Morre Dida Sampaio, premiado repórter fotográfico de O Estado de S. Paulo

Por: Ranier Bragon

O repórter fotográfico do jornal O Estado de S. Paulo Dida Sampaio morreu nesta sexta-feira (25), aos 53 anos, vítima de complicações decorrentes do rompimento de um aneurisma cerebral.

Um dos mais conhecidos, veteranos e premiados fotojornalistas do país, Dida já tinha passado por problemas similares há alguns anos, mas havia se recuperado e estava em plena atividade profissional.

A reportagem testemunhou, por exemplo, parte do trabalho do fotojornalista no último dia 9 de fevereiro, no Salão Verde da Câmara, o principal ponto de circulação de políticos no Congresso.

Como era de seu costume, procurava quase sempre estar ao largo do turbilhão de repórteres, cinegrafistas e microfones do local, aguardando o momento que poderia lhe render uma foto especial e exclusiva.

Dois dias depois, em 11 de fevereiro, Dida passou mal e foi hospitalizado. Ele deixa mulher, três filhos e netos.

Classificado por colegas como um profissional aguerrido, inquieto e constantemente em busca do diferencial, o cearense Dida, que bem novo se mudou para Brasília com a família, também gostava de apurar as histórias que retratava.

O fotojornalista virou notícia em maio de 2020, quando, exercendo a sua atividade profissional, foi hostilizado e agredido por manifestantes pró-governo Jair Bolsonaro durante ato na rampa do Palácio do Planalto, com a presença do presidente da República.

Dida acumulou em sua carreira dois prêmios Esso –por anos a maior honraria do mundo jornalístico– e três Vladimir Herzog, entre outros.

Uma de suas fotos mais icônicas estampou a primeira página do jornal O Estado de S. Paulo em 3 de agosto de 2005, no auge no escândalo do mensalão.

Ela mostrava o rosto do então ex-ministro José Dirceu (PT) no exato momento em que ele encarou, no seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB).

Era a primeira vez que Dirceu e Jefferson, pivôs do maior escândalo da República na ocasião, se encontravam pessoalmente. Foi nesse dia, por exemplo, que Jefferson proferiu uma fase que ficou na história, a de que o petista lhe despertava "os instintos mais primitivos". A foto foi finalista do Prêmio Esso.

"Ele foi o fotógrafo que conseguiu fazer, em uma fotografia, a acareação do José Dirceu e do Roberto Jefferson. Essa foto é incrível. Você vê o foco cravado no olho do Dirceu, olhando para o Roberto Jefferson. Foi capa do jornal, essa foto é impressionante", diz o colega e amigo Wilton Júnior, repórter fotográfico da sucursal do Rio do Estadão.

"Era amigo, mestre, professor. A minha relação era de muita admiração, eu admirava muito o Dida. Lembro dele me dizendo, 'Wiltinho, acorda cedo e bota beleza nas suas fotos porque é a hora que a luz está mais bonita, ou então no final da tarde'. Tenho inúmeras lembranças dele."

Outra foto icônica de Dida venceu o Esso de 2015. O fotojornalista clicou a então presidente da República no momento em que ela, de bicicleta, passava em frente a um lava-jato. Dilma seria afastada e sofreria impeachment meses depois em decorrência da crise política gerada pelo escândalo da Operação Lava Jato.

"Ele era muito aguerrido no trabalho do dia a dia, ele batalhava sempre para ter o melhor lugar, era difícil concorrer com ele. Brigava, até fisicamente às vezes, para ter a melhor foto. Foi generoso com muitos que precisava de ajuda, no trabalho diário em Brasília. Essa talvez sejam as melhores palavras que simbolizam o que o Dida foi no trabalho", diz Sérgio Lima, que trabalhou por anos na Sucursal de Brasília do jornal Folha de S.Paulo e hoje é repórter fotográfico do site Poder 360, entre outras atividades.

Dida não teve atuação de destaque só em Brasília. Ele participou de várias reportagens, algumas delas premiadas, na Amazônia, no Pantanal e em muitas outras regiões do país.

"Dida foi o mais importante repórter fotográfico brasileiro da sua geração. A perda para o jornalismo e para o país é imensurável. Morre hoje um pouco da grande reportagem", disse Andreza Matais, diretora da Sucursal de Brasília do Estadão.

"As fotos do Dida sempre tinham outros planos e sacadas geniais. Ao mesmo tempo que era um craque e competitivo, também sempre foi muito honesto e generoso comigo. Um grande fotógrafo e amigo", afirmou Eduardo Knapp, repórter fotográfico da Folha de S.Paulo.

"Dida foi um dos fotógrafos mais importantes do Brasil nos últimos 30 anos. Dedicado e extremamente competente, ajudou a elevar o fotojornalismo brasileiro aos mais altos patamares", disse Pedro Ladeira, repórter fotográfico da Folha de S.Paulo em Brasília.

A morte de Dida Sampaio motivou manifestação de pêsames não só de colegas de profissão e amigos, mas também do mundo político.

"O fotojornalismo brasileiro perdeu Dida Sampaio, um profissional arguto, sempre atuante e dedicado. Por meio de suas lentes, retratou com brilhantismo o cotidiano do Congresso, tornando-se o setorista [repórter destacado para uma cobertura diária específica] mais antigo do jornal Estado de S. Paulo na cobertura do parlamento. Meus sentimentos aos familiares, amigos e colegas de profissão", escreveu nas redes sociais o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também manifestou pesar aos familiares e amigos de Dida Sampaio, "profissional atuou mais de 30 anos na cobertura da política nacional, sempre cordial com todos".

"Minha solidariedade à família e amigos de Dida Sampaio, grande fotógrafo, nascido aqui no Ceará e que se transformou em um dos expoentes do fotojornalismo brasileiro. Sua morte prematura nos entristece a todos", afirmou o presidenciável Ciro Gomes (PDT).