Um ano em vermelho e preto

Por Ive Ribeiro

O ano de 2019 decretou o fim das “viúvas de 1981”, ou seja, aquela geração inteira de rubro-negros que vivia às sombras das histórias contadas pelos pais e avós sobre o time de Zico e companhia, que conquistou a América e o Mundo. Agora, as viúvas finalmente puderam viver emoções semelhantes, sem intermediários.

O ano começou chamando a atenção pelos R$ 137 milhões (números que constam no balancete do clube nos três primeiros meses do ano) investidos em contratações de peso, como Arrascaeta, Bruno Henrique, Gabigol e Rodrigo Caio. Investimentos que, se por um lado renovaram a esperança dos torcedores, por outro, aumentaram ainda mais o medo de mais um ano de muitos reforços e nenhum título. Para a torcida, a pecha do “cheirinho” precisava acabar.

Isso porque, desde que o clube se reestruturou a ponto de reduzir as dividas e aumentar o poder de investimento, processo que começou em 2013 na gestão de Eduardo Bandeira de Mello, o Flamengo brilhou muito mais administrativamente do que dentro de campo. Até as conquistas em 2019, nesta “nova era” de reconstrução administrativa e econômica, o clube da Gávea venceu apenas três Campeonatos Cariocas e uma Copa do Brasil, acumulando frustrações em vices de Copa Sul-americana e Copa do Brasil, além de ser superado duas vezes (2016 e 2018) pelo Palmeiras na corrida pelo título do Brasileirão.

Já utilizando as planilhas, o resultado foi positivo. A dívida reduziu de R$ 750,7 milhões, em 2013 (números da auditoria Ernst & Young, contratada pelo próprio clube), para R$ 455 milhões ao fim de 2018. Já o faturamento anual, passou de R$ 273 milhões ao fim de 2013 para R$ 538 milhões em 2018. Neste ano, a expectativa é de que o clube supere seu maior faturamento na história - R$ 620 milhões, em 2017. Segundo o economista Cesar Grafietti, consultor do Itaú BBA, há a expectativa de o Flamengo ultrapassar R$ 1 bilhão de faturamento.

O desafio de equilibrar sucesso esportivo com o financeiro sempre foi o principal objetivo do presidente Rodolfo Landim e sua diretoria, que tomou posse este ano. Mas apesar da conquista do Campeonato Carioca, o ano parecia que seria novamente frustrante para os rubro-negros. O técnico Abel Braga não encantava a torcida, e o clube por pouco não foi novamente eliminado na fase de grupos da Libertadores.

E foi a partir da troca de comando técnico que o ano do Flamengo começou a mudar de direção. Com a vinda do português Jorge Jesus e de novos jogadores, como Rafinha, Filipe Luís, Gerson e Pablo Marí, a equipe se acertou e começou a jogar um futebol empolgante. Na primeira partida no Maracanã - sempre lotado em 2019 -, Jorge Jesus e seus comandados aplicaram uma goleada de 6 a 1 diante do Goiás pelo Campeonato Brasileiro.

Entretanto, a eliminação na Copa do Brasil para o Athletico-PR e a derrota para o Emelec (COL) na Libertadores, minaram mais uma vez a confiança dos torcedores em um ano vitorioso. Principalmente na Copa Libertadores, competição que passou a ser sinônimo de vexame dentro da Gávea.

A vitória nos pênaltis, porém, anunciou que os tempos tinham mesmo mudado. E o futebol ofensivo do “Mister” conquistava a cada rodada mais a torcida rubro-negra, que entoava a canção relembrando os feitos do time da década de 80, pedindo aos jogadores de 2019 “o mundo de novo.

Já na Libertadores, as vitórias sobre os gaúchos Inter e Grêmio (este por 5 a 0), garantiram não só a vaga na final, mas a alcunha de melhor time do país. O adversário, todavia, era o River Plate (ARG), campeão da competição em 2018, mas com dois gols nos minutos finais, o Flamengo dominou a América pela segunda vez. E 23 horas depois o Brasileiro também foi ganho, fechando o final de semana mais importante da história do clube. 

Da Libertadores, o mais querido partiu para o Mundial de Clubes, em Doha. No fechamento desta edição, já tinha garantido presença na final - e justamente contra o Liverpool, Será que, para alegria da torcida, a história vai se repetir?