Saúde | Fase vermelha no estado de SP começa à 0h de sábado (6)

Igor Gielow e Aline Mazzo (Folhapress)

A medida valerá até o dia 19 de março para tentar barrar a evolução da curva de infecções, óbitos e internações devido ao novo coronavírus. O endurecimento da quarentena, conforme o jornal Folha de S.Paulo adiantou nesta terça (2), não incluirá o fechamento total de escolas. A regra adotada em dezembro pelo governo, de permitir aulas presenciais opcionais nas duas fases mais restritivas do Plano São Paulo de abertura econômica, vermelha e laranja, segue valendo.

O governo quer, contudo, retirar 80% dos 2,5 milhões de alunos que frequentaram aulas presenciais em fevereiro ao priorizar na rede pública grupos mais vulneráveis: quem precisa de alimentação, quem tem responsáveis que trabalham em serviços essenciais, sem acesso a tecnologia, com dificuldade de aprendizado e com saúde mental em risco. No geral, o limite para frequência é de 35% da ocupação normal, nas redes pública e privada. No entanto, o secretário de estado da Educação, Rossieli Soares, pediu aos pais que, se possível, deixem os filhos assistindo aulas remotas nas próximas duas semanas, a fim de diminuir a circulação de pessoas.

Cada escola terá autonomia de planejar o funcionamento para as próximas duas semanas, que também deve contemplar a redução de funcionários presenciais nas unidades. Segundo o secretários, os professores trabalharão à distância sempre que possível. A estimativa é que apenas 50 mil funcionários e 500 mil alunos frequentem as unidades escolares.
Com isso, saiu chamuscado da mais recente discussão o secretário Jean Gorinchteyn (Saúde), que na terça havia defendido fechar totalmente as escolas. Ele foi obrigado pelo governador João Doria (PSDB) a divulgar uma nota reafirmando que o que dissera à rádio CBN era apenas sua opinião pessoal.

Na fase vermelha, apenas os serviços essenciais estão permitidos, e com limites. De forma controversa, nesta semana Doria permitiu que templos religiosos fossem incluídos na categoria, desde que respeitadas regras de distanciamento social -ocupação máxima de 30%, somente pessoas sentadas, sem coros e sem rituais que envolvam toques físicos.
O motivo para o endurecimento por parte do governo estadual é a crise galopante da Covid-19, que atinge hoje todo o país de forma quase uniforme. São Paulo prevê um colapso na oferta de leitos de UTI para a doença nas próximas duas semanas, se não houver a restrição. Segundo Doria, nas últimas 24 horas, a central de regulação de leitos recebeu 901 pedidos de internação de leitos de UTI e enfermaria. "São Paulo está internado um paciente a cada dois minutos", lamentou.

Hoje, 74,3% das vagas no estado estão ocupadas, índice que sobe a 75,5% na capital. Já o isolamento social, monitorado pela movimentação de pessoas com telefones celulares rastreáveis, está em meros 39% -ao menos 60% ou 70% são necessários. Já morreram 60.381 pessoas até esta manhã de quarta (3) no estado, entre 2.068.616 casos confirmados desde o começo da pandemia, há um ano. Para Doria, as próximas duas semanas serão as mais duras da pandemia.

Nesta quarta (3), 7.415 pessoas estavam internadas em leitos de UTI para Cvoid-19 no estado. Há nove dias, esse número era de 6.410 hospitalizados em vagas intensivas. "Esse crescimento é algo que jamais vimos nessa pandemia", disse Gorinchteyn. Doria ainda anunciou a abertura e 500 novos leitos para tratamento de Covid-19 no estado. Serão 339 novas vagas de UTI e 161 de enfermaria em hospitais estaduais, municipais e filantrópicos que começarão a funcionar, de maneira gradual, a partir do próximo dia 8.

Segundo Gorinchteyn, a ordem é para que os gestores abram leitos em quaisquer espaços disponíveis nos hospitais, como anfiteatros e ambulatórios, por exemplo. Nos próximos também devem ser anunciados novos hospitais de campanha e a ativação de um novo hospital, com 130 leitos, sendo 30 de UTI. Até aqui, 76% dos paulistas estavam sob o regime laranja, 15%, sob a vermelha e os restantes, sob a mais fase amarela.

Em reunião virtual com quase todos os 645 prefeitos paulistas na terça, Doria recebeu pedidos para um endurecimento ainda maior. Cidades como Araraquara já experimentaram lockdowns, a medida mais extrema e que não é prevista no Plano SP, que prevê restrição de circulação de pessoas nas ruas. A ação foi sugerida por membros do Centro de Contingência da Covid-19, comitê de 20 especialistas e autoridades que aconselham o governo na crise. Ao fim, após discussões com membros do governo, prevaleceu a ideia de que a fase vermelha, se implementada de forma rígida, poderia ter o efeito necessário.

Nem todos concordam com isso. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde sugeriu o lockdown para cidades em estágio crítico, mas Gorinchteyn não subscreveu a proposta.
Nas áreas política e econômica do governo paulista, há dúvidas acerca da exequibilidade de uma medida tão radical, ao menos em nível estadual ou na capital, que tem grande capilaridade com cidades da Grande São Paulo.

Na semana passada, já havia a pressão de membros do comitê por maior rigor. Ao fim, Doria anunciou algo chamado toque de restrição, que na prática significou mais repressão a aglomerações das 23h às 5h, mas não um impedimento à circulação de pessoas. Agora, o toque de restrição foi ampliado das 20h às 5h. A fase vermelha em todo o estado deverá ser uma nova trincheira de disputa entre Doria e o governo Jair Bolsonaro acerca do manejo da pandemia -depois da rodada sobre vacinação, na prática vencida pelo tucano paulista, que promoveu o imunizante Coronavac.

O presidente tem feito críticas sistemáticas aos "governadores que querem fechar os estados", culpando-os pela crise econômica decorrente da emergência sanitária. Isso tem contrariado chefes estaduais, que têm organizado um levante contra o desgoverno do Ministério da Saúde na pandemia. Na coletiva, Doria e os membros do governo paulista fizeram questão de destacar que o aumento de casos deve-se a falta de coordenação e responsabilidade de Bolsonaro, a quem o governador chamou de negacionista e pária.

AS REGRAS DA FASE VERMELHA

SÃO PERMITIDOS 
Serviços essenciais como: hospitais, farmácias, supermercados, centros de saúde, padarias (não para consumo local), petshops, clínicas veterinárias, igrejas e templos religiosos, correios

FICAM PROIBIDOS 
Shoppings, comércio de rua, galerias
Consumo local em bares e restaurantes
Salões de beleza e barbearia
Eventos, convenções e atividades culturais
Academias
Demais atividades que gerem aglomerações

FUNCIONAMENTO PARCIAL 
Lojas de conveniência: venda de bebidas alcoólicas após 6h e até 20h

FUNCIONAMENTO FACULTATIVO 
Escolas com aulas presenciais