Pirataria incomoda clubes

Por Pedro Sobreiro

A pirataria é um assunto constante nos bastidores do futebol. O esporte demanda gestões profissionais, já que movimenta um mercado bilionário internacional. E uma das fontes de receita mais lucrativas costuma ser a comercialização de produtos oficiais licenciados.

No Brasil e no mundo, a venda de camisa oficiais dos clubes é muito importante para a valorização da marca. Já que um time que vende muitas camisas consegue negociar por valores mais altos novos patrocínios e até mesmo contratos com fornecedoras de materiais esportivos. Entretanto, a questão da pirataria segue incomodando a dirigentes, fornecedores e lojistas, e não parece tão propenso a terminar.

Como o Brasil vive momento de crise, não é todo mundo que pode pagar R$ 249,90 em uma camisa de time. Conforme divulgado pelo IBGE, cerca de 50% da
população brasileira vive com R$ 413 mensais. Com isso, é humanamente impossível um torcedor se manter e ostentar a camisa oficial. Além da questão do preço, a logística não abrange todos os cantos do país. Ou seja, mesmo que a pessoa tenha condições de comprar, ela não tem acesso a uma loja próxima para adquirir o produto.

A grande batalha empresarial é conseguir atingir esse público carente de opções acessíveis e competir com esse mercado ilícito. Na terça-feira (5), a Polícia Militar de São Paulo apreendeu mais de duas mil camisas falsificadas na periferia da capital. Eles ouviram dois suspeitos que afirmaram que o custo de produção das camisas era apenas R$ 1,20. Os produtos eram vendidos a lojistas e camelôs por até R$12. Para os times cujos uniformes são fornecidos por grandes marcas internacionais, como Nike e Adidas, é quase impensável reduzir os preços, já que o valor final é segmentado para várias partes. Porém, eles precisam buscar alternativas mais em conta para atender e agradar a essa parcela do público.

FORTALEZA INOVA

Pensando em todas essas questões, a diretoria do Fortaleza lançou agora em novembro uma camisa oficial do clube que custa apenas R$ 59,90. Ela é visualmente igual ao modelo de jogo, mas passa por um processo mais simples de fabricação. Além de ser mais simples, ela é vendida exclusivamente ao redor do Castelão por ambulantes cadastrados. E quem levar uma camisa falsificada pode trocar por um desconto de R$10. Dessa forma, os vendedores ajudam o clube e a peça exclusiva – não é vendida online – atrai mais gente para os públicos. Como a fornecedora de materiais esportivos é a Leão 1918, que pertence ao próprio clube, a medida foi aprovada com rapidez e vem dando resultado. A diretoria já planeja confeccionar um “bandeirão” antipirataria com as camisas falsas trocadas por descontos.

A Adidas tentou um artifício visual para dificultar a falsificação, que foi a inserção da palavra “mengo” em 3D nas listras vermelhas da camisa I do Flamengo de 2019, como se fosse uma marca d’água. Só que a estratégia não foi muito bem-sucedida e já é bastante comum ver os uniformes piratas à venda com bastante fidelidade visual. Já o projeto “Manto Express” tem obtido resultados expressivos. Inspirado na “Máquina Tricolor Express”, lançada pelo Grêmio em 2018, o Flamengo colocou algumas máquinas daquele formato de vendas de biscoito e refrigerantes em pontos chave, como o Maracanã e a estação de metrô Jardim Oceânico para vender camisas oficiais. O torcedor que quiser apoiar seu time pode escolher entre os três modelos da camisa do Flamengo, disponibilizadas nos padrões masculino, feminino e infantil, e pagar com o cartão de débito ou em até cinco vezes no crédito. Além de levar as camisas até o torcedor, a máquina ainda as entrega em uma caixa exclusiva, aumentando o valor de coleção para quem as comprar.

O futebol é um esporte concebido para ricos, mas renascido entre os pobres. Excluir aqueles que amam seus clubes e querem apoiá-los por conta de sua condição financeira é um retrocesso sem tamanho. Em tempos globalizados, lutar contra a pirataria é um exercício de marketing e sociologia. O torcedor quer participar do clube, mas precisa que o clube consiga trabalhar com as diferentes realidades existentes no país e no mundo.