Coluna Luiz Antônio Mello: Led Zeppelin III, o cavalo de pau do zepelim de chumbo

Guitarrista, compositor, arranjador, criador do Led Zeppelin, Jimmy Page sabia que corria um grande risco ao dar um cavalo de pau no som da banda e partir para um álbum de pegada mais acústica, folk, blues depois dos detonadores álbuns de estreia. Ele nega, mas foi isso o que aconteceu.

Não foi uma decisão emocional. O Zeppelin lançou os explosivos I e II, há 51 anos, em 1969, partindo para uma turnê insana onde não faltaram loucura, hedonismo, excessos e muito, muito cansaço. Mas foi considerada a melhor turnê de rock daquele ano.

O Led Zeppelin III fará 50 anos de idade no dia 5 de outubro deste ano, mas em março de 1970 a banda já estava enfiada em Bron-Yr-Aur, uma casa de campo do século 18 em Gwynedd, País de Gales, numa colina com vista para o Vale do Dyfi.

Para compensar a pauleira do espancamento, Page propôs a Robert Plant, John Bonham e John Paul Jones que se isolassem lá para compor, ensaiar e gravar demos do que viesse à cabeça.

Para isso, alugaram o estúdio móvel dos Rolling Stones.

Jimmy Page conta que “decidimos sair e alugar uma casa de campo, um contraste com quartos de motel. Obviamente, ele teve um grande efeito sobre o material que foi escrito... Foi a tranquilidade do lugar que deu o tom do álbum. Sempre gostei de violão folk e clássico e estar em uma casa sem energia elétrica, foi a vez da guitarra acústica... Depois da vibe pesada e ​​intensa de turnês, que se reflete na energia bruta do segundo álbum, no III era apenas um sentimento totalmente diferente.”

Jimmy Page sabia que o Zeppelin III era uma tempestade perfeita. Ele é um cara de opiniões fortes, mas calmo, elegante. Perdeu a cabeça quando só viu a capa do III uma semana antes de entrar em gráfica.

“Isso é coisa de débil mental, parece pijama de criança... cancela tudo”. Não deu tempo e até hoje ele não esconde o horror.

Os fofoqueiros ou, digamos, adoráveis cornos da história acham que o disco foi gravado no mato, em uma espécie de plantação de cogumelos de Guapimirim (muito em voga entre os doidaralhaços nos anos 70), mas eis a verdade, crua.

O III foi gravado entre janeiro e agosto de 1970 no Ardent Studios (Memphis, Tennessee), Headley Grange, (Hampshire), Island Studios, (Londres), Olympic Studios, (Londres), mixado na Island Studios, (Londres) e Electric Lady Studios (estúdio de Jimi Hendrix), Nova York. Ou seja, honoráveis leitores, não existe rock bom grátis.

O disco foi amado e odiado pela crítica. Sem meio termo. O corredor polonês te socos, tapas e chutes no lançamento foi tão forte que Jimmy Page decidiu parar de dar entrevistas durante dois anos e optou pela desinformação na capa do álbum seguinte, Led Zeppelin IV. Na capa, nenhuma informação, nem o nome da banda.

“Eles – os jornalistas – que se virem”, comentou o músico.

O que mais o irritou foram os comentários de que o Led III fora influenciado por Crosby, Stills, Nash & Young. Mais recentemente, Jimmy Page comentou que “quando terceiro LP saiu, Crosby, Stills e Nash tinha acabado de se formar. O LP tinha acabado de sair e por causa de seus violões fizeram escândalo: LED ZEPPELIN FAZ ACÚSTICO! Eu pensei, Cristo, os caras enlouqueceram. Havia três músicas acústicas no primeiro álbum e duas no segundo.”

Todos os detratores do Led Zeppelin III ajoelharam no arroz ao longo dos anos, pediram perdão e reconheceram que o álbum foi o vento encanado mais genial daquele começo da década de 70, pau a pau com “Who’s Next”, do The Who.

O leitor concorda?