Tragédia anunciada

Por Rodrigo Bethlem*

Lamentavelmente, na semana passada, assistimos a mais uma tragédia no Rio de Janeiro: Quinta-feira, dia 03/06, um prédio desabou no Rio das Pedras (Zona Oeste do Rio) deixando dois mortos – um homem de 30 anos e uma criança de 2 – e quatro feridos. 

Todos sabem, inclusive as autoridades, que o imóvel, como tantos outros, era fruto de ocupações irregulares feitas pelo crime organizado nessas regiões – tráfico e milícia.

Não se iludam. Nessas áreas nada é construído sem no mínimo a anuência do poder paralelo.

Não cabe, neste momento, culpar nenhum governo, especificamente. Infelizmente, essa desgraça é o resultado da cultura do carioca.

Já tivemos o poder público , na década de 80, aterrando esta área para que a população ocupasse irregularmente como forma de resolver o problema habitacional. Quanta demagogia!

É preciso passarmos a seguir, minimamente, as regras da cidade, ou vamos continuar convivendo num Rio que não será bom para ninguém. 

Enquanto permitirmos que a demagogia impere, teremos que viver para assistir esse tipo de tragédia.

E, não posso deixar passar esse triste fato sem fazer um alerta ao prefeito Eduardo Paes.
 
Prefeito, o município vai receber uma grande quantidade de dinheiro, vinda da bem-sucedida concessão da Cedae. Use parte dessa verba para realocar essas pessoas. Já passou da hora de o poder público fazer um trabalho sério ali. 

Não estamos procurando culpados para o que aconteceu, mas é necessário e urgente que se faça um estudo criterioso a fim de identificar os prédios que ainda apresentam risco de desabamento e, evitar uma possível tragédia anunciada.

Vivi isso muito intensamente quando fui secretário municipal de Ordem Pública. 

Em 2009, implantei o “Choque de Ordem”. Só na região do Rio das Pedras, demolimos mais de 15 prédios. Fui duramente criticado por isso e tive, inclusive, que mudar minha rotina. 

Passei a andar com segurança, além de ter que aguentar a turma da esquerda, mais notoriamente, do Psol e do PT, dizendo que eu era Capitão do Mato e que o “Choque de Ordem” era contra pobre.
 
Interessante que estes mesmos que protestam, quando ação do poder público impede a expansão imobiliária irregular, agora, dos seus smartphones, postam nas redes sociais uma pseudo indignação com a falta de ação que eles mesmos repudiaram outrora.

Não há solução para o Rio enquanto não mudarmos a cultura da desordem. Não vem de hoje. Criminosos no Rio há muito são tratados como celebridades, e a ação do estado, mesmo sem uma apuração mais profunda é sempre criminalizada, como no caso do Jacarezinho.

*Ex-deputado e consultor político