Se outrora foi o futebol, agora somos o país do BBB

Victor Bello Accioly*

Terminada mais uma edição do Big Brother Brasil, os participantes que mais se destacaram são disputados para estrelarem campanhas publicitárias, especialmente, aquelas voltadas para a base da pirâmide ou mercado de massa. Natural as marcas quererem explorar a popularidade adquirida após meses de exposição intensa nos meios de comunicação e nas redes sociais.

Ocorre que, em um país que parece hipervalorizar as redes sociais, as cifras envolvidas para contratar os queridinhos do público alcançaram números estratosféricos. A título de exemplo, estima-se que a campeã da 21ª edição do programa, Juliette Freire, que alcançou mais de 30 milhões de seguidores no Instagram, pode faturar acima de R$ 30 milhões por ano com contratos publicitários.

Os números são realmente impressionantes, até mesmo para o mundo do futebol, mundialmente conhecido por suas altas cifras e movido pela paixão dos torcedores, que parece ter perdido o encanto de outrora. Diferentemente do que ocorria em um passado não muito distante, o valor das agremiações esportivas encontra-se em baixa para o mercado publicitário.

Vejamos, por exemplo, o caso recente do tradicional Fluminense Football Club que anunciou ter assinado, depois de quase três anos sem patrocinador master estampado em seu uniforme, contrato com uma empresa internacional do ramo de apostas online, por meio do qual receberá cerca de R$ 15 milhões em dois anos.

Ou seja, considerando tais números e mantidas essas condições, teremos todo ano, no campo da publicidade, Juliette 4 x 1 Fluminense, ou melhor, BBB 4 x 1 Futebol. Para quem duvida que o comportamento de nossa sociedade está mudando, observe que, se por um lado, são inúmeros os casos de jogadores famosos e celebridades torcendo publicamente por determinados participantes do reality show; por outro, a audiência dos jogos do Brasil na Copa América, que a contragosto de parte da população está sendo realizada no país, bate recordes negativos.

Engana-se quem avalia o tema como pouco relevante, afinal tal cenário reflete os incentivos que estão presentes em nossa sociedade. Não devemos esquecer, aliás, que segundo a lógica econômica, os agentes econômicos reagem a incentivos, dentre os quais se encontram inseridas tais preferências de mercado.

Assim, enquanto nossa sociedade hipervalorizar, e remunerar melhor, profissões como ex-BBB, youtuber, influencer, etc., teremos menos médicos, engenheiros, cientistas, advogados, professores, entre tantos outros profissionais tão importantes para o desenvolvimento de uma economia e da sociedade como um todo.

*Doutor e mestre em Administração (COPPEAD/UFRJ), é bacharel em engenharia de produção (UFRJ) e em direito (ESCOLA DE DIREITO RIO/FGV). Com experiências profissionais diversas e certificados internacionais na área do mercado financeiro, atualmente é advogado e professor