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O moderno dilema da dualidade chinesa

Por: Gustavo Barreto

A ilha de Hong Kong já se viu no olho de diversas tempestades. Seja sob o domínio britânico em 1841 durante a primeira guerra do ópio, durante a ocupação japonesa entre 1941 e 1945, e desde 1997, quando o governo britânico devolveu a localidade aos chineses.

Nesse mesmo ano, Hong Kong conquistou, como parte do tratado de devolução entre ingleses e chineses, sua tão famosa soberania em relação ao resto da assim chamada China continental (esta comandada pela capital Pequim).

Dessa forma, de acordo com os termos estabelecidos a partir de 30 de junho de 1997, Hong Kong teria um sistema judicial próprio, um sistema político multi-partidário, mais liberdade de imprensa e religiosa do que qualquer localidade no continente. Sua soberania apenas estaria limitada em assuntos de política externa e de defesa.

Professor de economia política internacional na UERJ e UVA, Fernando Padovani vê a forte independência de Hong Kong se esvaindo.

- Menos dependente dos mercados financeiros de Hong Kong e diante do irreversível domínio de Shangai como coração financeiro da China, o governo central se vê menos obrigado a manter os privilégios do arquipélago. As manifestações midiáticas parecem ser assim um último recurso dos atores políticos de Hong Kong para manter sua antiga grande autonomia.
Ele prossegue, apontando que o que antes era uma relação simbiótica positiva agora pende muito mais para o lado comunista da balança.

- A balança de poder e econômica parece estar gradualmente se orientando para a China continental, passando Hong Kong a depender mais de Pequim do que o contrário. Seja como for, com a presença de um grande centro financeiro global como Xangai, e da ascensão de Shenzhen a rica e influente Hong Kong nunca pareceu ter sido tão pouco vital para a China; afirma.

A evolução de Xangai tem se destacado tanto em sua largura populacional (mais de 24 milhões de habitantes) e pelo PIB produzido (US$487 milhões). Já a cidade de Shenzhen possui uma população de mais de 13 milhões e um PIB de US$366 bilhões, segundo o portal econômico China Briefing.

Em 2018, segundo os indicadores do portal Trading Economics, o PIB de Hong Kong foi de US$362.99 bilhões, uma quantia abaixo do que a apresentada por seus concorrentes nacionais.

O certo é que a desaceleração de Hong Kong, hoje representando menos de 5% da economia continental, em comparação com a mais passível de intervenção estatal Xangai, além dos protestos recentes acabam por desgastar progressivamente a soberania da região diante dos olhos de Pequim.

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