Antes de opinar, melhor se informar: já parou para pensar como é a vida na China de verdade? “

Por Sérgio Espeschit*

Muito se fala hoje em dia sobre a China e os chineses. Baseados apenas em notícias e opiniões da imprensa ocidental, as pessoas julgam e avaliam o país e seu povo. O resultado são conclusões superficiais, que não refletem a realidade do dia a dia do que vivenciamos nesta sociedade que está a mais de 16 mil km de nosso país. Seria o mesmo que nos julgar, como cidadãos brasileiros, não pelo o que vivenciamos por aqui,mas sim com base no que a imprensa internacional diz a nosso respeito. Ou até mesmo pelo nível dos assuntos políticos em nosso país nos últimos anos.

Morei recentemente por quatro anos na China. Foi uma experiência incrível e positiva para mim e minha família, tanto que, se a oportunidade de viver por lá novamente apresentar-se um dia, ela seria, com certeza, aceita com muita satisfação. O Povo Chinês nos pareceu respeitoso, divertidamente curioso, extremamente trabalhador e preocupado com a educação de seus filhos.Mesmo com a complicada barreira da língua, sentimo-nos acolhidos na maioria dos momentos.

Se voltarmos um pouco na história, durante a Revolução Cultural e a Grande Fome Chinesa, ocorridas entre o início da década de 60 e meados da de 70, ocorreram momentos de muito sofrimento para a população daquele país. No entanto, em 1978 iniciou-se um novo ciclo de desenvolvimento, conhecido como Reforma e Abertura, sob a liderança de Deng Xiaoping

Nesse sentido, o desenvolvimento da infraestrutura, os ganhos no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas e a retirada da pobreza de milhões (embora ainda faltem muitos milhares). ocorridos nos últimos 40 anos, é algo inacreditável de se constatar. Vou citar alguns exemplos pra que todos tenham uma visão mais realistada China de hoje.A expansão da rede de trens de alta velocidade é um fenômeno sem precedentes em todo o mundo. O metrô de Shanghai, inaugurado na década de 90, já possui mais de 600 km (já em funcionamento) e continua em expansão.A limpeza impecável da maioria das cidades, a construção de modernos e belíssimos parques, a impressionante infraestrutura de transporte público, de hospitais, dentre outros itens importantes são visíveis aos olhos de qualquer expatriado, que viva ou passe por lá, seja a negócios ou a turismo.Uma cidade como Shanghai - com quase 30 milhões de habitantes - é incrivelmente segura, onde qualquer pessoa pode andar sozinha de madrugada sem ser surpreendida por assaltantes ou abordagens violentas, fatos que comumente presenciamos em muitos países e, principalmente, no nosso Brasil.

Também é impossível não ressaltar a capacidade desse país de desenvolver seus próprios valores éticos e culturais, que são aspectos essenciais na evolução de uma nação. Ao longo do tempo, a China desenvolveu um sistema político próprio. Claro que em diversos pontos, existem divergências entre os nossos valores ocidentais e os deles. Porém, o que vi é que muitos desses aspectos, que recebem fortes críticas de brasileiros, não são motivo de preocupação e nem desagradam grande parte da população. Pelo contrário, é notável uma sincera satisfação das pessoas em ver sua vida melhorando e as perspectivas para seus filhos ainda melhores.

É verdade que para chegar ao nível de desenvolvimento de hoje, no qual o meio ambiente virou prioridade e os salários atingiram um certo nível a ponto das fábricas de “baixo custo” estarem se movendo para outros países da região, houve um momento de “vale tudo” para crescer. Talvez não tão diferente do que assistimos nos filmes sobre a revolução industrial na Europa e América.

No Brasil, não temos o direito de nos deslocar livremente em nossas cidades devido ao medo da violência, mas a imprensa é livre. Faz parte da nossa cultura e história. Nossos problemas e nossos desafios.

O Governo chinês, respeitando sua cultura e seus valores, tem procurado melhorar as condições de vida de seu povo da maneira que consideram adequada e eficiente. O Partido Comunista Chinês tem cerca de 100 milhões de membros e como toda organização política, tem sim a ambição de permanecer no poder e ver sua visão de nação acontecer. Grande parte dos seus novos membros são os melhores alunos das universidades. O crescimento da carreira de ‘gestão pública” funciona como em uma boa empresa, com meritocracia, itens de controle, promoções, etc. A consequência, aliada ao fato de existir um real planejamento a longo prazo, é uma gestão de cidades e ambientes públicos muito eficaz. Não quero dizer com isso que não existam problemas; evidente que sim, como em qualquer outro país. Porém, as coisas estão sempre melhorando e a população observa isso constantemente em seu dia a dia.

O fato de potências agirem com o intuito de tentar influenciar os demais países não é novidade. A colonização europeia em vários lugares do mundo e movimentos militares dos Estados Unidos por todo o globo são do conhecimento de todos. Seria inocência pensar que a China não tem este desejo. Mas, se isso será feito no estilo EUA (xerife do mundo, melhor lugar para se viver) ou no modelo de “fazer negócio”, aceitando que cada nação decida o seu regime político,é algo que só o futuro dirá. Eu acredito mais na segunda opção, mas tudo é futurologia...
Enfim, em minha opinião, nós, brasileiros, deveríamos nos preocupar com nosso país e tentar sair desta situação horrorosa de política e gestão. China é um problema dos chineses. E devemos tentar tirar o maior proveito possível dos negócios que podemos fazer com eles.

Se o Chinês aceita,e em grande parte está satisfeito com o sistema deles porque devemos nos preocupar com isso ou ter qualquer preconceito contra os mesmos?

Sérgio Espeschit, consultor de negócios que atuou como executivo em mercados internacionais por cerca de 20 anos, incluindo a China*