Exclusivo: Correio da Manhã esteve no Vaticano

Por Cláudio Magnavita

A cerimônia, ou melhor, a missa foi repleta de códigos emocionantes, que para serem decifrados exigiam reflexão, amplificada pelos minutos de silêncio, quando milhares de pessoas mentalizavam a energia do momento espiritual da eucaristia.

Houve pausas para o silêncio obediente, quando era possível ouvir a respiração da massa de fiéis. Era um silêncio ensurdecedor, e podíamos sentir a presença do Divino, a mesma força silenciosa que foi um dos dogmas da nossa Santa Dulce dos Pobres, que sempre evitou a ribalta.

Os momentos festivos ocorreram antes, com a nossa Margareth Menezes e o som do acordeom do Maestro Waldonys, que reverberou as 8:30 da manhã nas colunas do Vaticano e levou a multidão que já lotava a praça de São Pedro a vibrar.

Como não se emocionar em ser testemunha privilegiada de um dia no qual uma pequena e sofrida baiana coloca o poder brasileiro de joelhos e em prece? Inclua na lista governantes mundiais, como o presidente da Itália e o Príncipe de Gales.

Estavam ali os chefes dos três poderes no Brasil - o Judiciário, o Legislativo e do Executivo - que atravessaram o Atlântico para homenagear a nossa grande Santa. Além do vice- -presidente da República, do presidente da Câmara e do Senado, do Procurador -Geral, de ex-presidentes da República, governador, prefeitos, senadores, deputados e empresários de sucesso como Nizan Guanaes e Antonoaldo Neves, baiano que preside a Tap, mas principalmente milhares e milhares de fieis naquela praça orando pela nossa conterrânea.

Como não se emocionar ao ver o poder prostrado perante um sol implacável, que por quase duas horas, como o brilho da espada de São Miguel Arcanjo, deixou uma marca no rosto de todos os poderosos? Todos avermelhados pela submissão a um ato de fé.

Como não se emocionar com a presença de um Papa combalido, com as mesmas restrições respiratórias da nossa irmã Dulce, canonizar a nossa Santa?

Quem leu o missário distribuído na ala em que estávamos descobriu que outros beatos canonizados faleceram ou no século retrasado ou no inicio do século XX. Nós, brasileiros, éramos os únicos no Vaticano a ter tido o privilégio de assistir em vida à canonização de alguém que tocou a nossa geração. Devemos muito disso ao Papa Francisco e à sua determinação de dotar a secular Igreja de exemplos de dedicação aos pobres. 

Como não se emocionar ao sintonizar com a emoção de Maria Rita Pontes, sobrinha da irmã Dulce e sucessora no comando da Obra, ao ver a foto da tia na fachada do Vaticano e assistir em vida a esta histórica canonização de uma pessoa tão próxima?

Devemos compreender os momentos de ritos de uma instituição secular, que também é Estado. A solidez de uma cerimônia em latim ou os ritos que mantêm viva por séculos uma estrutura baseada na fé e na obediência.

O Papa Francisco traz uma lufada de humildade de que a Igreja tanto precisava. Sua altivez e autoridade no comando da Cúria que o escolheu ecoam forte na Praça de São Pedro. Um exemplo foi a homilia, quando falou sobre a Amazônia e conclamou os governantes a ajudarem - verdadeiramente - os imigrantes. Semana antes, na escolha dos novos cardeais, ele consolidou seus princípios com a renovação de parte do colégio eleitoral que escolherá o seu sucessor.

Todos se lembrarão deste 13 de outubro de 2019, quando assistimos uma Santa que conhecemos em vida ser canonizada - e fazer a mesma Igreja, que tantos obstáculos criou para o início da sua obra, dobrar-se e reconhecer mundialmente que prevaleceu sua visão de ver Deus e Jesus no rosto de cada enfermo. Este sim foi um ato vencedor de Francisco, que comunga os mesmos princípios da nossa Santa dos pobres.