Guedes: "Brasil é 'a bola da vez' para investimentos internacionais"

Ministro estima em R$ 800 bilhões aporte potencial de recursos para o país

"Atualmente, o Brasil é a maior fronteira para investimentos do planeta, pois a economia nacional deverá contar com o aporte gradual de recursos da ordem de R$ 800 bilhões nos próximos anos pelo setor privado, sobretudo, por conta da reforma dos marcos regulatórios, o que deve pavimentando o caminho da retomada do crescimento econômico do país".

A previsão otimista foi feita, no último sábado (30) pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, na abertura do 5º Fórum de Investimentos Brasil 2022, em São Paulo (SP), ao comentar a completa reversão de expectativas em relação ao comportamento do PIB brasileiro, do final do ano passado para hoje, de um espectro sombrio de recessão (de até 1,5%), para uma arrancada econômica que pode chegar a 2%, pelo menos, até o final de 2022.

Em contraste ao "mar turbulento" que caracteriza, no momento o cenário internacional no momento, Guedes entende que o Brasil está recuperando "o caminho da decolagem". "Depois de superarmos a crise decorrente da pandemia, crescermos menos, mas reagirmos mais rápido, temos a expectativa de avanço dos investimentos, mediante o controle da inflação pela ação independente do Banco Central (BC), novos marcos regulatórios e acordos comerciais", explicou.

Segundo o ministro, tal 'dever de casa' eficiente do governo Bolsonaro tem levado a mídia estrangeira a considerar o país exemplo mundial de combate à inflação, porque, "ao contrário de outros países, que estão se fechando, o Brasil está se abrindo, dizendo 'vem' (aos investimentos)". Neste ponto, entretanto, Guedes faz uma ressalva: "Mas tudo tem de ser feito cuidadosamente, porque somos liberais, mas não somos trouxas, pois, enquanto não completarmos a reforma tributária, não aumentarmos a competitividade da indústria brasileira, não podemos abrir tudo ao mesmo tempo", condicionou.

Ao reforçar o contraponto entre o plano externo e o doméstico, o ministro lembrou que o pouso suave (slow landing) – previsto inicialmente por analistas, no ano passado, no Fórum Econômico de Davos (Suíça) – deu lugar à expectativa de pouso forçado (hard landing), pela combinação de fatores negativos, como a pandemia, o choque de oferta (das cadeias de produção) e, mais recentemente, pela guerra da Ucrânia, situação que deve perdurar, na sua avaliação, por pelo menos 15 anos.

Ao mesmo tempo, a autoridade econômica reconhece que a crise global representa uma grande oportunidade para a reindustrialização brasileira e de reinserção do país nas cadeias de produção, que estão sendo reconfiguradas.

"Estamos falando de segurança energética e segurança alimentar. O Brasil é um gigante verde, é a matriz energética mais limpa e mais diversificada do mundo. Também somos o país com a maior inserção digital, tendo em vista a renovação recente do marco regulatório com a tecnologia 5G", afirmou Guedes, ao acrescentar que "do ponto de vista da segurança energética, a Europa olha para o Brasil como referência da segurança energética, enquanto a Ásia olha para o Brasil como segurança alimentar".

Fazendo coro às declarações recentes da secretaria do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, Guedes destacou que, na atualidade, há dois grandes requisitos para que um país disponha de investimentos internacionais. "O primeiro é um requisito logístico: não adianta fazer semimanufaturados em Taiwan, se a China amanhã tomar Taiwan e bloquear o Pacífico Sul, precisamos garantir que os investimentos estejam próximos é o nearshore – tem que estar perto da gente".

O segundo requisito, acrescenta o ministro, é geopolítico. "Só estar perto também não é suficiente, haja vista a dependência europeia de energia e alimentos da Rússia. Então, além da logística, temos que ser amigos (friendshore). Então apenas nosso país mantém esses dois requisitos, seja com a Europa, a América ou a China, pois o Brasil dança com todo mundo", ao se referir à política externa desenvolvida pelo governo Bolsonaro.

Nesse aspecto, ele acentuou os acordos da atual administração, a exemplo do Mercosul, União Europeia e OCDE, no campo externo, enquanto no plano interno citou as privatizações, a transformação dos bancos públicos, sem contar o papel do BNDES, no sentido de adotar um novo formato para os setores de saneamento e financeiro. Por fim, o comandante da economia nacional lembrou que a atual política econômica conseguiu reverter a perda de 3 milhões de empregos pelas administrações anteriores, para a criação de 12 milhões novos postos de trabalho, agora.

IPC-S tem segunda deflação seguida

Pela segunda semana consecutiva, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-S), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), acusou deflação, ao passar de -0,44%, na terceira quadrissemana de julho, para 1,19%, na quarta.

A variação marca a reversão completa da alta de 0,67%, registrada em junho último. Como resultado, também recuou a inflação acumulado em 12 meses, de 10,31%, em maio, para 8%, no mês passado.

O recuo inflacionário foi muito comemorado pelo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, ao comentar que "o mercado esperava uma deflação de -0,76% no IPC-S, os mais otimistas esperavam -1,12%, mas o resultado foi uma deflação de -1,19%, melhor que a mais otimista das projeções de mercado", afirmou, em postagem nas redes sociais.

Também reforça a tendência o fato de que cinco das oito categorias de despesas, que compõem o indicador tiveram recuo, da terceira para a quarta quadrissemana, em especial, os Transportes (-2,88% para -4,81%); gasolina (-8,61% para -14,24%); Educação, Leitura e Recreação (-1,31% para -4,06%); Habitação (-0,37% para -0,70%); passagens aéreas (-6,92% para -19,81%), tarifa de eletricidade residencial (-3,51% para -5,13%), e altas menores em itens, como frutas (5,90% para 4,85%), roupas femininas (0,37% para 0,04%), alimentação (1,50% para 1,34%) e vestuário (0,59% para 0,47%).