Chefe de gabinete afirma que Trump teve Covid antes de primeiro debate com Biden

O ex-presidente dos EUA Donald Trump teria recebido o diagnóstico de Covid três dias antes do primeiro debate com Joe Biden, em setembro de 2020, segundo reportagem publicada nesta quarta (1º) pelo jornal The Guardian, que teve acesso ao livro de Mark Meadows, último chefe de gabinete do republicano.

A presença do ex-presidente no evento, porém, foi possível porque um segundo teste teria descartado a contaminação. De acordo com Meadows, o primeiro resultado foi comunicado pelo médico da Casa Branca em 26 de setembro, quando o helicóptero do republicano se preparava para decolar para a Pensilvânia. "Impeça o presidente de ir", disse Sean Conley. "Ele teve resultado positivo para Covid."

O aviso coincidia com o fato de Trump parecer "um pouco cansado" e suspeitar de um "leve resfriado". Ao receber a notícia, Meadows teria sido o responsável por informar o então presidente, que já havia decolado. Segundo o chefe de gabinete, embora soubesse que cada candidato era obrigado a "ter um teste com resultado negativo 72 horas antes do início [do debate], nada impediria [Trump] de sair por aí".

O republicano teria então ficado sabendo do resultado do primeiro teste ao conversar por telefone com Meadows, já dentro do helicóptero. Após receber a notícia, o ex-presidente teria reagido com irritação.

O chefe de gabinete, no entanto, informou inicialmente que o vírus havia sido detectado por meio de uma tecnologia mais antiga. Assim, uma segunda análise seria feita em um sistema mais moderno.

Ao retornar a ligação, o resultado negativo foi informado e, segundo Meadows, ele "quase podia ouvir o 'graças a Deus' coletivo que ecoava pela cabine". Ainda conforme o chefe de gabinete, Trump interpretou a notícia como uma "permissão total para prosseguir como se nada tivesse acontecido".

Por outro lado, Meadows destaca em seu livro que "instruiu todos em seu círculo imediato" a tratar o então presidente, durante a viagem à Pensilvânia, como se estivesse infectado pelo vírus.

"Não queria correr riscos desnecessários", escreveu ele, "mas também não queria alarmar o público se não houvesse nada com o que se preocupar -de acordo com o novo teste muito mais preciso, não havia."

Com o teste negativo, Trump então participou do comício naquele dia e do debate três dias depois, organizado pela emissora Fox News. Em nenhum momento, o primeiro teste foi mencionado.

A história alimenta as teorias de que o ex-presidente, então com 74 anos, poderia ter participado do debate contra Biden, na época com 77, infectado pelo coronavírus. No dia 2 de outubro, a Casa Branca anunciou que o republicano tinha contraído Covid-19 e que o resultado havia saído há uma hora.

O apresentador Chris Wallace, da Fox News, que moderou aquele primeiro debate, disse mais tarde que Trump não foi testado antes do evento porque chegou atrasado. Nesta quarta, o ex-presidente negou que estivesse doente no dia. "A história de eu ter Covid antes ou durante o primeiro debate é fake news", afirmou em comunicado divulgado pela diretora de comunicação do republicano, Margo Martin, no Twitter.

Ainda segundo Meadows, que lança na próxima semana o livro "The Chief's Chief" (o chefe do chefe), Trump jogou golfe na Virgínia no dia 27 e organizou um evento para as famílias de militares. A cerimônia, inclusive, foi apontada mais tarde pelo ex-presidente como o potencial momento em que contraiu o vírus.

No mesmo dia, aponta o Guardian, Trump ainda deu uma entrevista coletiva na Casa Branca. Já no dia 28, o republicano conversou com líderes empresariais e falou com jornalistas no jardim da sede do governo americano sobre as ações de combate à Covid-19.

Ataque ao capitólio As revelações de Meadows vêm um dia depois de a Câmara dos Deputados americana dizer que ele forneceu registros e aceitou cooperar com as investigações sobre a invasão do Capitólio, em janeiro, insuflada pelo ex-presidente Donald Trump.

O ex-chefe de gabinete foi convocado pelos deputados, no início de novembro, a prestar depoimento à comissão que investiga o ataque, mas ele não compareceu. A decisão inicial veio em meio aos pedidos de Trump para que seus aliados não cooperassem com o comitê, classificando a investigação de política.