Arquitetos e Clientes

Ernesto Ventura*

Em diversos ambientes sociais, nós, arquitetos, ouvimos com frequência que contratar um arquiteto é complicado, porque é caro, ou porque somos cheios de restrições, ou porque não fazemos o que o cliente quer, ou por todas as razões acima mencionadas.

Na realidade, devo dizer que cada uma, algumas ou todas as razões apresentadas, muitas das vezes, procedem no seu todo ou em parte. No entanto, não posso me abster também de identificar alguns traços de preconceito, desconhecimento ou mesmo, em alguns casos, de arrogância por parte do cliente, que não se dispõe a buscar conhecer melhor o profissional que pensa em contratar, quando pensa em fazê-lo.

A relação de um profissional, seja ele de que área for, e de seu cliente, deve ser, antes de tudo, uma relação de confiança, e isso se estabelece a partir de comportamentos mutuamente honestos, desde o princípio. Quando buscamos um médico, psicólogo ou dentista, esperamos desses profissionais que sejam honestos conosco, mas também devemos sê-lo com eles, de forma que os tratamentos, suas abordagens e prescrições sejam efetivas e tragam bons resultados.

O mesmo deveria acontecer entre cliente e arquiteto. Ao buscar um profissional, mais que a fama ou a projeção social ou midiática que ele possa ter, deveria ser avaliada também a competência técnica, a qualidade de sua produção, o valor cobrado por seu trabalho. Entretanto, também são importantes sua capacidade de interação com o cliente, sua habilidade para ouvir, compreender e interpretar as suas necessidades e desejos. É importante orientá-lo da maneira mais clara, honesta e transparente na solução do seu problema, seja ele relacionado à construção ou reforma de uma edificação ou um espaço interno ou externo, mesmo que isso signifique, eventualmente, frustrá-lo, ao apresentar riscos, impossibilidades ou inviabilidades financeiras para a realização do desejado.

É sabido que, muitas das vezes, arquitetos são instados a desempenhar papéis semelhantes aos de um psicanalista na percepção e interpretação de sentimentos e desejos de seus clientes. Não à toa, uma amiga, pessoa especial e grande arquiteta, escreveu Arquitetura no Divã, livro no qual relata e reflete sobre seus trabalhos e clientes, a riqueza dessa relação e o grande aprendizado que nos é permitido viver a cada projeto ou obra que elaboramos e executamos ao longo da carreira.

É importante que tenhamos sempre em mente que arquitetos e clientes tendem sempre a desenvolver uma relação mais que comercial, mas, eventualmente, também afetiva, pois ambos têm como objeto a realização de um desejo, um sonho ou, no mínimo, um projeto em que um deles irá habitar, trabalhar ou se divertir. Isso já seria motivo suficiente para uma profunda reflexão sobre quem escolher para pôr à frente dessa missão.

*Arquiteto e urbanista