O mundo que conhecemos

Por Ruy Castro*

Suponha que o seu cachimbo precisasse de conserto. Bastava levá-lo ao Perito dos Cachimbos, na rua da Quitanda. Ou que o cuco enguiçasse e se recusasse a sair do relógio – era um caso para o Magazine Pallas, na rua da Conceição. Reforma de perucas? Ia-se ao cabeleireiro Waldeck Guimarães, em Copacabana. Chocadeira e descascador de ovos de codorna? Mauro Albuquerque, no Andaraí. Fornecimento de minhocas? Minhocário Arboreum, em Pedra de Guaratiba. E sabe onde se podia – talvez ainda se possa – comprar rapé? No querido Café Lamas, no Flamengo.

Onde aprender dança cigana? No Centro Cultural João Saldanha, em Bangu. E haveria um curso de dublagem para a terceira idade? Sim, o da Casa e Cia. Ariane Dutra, em Botafogo. Escultura em sabão de coco? Casa Arthur, na rua Luís de Camões. E com quem aprender dinamarquês? Com a professora particular Kirsten Corrêa de Mello, contato pelo tel. 21-2512-xxxx. Já comprar a linda camisa amarela, azul e grená do Madureira, só na Butique do Madureira, na rua Conselheiro Galvão.

Quando ainda não se conheciam os efeitos do uso em excesso do celular por crianças, o jeito era dispor de um imunizador de ondas eletromagnéticas (uma pequena placa que se imantava no aparelho), à venda na Vip Rio Informática, na avenida Rio Branco. E, para quem precisasse com urgência de ceroulas, mantôs e protetores de orelha, havia a Loja de Inverno, em Ipanema.

Manutenção de balanças? Avenida Brasil, em Coelho Neto. Pintura personalizada de capacete de moto? Magoo Motos, em São Cristóvão. Aluguel de muletas? Servimed, em Vila Isabel. Luva para segurar peixe? Mercadinho do Papai, na Barra.

Esses eram alguns dos serviços oferecidos num livro delicioso, “Os Endereços Curiosos do Rio de Janeiro”, de Sérgio Garcia, lançado em 2001 pela Panda Books. Acredite ou não, esse mundo existia – e vivíamos nos queixando dele.