Exclusivo: Exoneração de chefe da estação Guandu eleva a temperatura na Cedae

Com mais de 30 anos de casa, Júlio Cesar Antunes foi comunicado nesta terça-feira de que deixará a chefia

Por Emanuel Alencar , especial para o Correio da Manhã

Mais de uma semana depois do início dos relatos do recebimento de água com sedimentos em residências de diversos bairros do Grande Rio, o governador Wilson Witzel enfim se pronunciou em uma rede social, ao classificar de “inadmissíveis” os transtornos por quais a população vem passando. Em seguida, ainda nesta terça-feira (14), a cúpula da empresa de saneamento tomou a primeira medida extrema: exonerou Júlio César Antunes, funcionário da carreira, com mais de 30 anos de casa, chefe da Estação de Tratamento de Água (ETA) Guandu. A medida deve provocar ainda mais ebulição numa empresa que vive turbulências desde o início de 2019, quando foram exonerados 54 profissionais de nível superior.

A Cedae continua afirmando desconhecer alterações na qualidade de sua água, mas ainda não apresentou estudos completos. Em inspeção do Ministério Público na última segunda-feira (13) na Estação de Tratamento de Água (ETA) do Guandu, a companhia negou ter verificado alterações na turbidez e na potabilidade da água. Júlio César Antunes, que seria demitido um dia depois, recebeu quatro promotores de justiça, pesquisadores de universidades e representantes de comitês de bacia. O Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (Gaema), do MP, solicitou que a Cedae apresente até esta quarta-feira (15) a lista dos 70 indicadores da portaria 5 do Ministério da Saúde, que detalha o controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.

“Não nos mostraram os indicadores de turbidez, reclamação de muitos moradores, embora eles meçam de hora em hora. Vamos aguardar as apresentações dos 70 parâmetros. Sem isso é leviandade achar qualquer coisa. O que chama a atenção é que a companhia tem muita liberdade, sendo muito pouco fiscalizada pelos órgãos de controle”, criticou o engenheiro Adacto Ottoni, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “Um indicador é o fato de todo o lodo da estação estar sendo despejado em um canal de drenagem, quando deveria estar sendo mandado para um aterro adequado”.

Na vistoria, que contou ainda com representantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Cedae informou que as demissões de profissionais que atuavam na maior estação de produção de água contínua do mundo não alteraram a qualidade dos serviços. Mas o “cobertor mais curto”, com menos profissionais para fazer os serviços, implicou mudanças nas equipes. A companhia estadual reforçou que o composto organoclorado geosmina não afeta a saúde humana e disse que que começará, na semana que vem, o tratamento da água com carvão ativado, algo inédito. O objetivo é que moléculas da geosmina sejam aderidas à superfície do carvão ativado. A estatal não informou os custos de aquisição do carvão ativado.