a população em situação de rua. A lei, um documento com doze ou quinze páginas, fala dos direitos e benefícios dessas pessoas que moram na rua, mas não fala nada do cidadão de bem, o trabalhador, que quer ir e vir, que tem o seu direito impactado. A outra coisa que a Prefeitura pode fazer é alterar a lei de uso do solo, que é a legislação que diz onde você pode construir no Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro tem algumas limitações, essa legislação é muito complicada, impõe restrições severas às construtoras legalizadas. Se você for dono de uma construtora, por exemplo, e quiser fazer um condomínio em uma encosta do Rio de Janeiro, você não pode fazer, pois a partir de certa altura é proibido construir. Mas se você for lá, desmatar, construir três barracos e começar uma favela, tá liberado.

Então a gente vive em uma cidade que tem uma legislação assimétrica, pois é uma lei que vale para alguns, mas não vale para outros. Isso precisa acabar, a lei precisa ser para todo mundo.

Você ficou cinco anos nos Estados Unidos e lá são, basicamente, dois partidos (Democrata e Republicano). Aqui no Brasil são diversos partidos. Como você vê essa diferença?

Na verdade, os Estados Unidos têm vários partidos. Os dois únicos representativos e significativos de verdade são os partidos Democrata e o Republicano. Não acho um problema o Brasil ter muitos partidos. O modelo da democracia republicana abre espaço para várias vozes. Acho que o problema no Brasil é o modelo partidário, extremamente engessado. A legislação que rege isso é muito complicada e criou um sistema de partidos financiados com dinheiro público. É isso que está errado. No Brasil você deveria poder criar o partido que quisesse, desde que não seja um partido advogando algo ilegal ou criminoso, mas não receber nenhum dinheiro público.

Acho um absurdo financiamento público de campanha, fundo eleitoral, isso tem que acabar pra todo mundo. Eu vejo alguns candidatos dizendo “eu não vou usar o fundo eleitoral porque eu acho errado”. Você não vai usar o fundo eleitoral, mas aquele cara que defende coisas erradas, que é um picareta, vai usar. Então ele se elege e você, que resolveu não usar, não se elege. O fundo eleitoral tem que acabar pra todo mundo, a criação de partidos tem que ser livre. Por exemplo, se você quiser criar um partido da Barra da Tijuca, não pode, porque o partido tem que ser nacional, tem que criar o partido em pelo menos nove estados. Isso impõe um peso, uma carga, uma complicação muito grande. A legislação brasileira precisa ser liberada. Tem que acabar com o fundo partidário. Cada partido, cada político que vá à luta e consiga doações. Se a causa for justa e o cara tiver um bom poder de convencimento, ele consegue ser financiado.

Como é fazer campanha em tempo de pandemia quando aglomerações são totalmente indevidas?

Eu sempre usei muito as redes sociais. Acho que as redes sociais são uma revolução para democracia, elas dão voz ao cidadão, elas permitem interação, coisa que antigamente era impossível a gente sonhar. Para o político que tem ideias, que tem propostas, que tem uma visão própria dele, elas são um instrumento fantástico. As redes sociais são uma desgraça para político que troca voto por cesta básica, que diz vota em mim porque eu vou tampar um buraco na sua rua, vou podar a árvore.

Essa turma está perdida, pois eles vivem desse tipo de política, e esse tipo não prospera nas redes sociais. Nas redes sociais, leva vantagem quem tem ideias, quem tem propostas, quem está disposto a debater. E é isso que eu faço o tempo inteiro, já alguns anos. Minha campanha é inteiramente baseada nisso. Eu converso com as pessoas. As pessoas que me apoiam me enviam ideias e sugestões, e essa troca é permanente. Eu tenho presença em praticamente em todas as redes sociais, só não entrei no Tik Tok ainda. O Tik Tok, eu deixo só para minha filha, mas tenho presença no Instagram, no Twitter, no Facebook, no WhatsApp. Todos são canais de comunicação fantásticos. A pandemia, com a proibição de contato e aglomerações, ela vai aposentar uma geração de políticos antigos e vai abrir a porta para uma nova geração. Estou falando isso independente de posição ideológica. Independentemente de qualquer questão como essa, são pessoas que têm ideia, que sabem o que dizer, que sabem se engajar. Os outros, que estão no método antigo de trocar favor por voto, esses estão perdidos.

Ainda na campanha, quais são os seus principais alvos tanto de região quanto de ideologias? Qual é o público alvo que você quer encontrar nessa campanha?

Eu sou uma voz conservadora no Rio de Janeiro, cujo foco principal é segurança pública e ordem urbana. O que é ser conservador? Muita gente não entende, muita gente acha que ser conservador é ser retrógrado, ser contra as novidades. Nada disso! O conservador é uma pessoa preocupada em não destruir as coisas boas que nós temos, em preservar as conquistas e avançar sempre com cautela e prudência. O conservador é totalmente contra revoluções, ele não concorda em você destruir totalmente uma coisa que já funcionava para colocar outra que você não tem certeza se vai funcionar. Então, quem é que vota em mim? Aquela pessoa que não aguenta mais sair de casa sem saber se vai voltar, aquela pessoa que não aguenta mais ver o filho chegando em casa dizendo que foi assaltado, aquela pessoa que não aguenta mais toda sexta e sábado não conseguir dormir porque tem um baile perto da casa dela e a caixa de som parece que está dentro do quarto dela, a pessoa que não aguenta mais ir à praia no domingo e ficar com medo de arrastão, que vai pegar o ônibus de volta para casa com medo de ser assaltada. Aquelas pessoas que acreditam que o problema básico do Rio de Janeiro é segurança e ordem urbana, e querem uma vida tranquila, são os meus eleitores. Não são as pessoas que querem uma revolução socialista, não são as pessoas que acham que o problema do Rio de Janeiro é poda de árvore ou tapar buraco de asfalto.

E alguma região específica?

Em 2018, fui candidato a deputado federal e eu tive votos em todo o estado. Tive votos em 89 dos 91 municípios do estado Rio de Janeiro, e tive votos por toda esta cidade também. Eu quero ser um vereador do Rio de Janeiro. Segurança é algo que afeta todo mundo, não existe na cidade do Rio de Janeiro nenhum lugar que você possa dizer, aqui eu estou seguro, nenhum lugar! Nem aqui na Barra da Tijuca, nos condomínios fechados, com guarita, segurança armada. Você não está seguro em lugar nenhum! Porque a segurança ou vale pra todo mundo ou não vale para ninguém. Eu represento o Rio de Janeiro por inteiro. Todos os bairros do Rio de Janeiro são afetados por esse problema e são esses bairros que eu represento, a cidade inteira.

Para encerrar, você poderia mandar um recado para os nossos leitores.

Nós vivemos em um momento crítico no Brasil e no Rio de Janeiro. O modelo de política nacional está dando os seus últimos suspiros. Como eu falei, a tecnologia veio para ajudar esse processo, aproximar o cidadão do seu político. Como a gente vive em um momento de crise, sendo, no Rio de Janeiro, crise dupla ou tripla, tem muita gente que reage se afastando da política. “Não quero ouvir falar sobre esse assunto”, “Não me interessa”, “Estou cansado”. A mensagem para essas pessoas é: não faça isso! Não existe nenhuma área da nossa vida que não seja tocada pela política. Você não consegue fugir da política. Se você disser que não quer saber da política, ela vai encontrá-lo no ponto de ônibus, quando você estiver esperando a condução e a qualidade do ônibus for ruim, quando o preço da passagem for alto, quando o ônibus demorar a chegar. A política vai te que encontrar na escola, porque é a política que determina o que se vai aprender, quanto custa a mensalidade, até se vai ser aula presencial ou remota. A política te encontra na saúde e na segurança, quando você estiver com o carro parado no sinal, quando seu filho estiver na rua com a namorada. Não temos como fugir da política. O que temos que fazer é entrar na política de forma correta. Nunca foi tão fácil para o eleitor identificar em quem ele deve confiar e a quem ele deve dar o seu apoio. Então eu convoco as pessoas para isso. O Rio de Janeiro é, na minha opinião, o lugar mais lindo do Brasil. É um lugar conhecido mundialmente. Resolvido e equacionado o problema da segurança no Rio de Janeiro, a gente tem na nossa frente uma prosperidade sem limites. É nisso que as pessoas têm que acreditar e se engajar.