Médicos alertam para o reganho de peso após cirurgia bariátrica durante a pandemia

Um novo tipo de comportamento vem chamando atenção de médicos especialistas em cirurgia bariátrica durante esse período da pandemia: pacientes que fizeram o procedimento para eliminar o excesso de peso corporal ganharam quilos a mais antes mesmo de realizarem a cirurgia reparadora para remover o excesso de pele. Engana-se quem pensa que apenas a cirurgia isolada já resolve o problema para o tratamento da obesidade. Pelo contrário, um longo caminho deve ser percorrido com bastante cautela após a operação.

Durante o período de isolamento por conta da Covid-19, muitos pacientes não conseguiram seguir as orientações médicas, não se exercitaram de forma correta para auxiliar a perda de peso – já que as academias de ginástica ficaram fechadas por um bom tempo e nem todos conseguiram adaptar os exercícios em casa, - e a ansiedade com o futuro totalmente incerto tomou conta de todos. Além disso, a alimentação saudável acabou ficando de lado e a ingestão de biscoitos e salgadinhos cresceu de 30% para 35% em comparação com 2019, de acordo com o estudo do Datafolha, encomendado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). O segundo lugar no ranking ficou para margarina, maionese, ketchup e molhos industrializados em geral. Somando todos esses fatores, muitos pacientes tiveram o reganho de peso.

O Dr. André Maranhão, cirurgião plástico especialista em cirurgia reparadora pós-bariátrica, percebeu que houve, no seu consultório, um aumento de 20% de pacientes que estavam agendados para realização da cirurgia reparadora, porém todos ganharam peso extra significativo neste período de isolamento social – uma média de 10kg.

"O paciente precisa ter em mente que a cirurgia bariátrica é o primeiro passo, e logo nos primeiros 12-18 meses é onde ele perderá mais peso total e a equipe que o acompanha precisa ficar alerta para o sucesso do tratamento. Consideramos aceitável um reganho de peso de 5-10% após o segundo ano da bariátrica, onde enxergamos que o organismo encontrou um equilíbrio. O reganho de peso controlado é definido em até 20% e o reganho da obesidade é quando há 50% do peso antes da cirurgia ou 20% associado ao retorno de doenças associadas que já estavam controladas”, explica o Dr. André.

A revista científica Obesity Reviews publicou o artigo “Obesity and Covid-19 in Latin America: a tragedy of two pandemics”, onde fala de diversos aspectos da relação entre o excesso de peso e a infecção pelo novo coronavírus.

Em entrevista ao portal da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), o endocrinologista Bruno Halpern, reforça que o aumento da obesidade na América Latina está muito associado ao consumo maior de comida pronta e ultraprocessada, alimentos esses que são mais ricos em calorias e em sódio, e que dão menos sensação de saciedade.

“Esses pacientes costumam levar uma dupla consequência ruim: a pessoa tem obesidade e desnutrição ao mesmo tempo. Ganha peso porque consome muita caloria, só que a qualidade do que ela ingere é muito baixa e, assim, seu organismo acaba sofrendo com a falta de nutrientes, como vitaminas, sais minerais e proteínas. Provavelmente, essa combinação faz com que as complicações relacionadas com a infecção pela Covid-19 sejam maiores. Lembrando aqui que os meses de isolamento, crise econômica e perda de empregos podem ter provocado um aumento ainda maior do consumo de alimentos desse tipo, o que é bastante preocupante”, alerta Halpern.