Teatro | Mito de Fausto é renascido nos sertões

Sem sair dos limites geográficos do sertão, o pernambucano Ariano Suassuna (1927-2014) abordou temas universalizantes. Um dos exemplos é o “Auto de João da Cruz”, texto de 1950, que recria o mito trágico de “Fausto”, de Goethe. Escrito em 1950, o texto de Suassuna também traz também elementos de três romances populares nordestinos: “História de João da Cruz”, “História do Príncipe do Reino do Barro Branco e a Princesa do Reino do Vai-não-Torna” e “O Príncipe João Sem Medo e a Princesa da Ilha dos Diamantes”, de Leandro Gomes de Barros, Severino Milanez da Silva e Francisco Sales Areda, respectivamente.

Dentro das comemoraçõesde seus 10 anos, a Cia OmondÉ e a atriz e diretora Inez Viana apresentam sua montagem para a trama de Suassuna até o dia 28 de março no YouTube da companhia (bit.ly/omondeyoutube), com sessões gratuitas, de sexta a domingo, às 19h. O elenco é formado por integrantes da OmondÉ e atores convidados. Em cena estão André Senna, Elisa Barbosa, Iano Salomão/Joel Tavares, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes, Tati Lima e Zé Wendell.

Gravada com seis câmeras no Teatro Firjan SESI Centro, mesma sala em que estreou em janeiro de 2020, a peça conta a história de João, jovem ambicioso que, inconformado com a ausência do pai e com a miséria em que vive, resolve sair de casa, deixando tudo para trás, em busca de riquezas. O Guia (espécie de diretor da peça) e o Cego (aqui simbolizando o Diabo) fazem, então, uma aposta pela alma de João que, ilusoriamente, passa a ter tudo que deseja. Ao mesmo tempo em que vai perdendo sua humanidade, João vai se distanciando da família e dos amigos e se transformando em um homem frio e perverso. Quando, enfim, recobra a consciência, já é tarde demais para se arrepender dos males que causou.

“Ensaiamos por duas semanas remotamente pela plataforma Zoom e, depois que a equipe foi testada negativa para o novo coronavírus, gravamos tudo em três dias no palco. Decidimos filmar com seis câmeras para apresentar ao espectador visões diferentes do espetáculo: de dentro do palco, cima, possibilidades de outros ângulos dos atores etc.”, conta a diretora. “Foi uma emoção gravar no Sesi, último teatro em que a companhia se apresentou com ‘Auto de João da Cruz’ antes da pandemia. A primeira e única temporada do espetáculo foi lá. Estávamos com turnê marcada em várias cidades, mas tivemos que adiar os planos por conta do isolamento social”, lembra.

“Suassuna é eterno, atemporal, nunca sairá de moda. A história dessa peça é sobre a insana ambição humana, que pode levar o homem a se perder de seus valores mais profundos e a cometer os piores crimes. Infelizmente, é um texto extremamente atual”, ressalta Inez.