Ozzy não é o melhor. Mas é Ozzy

Por João Victor Ferreira

Como não falar do Black Sabbath sem enumerar a contribuição pessoal e artística de Ozzy ao projeto? É estranho como o Príncipe das Trevas nunca foi reconhecido, nem lembrado nas grandes listas, como uma voz potente e significativa na história da música.

A presença de Ozzy nas gravações dos álbuns e consequentemente nas apresentações ao vivo já mostrava a sua importância para a banda, sendo a voz única que poderia ocupar o lugar da banda sombria de Birmingham. Acontece que temos aqui uma confluência de fatores que contribuíram para o sucesso do vocalista.

Atitude no palco

Ozzy podia não ser o melhor vocalista do mundo, mas ele é de fato uma das melhores vozes do heavy metal e, é claro, o melhor vocalista para o Black Sabbath. Sua presença de palco também impressionava, confirmando a máxima que um bom frontman de bandas de rock precisa mais de atitude do que de voz propriamente dita.

Cinquenta anos depois, Ozzy ainda seduz o do público com suas loucuras e carisma, frutos do sombrio e do bizarro. Quem não lembra do desesperado “Oh no!” na faixa “Black Sabbath”, da psicodelia explícita de sua voz em “Planet caravana” ou na animação cocainômana de “Paranoid”. 

Ainda em seus primórdios, a banda se chamava Earth, fazendo covers de rock famosos que iam desde de Jimmy Hendrix até os próprios Beatles. O estilo da banda inglesa ainda girava dentro de um escopo que a fazia ser classificada como um filho mal criado do blues com o rock.

Foi com um anúncio colocado em uma loja que Bill Ward e Tony Iommi (egressos de outra banda, Mithology) incluíram o cantor John “Ozzy” Osbourne que, além dos seus vocais, também ofereceu o seu amplificador, equipamento de que a banda carecia. Logo em seguida, entra o baixista Geezer Butler. E os quatro tornaram-se ratos dos pubs ingleses, fazendo sucesso com a execução dos seus covers.

Foi esse burburinho que fez com que a banda pudesse gravar o seu primeiro demo em 1968, intitulado “Wicked World” (que se tornou a última faixa do primeiro álbum).

O nome Earth ficou um tempo na vida da banda, enquanto artistas de covers, até que precisaram trocar por conta de já existir outra banda com o mesmo nome.

Chegamos então a Black Sabbath. Existem muitos estigmas e histórias por trás de onde surgiu o nome que se tornou a faixa de abertura, além do nome do primeiro álbum. A história mais falada vem de inspiração do baixista Geezer, muito fã de livros e filmes de ficção e terror, como os trabalhos de Bram Stoker, Edgar Allan Poe e Mary Shelley. Foi de um filme italiano do diretor Mario Bravas, intitulado “As três máscaras do terror” (1963), que no Reino Unido recebeu o nome de “Black Sabbath”, que o baixista se inspirou para denominar a banda que formava, além de também inspirá-lo para compor a primeira música desta nova fase.

No fim de 1970, a banda lança “Paranoid”, até hoje o álbum de maior sucesso comercial da banda. No álbum, a banda começa a fugir do sombrio e da apologia ao ocultismo, compondo temas mais críticos de tom extremamente politizado. Exemplo de “War pigs” (aborda os horrores que aconteciam, durante a empreitada americana no Vietnã) e “Iron man” que critica os políticos considerados responsáveis pelos horrores da guerra.

Depressão

O sucesso do álbum deu o impulso que a banda precisava para realizar anos depois álbuns como “Vol.3”, “Master of reality” e “Never say die”. Foi em 1977, durante a turnê “Technical Ecstasy”, que Ozzy foi afastado de vez da banda, depois da depressão que a morte do seu pai o causou e o consequente abuso com as drogas que impediram o seu rendimento na composição de novos trabalhos. 

Nos anos 1980, Ozzy se mantinha afastado da sua banda de origem, gerido pela produtora, que se tornou depois sua esposa Sharon, consolidando uma carreira solo muito promissora, focada muito mais na persona e nos trejeitos do cantor.