Rodrigo Bethlem | A trajetória de escolhas erradas de Sérgio Moro

Se eu estivesse participando de um quiz e uma das questões fosse "defina Sérgio Moro em uma palavra", a resposta viria rápido à cabeça: ex! Ex-juiz, ex-superministro da Justiça, ex-presidenciável e ex-candidato a uma vaga no Congresso por São Paulo... Moro, que chegou a ganhar projeção dentro e fora do país, no auge da Operação Lava Jato, foi citado pela revista Time entre as 100 pessoas mais influentes do mundo, vai ter que se contentar com a disputa ao Senado pelo Paraná.

O então juiz virou sinônimo de herói nacional, ao julgar processos da Operação Lava Jato, quando era titular da 13.ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, entre 2014 e 2018. Foram 140 pessoas condenadas por corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e outros crimes. A caneta de Moro sentenciou doleiros, empreiteiros, empresários, diretores da Petrobras e políticos, como o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o ex-presidente Lula.

Deslumbrado com os holofotes que o transformaram em salvador da pátria, Sérgio Moro começou a querer mais e, nesse momento, escolheu ser ex-juiz. Marcaria, então, o início do seu processo ladeira abaixo. Pediu exoneração do cargo de juiz federal, abriu mão de 22 anos de carreira na magistratura e aceitou o convite para comandar o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, logo após as eleições de 2018, quando Bolsonaro foi eleito em segundo turno e convidou-o para integrar o governo. Uma indicação de Moro a uma futura vaga no Supremo Tribunal Federal, também, estaria no pacote. E, a partir daí, começaria a nascer o ex-ministro.

A parceria durou pouco. Moro deixou o governo Bolsonaro em abril de 2020, depois de Bolsonaro exonerar o diretor-geral da Polícia Federal e fazer mudanças na Receita Federal e no Coaf. O ex-ministro conseguiu até gerar uma crise no governo Bolsonaro, que levou à abertura de um inquérito a pedido da Procuradoria-Geral. Cenário ideal para quem tinha pretensões politicas ambiciosas, deve ter pensado ele.

Mas, o papel de herói traído não lhe garantiu ser o mocinho da história. No primeiro ano como ministro, Moro teve sua imagem impactada negativamente com acusações de parcialidade em seus julgamentos como juiz , com vazamento de supostas conversas entre ele o então coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol.

Após deixar o governo, Moro foi ser palestrante e, em novembro de 2020, trabalhou por um ano como diretor na consultoria americana Alvarez & Marsal. Essas atividades profissionais levaram o Tribunal de Contas da União a apurar suspeita de conflito de interesse e possíveis irregulares, já que a empresa era a administradora da recuperação judicial da Odebrecht, desde junho de 2019.
Mais uma vez, Sergio Moro assumia a posição de ex. Agora, o ex-consultor seguia para mais uma empreitada e se filia ao Podemos.

No partido, planejava se lançar como o nome da terceira via nas eleições presidenciais, em 2022. Mas, uma semana antes do fim do prazo para trocas partidárias, anunciou sua saída do Podemos para se filiar ao União Brasil, partido que detém a maior fatia de recursos do fundo eleitoral, mas onde seu futuro político era incerto. O ex juiz sofreu resistências internas e o partido preteriu a candidatura de Moro à presidência e resolveu apoiar Luciano Bivar. Surgia aí o ex-futuro candidato a presidente da República.

Depois de desistir do sonho presidencial, perseguiu uma vaga ao Senado por São Paulo por rejeitar uma vaga pelo Paraná. Mas, fracassou em tentar mudar seu domicilio eleitoral e o Tribunal Regional Eleitoral /SP pediu a sua inelegibilidade. Mais um titulo de ex para o currículo: ex-candidato ao senado pela maior Metrópole do país.

Como não poderá ser candidato a nenhum cargo pelo estado, como estava planejando, o ex-juiz, ex-ministro, ex-consultor, ex-candidato a presidência, ex-candidato ao senado por Sao Paulo, tentará disputar a eleição pelo Paraná.

E, nesse momento, surge mais uma pergunta no quiz: "responda com uma única palavra o que levou Sérgio Moro a tamanha derrocada"? Vaidade é a resposta correta.