Por Ernesto Ventura*
“No capricho”, expressão muito comum de ouvirmos quando alguém pede alguma coisa feita com cuidado, atenção ou com algo a mais. No entanto, parece que vivemos em um país, onde, ao contrário da frequência com que a expressão é utilizada, não há uma real dedicação ao procedimento. Parece que tudo deve ser feito o mais rápido e barato possível, sem muito compromisso com o bem-feito, com o capricho enfim.
Na arquitetura, isso é sentido quando há pedidos para que, ao desenvolvermos um projeto, esqueçamos os detalhes e nos atenhamos ao principal, aos aspectos gerais da obra que será executada, esquecendo-se que é no detalhe que “mora o diabo”, ou onde uma obra, objeto ou produto pode ficar comprometido.
Apenas quando algo não dá certo, não funciona ou se danifica é que se dá atenção ao “detalhe”, quando, por exemplo, uma fachada permite que o ambiente interno se torne um inferno, quando a porta não fecha direito, quando um motor dá pane, quando um aparelho pifa sem explicação, quando um telhado vaza ou quando alguém tropeça no último degrau de uma escada. Em geral, o problema está no detalhe, naquele item que não se deu ou costuma dar importância, mas que é essencial para o bom funcionamento de um objeto, de uma edificação, de um equipamento ou para a harmonia de uma obra seja de um ambiente, uma fachada, ou de uma edificação em seu todo.
É importante entender que o detalhe é sempre aquele aspecto que poderá fazer a grande diferença entre o bem e o malfeito, entre o bom e o mau funcionamento de um equipamento, de um espaço, de um objeto. Dedicar tempo e atenção a eles é obrigação de todos os que têm ou buscam ter compromisso com o capricho, com o bom acabamento, com a harmonia entre os elementos que compõem uma ideia, um projeto, uma obra.
Precisamos atentar para o fato de que detalhes não são supérfluos e que o capricho e o compromisso com o bem-feito devem fazer parte não só de nossa forma de produzir, mas também de viver em sociedade, dedicando em cada ação e atividade um esforço objetivo e honesto na busca de um resultado o mais próximo da perfeição possível. Isto certamente trará um bem-estar maior para todos.
A atenção ao detalhe, ao capricho e ao bom acabamento é o que diferencia o indivíduo e o profissional em sua atividade diária e, ao mesmo tempo, a sua atenção e cuidado com o outro, e isso é capaz de mudar muito o mundo em que vivemos.
*Arquiteto e Urbanista
